Doc. N° 2238
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
108 - 2007/4
Publicações em revista
Guia Acervo Curt Lange
Guia Acervo Curt Lange, Guía Acervo Curt Lange, Guide Acervo Curt Lange / Organização de André Guerra Cotta; Traducción al español Pablo Sotuyo Blanco; English version Tom Moore. - Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. 96 p.;il. ISBN 85-7041-502-8 A.A.Bispo A publicação, de cuidadosa elaboração e excelente apresentação visual, é dedicada ao compositor José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, no bicentenário de seu falecimento, e a Francisco Curt Lange, a quem se deve o reconhecimento da obra musical do referido compositor. O livro foi redigido entre janeiro e setembro de 2005. Baseou-se no trabalho de várias equipes que atuaram no Acervo Curt Lange entre 1999 e 2004. O Guia é resultado do projeto intitulado Conservação e Instalação Definitiva do Acervo Curt Lange - UFMG, patrocinado pela PETROBRÁS e realizado, através da FUNDEP, pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Minas Gerais. No Guia encontram-se informações gerais sobre o Acervo, características básicas da documentação, histórico de sua formação, sua localização, regulamento para acesso e utilização, "enfim, informações que permitirão ao pesquisador em potencial compreender sua natureza e seu conteúdo, visualizar possibilidades de trabalho sobre ele, familiarizar-se minimamente com o acervo antes mesmo de uma visita."O Guia destina-se sobretudo a estudiosos no campo da musica, sobretudo da musicologia latino-americana.(pág. 25) O guia compreende os seguintes ítens: Introdução; Nota biográfica sobre Francisco Curt Lange; O Acervo; Série 1 - Coleção bibliográfica; Série 2 - Correspondência; Série 3 -Vida; Série 4 - Partituras; Série 5 - Instrumentos musicais; Série 6 - Instrumentos de trabalho; Série 7 - Registros audiovisuais; Série 8 - Iconografia; Série 9 - Documentos raros; Série 10 - Documentos de pesquisa; Série 11 - Catálogos, programas e similares; Série 12 - Homenagens; Série 13 - Lembranças; Regulamento; Equipe; Referências bibliográficas. Na introdução, parte-se da constatação que Francisco Curt Lange foi, antes de mais nada, um cidadão latino-americano, um pioneiro no estudo da música de outros pioneiros, sobretudo os compositores da época colonial. Ao falecer, deixou um considerável acervo constituído por mais de 100.000 documentos e objetos, hoje conservados em Minas Gerais. Esse material vem sendo estruturado desde 1995. Agora, é colocado à disposição de estudiosos e interessados. A apresentação termina com a afirmação de que um país que não preserva sua memória dificilmente será um paíss desenvolvido. Curt Lange teria resgatado parte fundamental da história da música do país e este deveria merecer essa memória. O diretor da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa - Fundep -, instituída em 1975, José Nagib Cotrim Árabe, após expor que a tarefa da instituição é apoiar projetos desenvolvidos pela Universidade Federal de Minas Gerais, salienta que projeto em causa se destacaria pelo seu caráter interdisciplinar e pelo seu intuito de preservação da memória cultural. A sua organização seria apenas um início e a sua instituição continuaria disponível para gerenciar outros projetos a ela relativos. A reitora da UFMG, Ana Lúcia Almeida Gazzola, Universidade que, através da Biblioteca Universitária, torna acessível ao público o Acervo Curt Lange, salienta, entre outros pontos, que a numerosa correspondência de Curt Lange não só espelha parte significativa da cultura brasileira no século XX como também, nas suas amplas relações internacionais, aspectos importantes do desenvolvimento da música e da musicologia. Por sua vez, a diretora da Biblioteca Universitária da UFMG, Simone Aparecida dos Santos, considera o Guia como um coroamento do trabalho realizado por professores, pesquisadores, servidores e estagiários ao longo de uma década. Como responsável pelo Acervo Curt Lange, menciona que sempre houve um empenho pleno da Universidade em oferecer condições adequadas para a conservação, divulgação, para o tratamento técnico apropriado e para a segurança do material. Salienta o trabalho de André Guerra Cotta, do conservador Mário Sousa Júnior e da bibliotecária Marlene de Fátima Vieira Lopes. Em nome do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis - CECOR, órgão complementar vinculado à Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, a sua diretora, Bethania Reis Veloso, menciona que o tratamento de intervenção de conservação possibilitou a revitalização de diversos materiais que se encontravam em estado de degradação; além do tratamento executado nas obras, a intervenção incluiu atuação nas condições ambientais do local em que