Doc. N° 2211
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
107 - 2007/3
Resenha
Palmyos da Paixão Carneiro. Ecooperação: a cooperação com o meio ambiente através da teoria quântica. Rio de Janeiro: P. P. Carneiro, 1993, 111 páginas.
Palmyos da Paixão Carneiro, médico, de Ubá, Minas Gerais, foi um exemplo dos idealistas que procuram contribuir para a preservação ambiental e desenvolvimento de um pensamento de orientação ecológica no Brasil. Tendo desenvolvido estudos em várias instituições do Brasil e da Europa, publicou várias obras, entre elas: Cooperativismo médico (1978), Co-operativismo: O princípio co-operativo e força existencial do trabalho (1981); A cooperação (1983), Cooperativismo e autogestão (1983), Ecologia y cooperativismo (1985), Os indígenas de São Januário do Ubá (1991). O livro é apresentado por Maria Dalce Ricas, presidente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente. Salienta que o que conta não é concordar ou não com o exposto na obra, - ela própria se manifestaria contrária à maior parte das idéias do autor -, a obra, porém, surge-lhe como significativa por demonstrar "a inquietude de quem tanto já viveu e que bem pode vislumbrar os riscos que a humanidade enfrenta. A inquietude de quem não se conforma com a poluição dos rios, do ar e do solo. De quem não aceita o 'direito' do ser humano de destruir as demais espécies vegetais e animais que, como ele, têm igual direito à vida." (Apresentação, s/pág.) O autor elucida êle próprio as razões do seu livro. Em 1982, procurara publicar uma obra sobre ecologia baseada nos conceitos econômicos da autogestão e da antropologia. Em congresso dedicado ao cooperativismo, em Buenos Aires, conseguiu sensibilizar a INTERCOOP, e o livro "Ecologia y Cooperativismo" foi lançado em castelhano, em 1985, com um prefácio de Augusto Ruschi. Em 1984, apresentou uma proposta ao I Congresso Doutrinário Continental da Organização das Cooperativas da América, realizado em Brasília. Definia a cooperação como sendo "um princípio de economia social que permite ao homem administar e transformar, diretamente, os bens produzidos pela natureza de tal maneira que os resultados retornem a ambos, sem prejuízos" (pág. 16). Na sua Ecooperação, procura divulgar os problemas ambientais com uma fórmula de economia social. Para êle, a única possibilidade para a solução de problemas ambientais residiria numa revolução cultural que mudasse um processo econômico. O livro compreende os seguintes ítens: 1. Prefácio; 2. A casa; 3. A teoria quântica; 4. A concepção cartesiana; 5. Desenvolvimento sustentável; 6. O esquentamento da terra; 7. Rio 92; 8. Uma tecnologia saudável; 9. Desenvolvimento e ecologia; 10. A mulher; 11. Educação ambiental; 12. Energia; 13. A Amazônia; 14. Política ecológica; 15. Produtividade; 16. Biodiversidade; 17. Quem paga o pato?; 18. O amor e a técnica; 19. A administração da Casa; 20. Ecooperação. Entre os pensamentos do autor, salienta-se a sua convicção de não ser possível "dividir o pensamento físico e metafísico". Daí se concluiria que "o princípio criador está intrínseco à matéria, como o é a natureza" (pág. 10). Para êle, a educação ambiental deveria ser sistematicamente introduzida nas escolas (pág. 49) e uma política ecológica representaria uma necessidade urgente; no raciocínio político, a natureza fora "escamoteada como se fosse um bem perene, sempre à nossa disposição, sem limitações e sem reações." (pág. 63). Duas posições seriam indispensáveis:" 1) a definição de um princípio cooperativo como base de uma nova doutrina econômico-social; 2) considerar na equação do princípio cooperativo o trabalho e a natureza como integrantes do produto social ao qual serão devolvidos os resultados, expurgados das doenças do capital." (pág. 101) Essa publicação, na sua disposição interna, na consideração eclética e nem sempre exata de diferentes teorias, hipóteses e conceitos de diversas áreas disciplinares e épocas, no estilo coloquial de vários trechos, na argumentação muitas vezes episódica e na falta de referências bibliográficas não se apresenta como modelar do ponto de vista metodológico. É obra de cunho científico-popular e poderia ser ela própria considerada como objeto para estudos culturais. Sob esse aspecto, porém, surge como um documento de alto significado, constituindo um testemunho da consciência dos problemas ecológicos, do seu relacionamento com processos culturais e da necessidade de desenvolvimento de edifícios teórico-culturais adequados. As idéias principais do seu autor poderiam ser retomadas e desenvolvidas à luz dos debates teóricos atuais. Devido a seu significado histórico no desenvolvimento do pensamento cultural de orientação ambientalista e a atualidade de muitas das posições defendidas, justifica-se a consideração dessa publicação já antiga neste órgão.
A.A.Bispo