Doc. N° 2308
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
112 - 2008/2
Refocalizações da História dos Descobrimentos sob impulsos do Mercosul Superação de perspectivas nacionais ibéricas e re-construções históricas Fernando de Magalhães
Punta Arenas, Chile. Trabalhos da A.B.E. 2008
A.A.Bispo
Punta Arenas, Chile. Monumento e Museu F. de Magalhães Jornadas da A.B.E., 2008. Fotos A.A.Bispo Roberto Lavagna, da Universidade de Buenos Aires, em texto publicado em Mercorsul: Um Atlas Cultural, Social e Econômico (Buenos Aires/Rio de Janeiro, 1997), levantou a questão do "porquê de um olhar de 500 anos". "O avanço permanente do processo de integração iniciado em 1986, pela Argentina e pelo Brasil, e ampliado, em 1991, para o Uruguai e o Paraguai, sob a denominação Mercosul, exige um crescente conhecimento mútuo dos seus agentes. (...) Cada um desses fatores opera sobre um pano de fundo: o processo histórico, incluindo desde os valores e a cultura até a trajetória de desenvolvimento de cada uma de suas partes componentes. (...) ("Uma Visão Histórica Comparada do Desenvolvimento da Argentina e do Brasil", op.cit., págs. 96-117)
Na mesma publicação, Rosendo Fraga diretor do Centro de Estudos União para a Nova Maioria, Argentina, tratando da "Evolução Histórica dos Países do Mercosul", salientou a existência de traços comuns e de diferenças no desenvolvimento histórico iniciado com as viagens dos Descobrimentos (op.cit. 90-95):
"Ao longo de cinco séculos, os quatro países que formam o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) tiveram um desenvolvimento histórico com semelhanças e diferenças. O descobrimento se inicia nos primeiros anos do século XVI, quando navegantes portugueses e espanhóis chegam a essas terras tomando-as em nome dos reis de ambos os apíses. (...) Pedro Álvares Cabral é o primeiro português que chega ao Brasil em 1500, Juan de Solís o primeiro espanhol que chega à Argentina e ao Uruguai em 1516. No caso do Paraguai, chega primeiro o português Alejo García, em 1525, e o navegante Juan Caboto em nome da Espanha dois anos depois". (pág. 90)
Releituras dos Descobrimentos
As viagens dos Descobrimentos desempenham papel de fundamental importância nos estudos histórico-culturais em dimensões globais. Sobretudo os países ibéricos desenvolveram a área de estudos específica, caracterizada por volumosa e diferenciada literatura, pela realização de encontros, por exposições, cursos e conferências.
O significado das viagens das Descobertas para Portugal e Espanha explica o fomento de projetos e estudos, e sobretudo o interesse particular por determinados empreendimentos, fatos e correntes mais relevantes para as respectivas nações.
A reflexão teórica relativa a questões de perspectivas e métodos da historiografia dos Descobrimentos tem sido enriquecida em debates e aportes interdisciplinares. Nessa discussão, tem-se salientado há muito a necessidade de superação de enfoques determinados por visões nacionalistas do passado. A A.B.E. vem freqüentemente cooperando com o desenvolvimento dessa discussão através de cursos e eventos. Para os países colonizados pelas nações ibéricas, esse debate assume relevância histórica fundamental, pois diz respeito à época dos primeiros contatos dos nativos com os europeus e , assim, ao início do processo colonial. Receberam, porém, em grande parte visões herdadas das respectivas metrópoles, fato também determinado pela literatura nos idiomas correspondentes.
Também nesses países se coloca, assim, a questão da superação de limitações criadas pela escolha particular de fontes, nomes e ocorrências segundo pontos-de-vista nacionais portugueses e espanhóis. Assim, no Brasil, quando se trata das viagens e dos cronistas da época dos Descobrimentos, tem-se presente nomes e fatos distintos daqueles que surgem na literatura histórica dos países hispano-americanos. Vultos históricos de países vizinhos, mas pertencentes à esfera do idioma espanhol são pouco conhecidos no Brasil, e vice-versa.
Este problema da História da América no Brasil, passa, com o interesse despertado pelo Mercosul, a mostrar-se também como problema para a História do Brasil. Os estudiosos que se dedicam a questões culturais relacionadas com o Mercosul têm salientado a necessidade de considerações mais aprofundadas do processo histórico na visão do outro e, sobretudo, de um interesse histórico por fatos, nomes e ocorrências comuns. Somente assim é que se poderia lançar as bases de uma gradual reconfiguração histórica do passado e de uma história futura fundamentada em valores de união e não de separação.
Uma consideração da história dos Descobrimentos sob o enfoque cultural e intercultural revela não apenas a participação de homens das mais diversas nações nos empreendimentos como também a mudança de nações a quem prestavam serviço. Isso vale para Colombo, vale também para um Fernando de Magalhães. O direcionamento da atenção para esses aspectos da História dos Descobrimentos pode contribuir para a superação das limitações hoje sentidas.