o acervo se encontra localizado. Como conservador-restaurado, Mário Sousa Júnior salienta que o Acervo é constituído por uma varieda gama de materiais. Os trabalhos de conservação deram prioridade à limpeza, ao acondicionamento e à guarda adequada dos documentos. Uma nova área preparada para receber o acervo dentro da Biblioteca Universitária foi convenientemente mobiliada. O coordenador geral do projeto, André Guerra Cotta, lembrando que o Guia representa um pequeno instrumento de difusão publicado pelo Acervo, diz que apenas tornou-se possível através do trabalho de muitas pessoas, mencionando especialmente Rosângela Pereira de Tugny. Representaria a conclusão de uma etapa inicial de organização e instalação do acervo. Com ela, ao mesmo tempo, inaugurar-se-ia uma segunda etapa em que essa difusão se ampliará em instituições ligadas à pesquisa e ao ensino. Dessa difusão espera-se avanços na produção de conhecimento. Em materiais de divulgação anteriormente publicados já se tinha salientado o significado do Acervo Curt Lange e os processos que foram seguidos para a sua instalação adequada. Assim em folheto sobre o Acervo publicado pela Biblioteca Universitária da UFMG, destacou-se que um fator determinante nos trabalhos referentes ao acervo foi a "política de tratamento de informação e de gerenciamento dos serviços oferecidos pelo Sistema de Bibliotecas da UFMG. O software adotado, o VTLS, utiliza o formato bibliográfico USMARC para a entrada de dados. Este formato, internacional e integrado, permite tratar qualquer tipo de material bibliográfico, como também acervos arquivísticos. Um dos princípios do software VTLS é proporcionar a visão de uma base bibliográfica única, com possibilidade de interface local e através de imagens, sonoros, entre outros. Dentro do formato USMARC, foram utilizados padrões para definir o conteúdo dos elementos de dados, no caso, a norma da descrição arquivística General International Standard for Archival Description - ISAD(G)." Em versão precedente do guia, o leitor é informado sobre o quadro de colaboradores e bolsistas que atuaram sob a coordenação de Rosângela Pereira de Tugny. Entre os bolsistas, surgem os nomes de Adélia Costa Soarres (Ciência da Informação UFMG), Joicely Moreira Agenor (Ciência da Informação, UFMG) e Ricardo Teixeira Vilar (FAFICH UFMG, História). Entre os colaboradores, André Guerra Cotta (Mestre em Ciência da Informação), Jacqueline Pawlowski Oliveira (Técnica em Informática), Marlene Viera Lopes (Bibliotecária) e Vilma Moreira Santos (Doutora em Arquivologia). No texto dessa versão do guia, lê-se: "Quando da aquisição de seu arquivo pela UFMG, pouco antes de sua morte, Curt Lange manifestou sua intenção de criar, em torno desta documentação, um Instituto de Musicologia, reunindo pesquisadores de áreas diferenciadas e criando condições básicas para que se desenvolvessem trabalhos na área de musicologia, dando continuidade à sua obra" (pág. 2) Essa informação, porém, sem maiores elucidações relativas aos pressupostos da vinda do acervo a Minas Gerais e sobretudo do projeto de criação de um instituto de musicologia pode dar ensejo a visões históricas que não correspondem aos fatos. O autor desta resenha teve a oportunidade de manter contactos particularmente estreitos com Curt Lange desde o início da década de 70, colaborar na publicação de vários de seus trabalhos, promover conferências e cursos em instituições européias, organizar debates com pesquisadores brasileiros, com êle desenvolver projetos e, sobretudo, de tê-lo como hóspede nas suas estadias na Alemanha, o que possibilitou longos convívios, inúmeras horas de trabalho conjunto e de trocas-de-idéias, assim como o estabelecimento de relações de cunho familiar. O autor está assim perfeitamente informado a respeito do conteúdo do acervo agora conservado em Minas Gerais, cujos muitos materiais teve a oportunidade de manusear e até mesmo em alguns casos de ter temporariamente sob os seus cuidados. Conhece, sobretudo, o desenvolvimento das idéias e os esforços que levaram a ida desses materiais a Minas Gerais, uma história que não apresenta apenas aspectos positivos, livres de embaraços e motivos não-idealísticos, sem ressentimentos e animosidades. Quanto ao instituto de musicologia, Curt Lange estava perfeitamente informado a respeito do Centro de Pesquisas em Musicologia fundado e registrado em São Paulo, em 1967, origem do atual IBEM como centro de estudos do ISMPS, e dos esforços realizados para desenvolvê-lo adequadamente com a sua integração no trabalho musicológico internacional, em particular através de uma estreita colaboração com a Alemanha. Conhecia também o projeto e as tentativas efetuadas no sentido de instalar o instituto de musicologia no âmbito universitário, o