Doc. N° 2281

Emblema ABE

Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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Recensão

SILVA, Paula Correia da, O Convento da Graça de Torres Vedras. A comunidade eremítica e o património. Torres Vedras: Câmara Municipal/Livro do Dia, 2007 ­ 172 pp.

Jorge Gonçalves Guimarães

Em Portugal, após a extinção das ordens religiosas, em 1834, só no ano de 1973 se assistiria ao regresso dos Agostinhos. Um retorno demorado e com fraca expressão que, de alguma forma, poderá esclarecer a pouca atenção que a historiografia portuguesa têm dedicado ao estudo desta ordem religiosa que contou entre os seus membros com figuras tão referencialmente importantes como Frei Gaspar do Casal e Frei João Soares, ambos participantes no Concílio de Trento, Frei Aleixo de Meneses, Arcebispo de Goa e de Braga, chegando mesmo a ser vice-rei de Portugal, Frei Sebastião Toscano, autor da célebre Mística Teologia, Frei Tomé de Jesus, confessor de D. Sebastião, que escreveu os não menos conhecidos Trabalhos de Jesus, ou o Beato Gonçalo de Lagos, personagem em torno da qual se organizam elementos fundamentais das identidades locais de Lagos e Torres Vedras.

Este inaugural e promissor trabalho de Paula Correia da Silva - cuja publicação os interessados e estudiosos não podem deixar de saudar com especial entusiasmo, não só pelo valoroso conteúdo no que diz respeito à história daquela ordem religiosa, como também, particularmente, pelo preenchimento de uma lacuna no magro universo dos estudos relativos do património religioso edificado da actual cidade da Estremadura oestina portuguesa ­ assume especial interesse se tivermos em conta que no século XVI o convento em questão chegou a ser, no que pode ser designado como hierarquia das casas conventuais, o sexto da Província Portuguesa. Se outro motivo faltasse, bastaria ainda recordar que o Convento da Graça, em Torres Vedras, foi residência dos já citados Frei Aleixo de Meneses, entre 1588 e 1590, altura em que no exercício do seu priorado deu significativo impulso aos trabalhos de construção, e de Frei Gonçalo de Lagos, um religioso medieval cuja fama de santidade tardiamente vazada em sucessivos textos hagiográficos mereceria, já no século XVIII, a sua beatificação.

A tudo isto soma-se a valorização - numa altura em que se nos afiguram como cada vez mais importantes o (re)despertar dos sentimentos de pertença a um espaço e a consolidação das identidades regionais - de um importantíssimo património religioso local.

Centremos finalmente a atenção na obra de Paula Correia da Silva, um trabalho difícil porquanto - como será certamente consabido por todos quantos se dedicam ao estudo da história desta ordem religiosa - para o caso da Província de Portugal dos Eremitas de Santo Agostinho a documentação que sobreviveu às vicissitudes do tempo e da história, além de dispersa por diversos arquivos, não é abundante, situação que, neste trabalho esclarece um menor grau de desenvolvimento para o período anterior ao século XVIII, mas que de forma alguma diminui o seu interesse e importância. Com efeito, apoiada em abundante bibliografia e numa multiplicidade de fontes documentais, algumas das quais, com meticuloso critério de selecção, são transcritas no final do volume, a autora, ao longo de dez capítulos, cuja apresentação exaustiva não cumpre fazer neste espaço, apresenta, numa economia textual cuidadosamente organizada, dois grandes temários. O primeiro, correspondendo aos três primeiros capítulos, desenvolve noções fundamentais em torno da espiritualidade agostiniana e apresenta uma notável síntese história da ordem em Portugal desde a Idade Média. Num segundo andamento, já centrado no convento, frequenta-se uma qualificada e abrangente investigação que do arquitectónico ao económico, do biográfico ao cultural, transforma este interessante livro numa obra de consulta obrigatória.

A encerrar, embora não menos importante, uma justíssima nota de louvor para a Câmara Municipal de Torres Vedras que nos últimos anos, ininterruptamente, tem vindo a editar valorosos estudos cujo interesse ultrapassa as fronteiras do local.