que levou, entre outros, a um encontro internacional especificamente organizado para discutir as possibilidades de sua realização em Petrópolis, em 1981. Desejando, porém, que o desenvolvimento institucional da musicologia no Brasil estivesse vinculado diretamente a seu próprio nome, ou melhor, a uma corrente histórica da pesquisa no Brasil que se prende a seu trabalho, procurou estabelecer um instituto de musicologia primeiramente na Universidade de Brasília sob a direção de um brasileiro, ou seja, do autor destas observações (18 de dezembro de 1978). A mesma intenção foi expressa com relação ao projetado instituto a ser criado em Minas Gerais (24 de março de 1981; 10 de abril de 1985 e outras). A história da vinda do acervo para Minas Gerais não pode ser apresentada sem considerar as circunstâncias difíceis que Francisco Curt Lange teve em encontrar um comprador para os seus materiais sob as condições que desejava, ou seja, mantendo-os sob a sua supervisão, apesar de sua idade avançada, e que o levou a mudar-se para a Venezuela. As circunstâncias que acompanharam essa mudança e suas relações com o Brasil são também por demais complexas e sensíveis para serem tratadas simplesmente através dos documentos enviados para Minas Gerais. Muitos dos fatores que intervieram nas decisões foram tratados à viva voz ou em telefonemas. Sobretudo, porém, não se pode partir da idéia de que a volumosíssima correspondência de Curt Lange, apesar do admirável sentido documentário que o seu autor teve em perpetuar a sua história conservando as suas cartas e enumerando-as, ofereça uma visão completa dos fatos. Como o autor conviveu com Curt Lange no quotidiano de seu labor de correspondente, com êle também correspondendo assiduamente, sabe que nem todas as cartas foram arquivadas e que muitas notícias mais sensíveis ou familiares foram escritas à mão na versão enviada e não arquivadas. A correspondência de Curt Lange, indiscutível no seu valor para os estudos da história da musicologia das Américas no século XX, deve ser considerada com especial cuidado. Ela não só não apenas representa uma única corrente do desenvolvimento histórico do pensamento musicológico. Devido às características de temperamento, de personalidade, de extraordinária consciência de valor próprio do musicólogo, talvez devido também à época e ao ambiente de sua educação alemã e ao processo de sua integração na América Latina a partir do mundo de fala hispânica, as suas cartas, escritas em geral ao sabor da pena, apresentam expressões e avaliações da personalidade e de obras de outros pronunciadas e fixadas com sinceridade nem sempre comedida e cuja divulgação poderia prejudicar seriamente a harmonia do ambiente de trabalho científico. No caso do Brasil, sobretudo opiniões manifestadas a respeito de pesquisadores nacionais à época da formação da Sociedade Brasileira de Musicologia incluem considerações ofensivas quanto a qualidades profissionais e humanas, ao caráter de nomes prestigiados no país, opiniões estas expressas por Curt Lange em correspondência dirigida ao autor destas observações e mesmo a instituições internacionais e institutos europeus de musicologia. Essa correspondência, conservada nos arquivos pessoais e do IBEM/ISMPS, foi sempre mantida com o devido sigilo e não-considerada nas opiniões nela expressas, embora a sua divulgação poderia testemunhar a história dos cuidados éticos, de justiça e de restabelecimento da harmonia tomados à época da fundação daquela sociedade e corrigir visões errôneas que pesquisadores brasileiros mais jovens parecem possuir do verdadeiro desenrolar dos fatos e de situações de relacionamento entre historiadores da música de décadas passadas. Essa renúncia à quebra do sigilo da correspondência também se espera agora da instituição mineira. Considerando-se que alguns dos autores mais duramente criticados profissional- e moralmente por Curt Lange aind se encontram vivos, tendo formado estudantes e grupos de pesquisadores agora atuantes e que os consideram, a correspondência que inclui tais menções não deveria ainda ser colocada à disposição do público. Além da questão da responsabilidade pela harmonia das relações profissionais, muitas dessas cartas - sobretudo as respostas - foram escritas como correspondência pessoal e quase que familiar, confidencial, e não com a intenção de formarem um acervo para ser vendido e colocado à disposição pública. O Acervo Curt Lange teve a gentileza de enviar um exemplo do sua admiravelmente bem elaborada publicação à biblioteca do IBEM/ISMPS. Estas instituições, com o material que guardam, e através do autor destas observações, agradecendo, colocam-se à disposição para fornecer orientações à leitura de documentos a partir de pressupostos não manifestos nas fontes.