É compreensível, por exemplo, que o responsável pela primeira viagem de circumnavegação do globo seja relativamente pouco considerado em Portugal e no Brasil. A razão reside sobretudo no fato de ter realizado o seu empreendimento a serviço da Espanha, embora fosse português e tivesse antes atuado na esfera portuguesa.
Fernando de Magalhães (Magallanes, Magellan), nasceu em Sabrosa (Trás os Montes) (ou Porto) ao redor de 1470/1480 e morreu na ilha Mactan (Filipinas), a 27 de abril de 1521. Inicialmente esteve a serviço de Portugal, a partir de 1517 da Espanha. Em 1505, F. de Magalhães, então pagem da rainha, tomou parte na esquadra de 22 caravelas de Francisco d'Ameida, a maior expedição até então enviada à Índia, já não mais com o principal intuito de descobrimento e comércio, mas de segurança da costa da África e conquista da supremacia portuguesa na Índia. Tratava-se, portanto, de um empreendimento militar. Já em combate com os árabes, ao norte de Calicut, foi ferido e teve de ser enviado a Portugal. Em 1508, obteve o comando de uma frota que deveria explorar a Málaca, centro do comércio de especiarias. Em setembro de 1509, no porto de destino, apesar do comércio que então florescia, Magalhães, com a sua experiência da Índia, advertiu o seu comandante dos perigos de ataque dos nativos àqueles que desembarcaram, o que de fato ocorreu. Conseguiu, num ato de coragem, salvar o seu amigo Francisco Serrão. Por esse ato, foi elevado a oficial. Em 1511, encontrava-se numa das naves que conseguiram tomar Malaca, distinguindo-se também aqui militarmente. Teria desejado continuar a viagem às ilhas de especiarias com Francisco Serrão, recebeu porém a ordem de regressar. Em 1512, foi enviado ao Marrocos, não se adaptou porém ao serviço militar de terra, desentendendo-se com os correligionários. Após um ferimento, foi dispensado do exército. Decidiu-se dirigir ao rei com o pedido de um comando na marinha. Na audiência no palácio real, ao ouvir a negação a seu pedido, perguntou se poderia oferecer os seus serviços a outro país, uma vez que Portugal dele não precisava. O rei respondeu-lhe que tal ato seria para êle indiferente. Assim como ateriormente Colombo, Magalhães atravessou a fronteira para a Espanha. O plano de Magalhães era o da cirumnavegação do mundo, ou seja, o de descobrir uma passagem para o Pacífico pelo Ocidente. Após o estudo cuidadoso de mapas e relatos, estava certo de que o continente se abria a 40° de latitude sul. Se se descobrisse essa passagem, então o caminho para as ilhas das especiarias seria muito mais curto do que pelo Cabo da Boa Esperança. Carlos V° colocou a disposição do empreendimento cinco navios e provisões para dois anos. Em 1518, assinou-se um contrato, no qual o imperador elevava o navegante a Admiral e Capitão General. A frota, porém, não correspondia às necessidades e a partida teve de ser adiada. Dos 265 expedicionários, 37 eram portugueses, havendo ao redor de 30 italianos, 19 franceses, além de flamengos, bascos, alemães, ingleses, gregos, africanos e malaios. A esquadra saiu de Sevilha a 10 de agosto de 1519. No dia 13 de dezembro, festa de Santa Luzia, alcançou a baía do Rio de Janeiro. No dia 26 de dezembro de 1519 partiram do Rio em direçao sul. Primeiramente julgou-se que a desembocadura do La Plata fosse a procurada passagem. No dia 31 de março de 1520, os navegantes ancoraram na baia de S. Julião. Quando a tripulação soube da intenção de ali invernarem, arrebentou uma revolta; os capitães responsáveis foram abandonados em terra, sendo um deles decapitado. Partindo em fins de agosto de 1520, em viagem difícil, em mar tumultuoso. deu-se continuidade à expedição. Com três dos navios restantes atravessou essa rota, entrando no Oceano Pacífico, no dia 28 de novembro. Após três meses e 20 dias Fernando de Magalhães alcançou as ilhas dos ladrões (Marianas) e, logo após, as ilhas de S. Lázaro, nas Filipinas. Ali caiu em combate com os nativos. O seu sucessor, o basco J. S. Elcano deu continuidade à viagem. A nave Victoria, percorrendo o arquipélago malaio, o oceano índico e o Cabo da Boa Esperança, alcançoua Espanha no dia 6 de setembro de 1522. Punta Arenas
Fernando de Magalhães (Magallanes, Magellan), nasceu em Sabrosa (Trás os Montes) (ou Porto) ao redor de 1470/1480 e morreu na ilha Mactan (Filipinas), a 27 de abril de 1521. Inicialmente esteve a serviço de Portugal, a partir de 1517 da Espanha. Em 1505, F. de Magalhães, então pagem da rainha, tomou parte na esquadra de 22 caravelas de Francisco d'Ameida, a maior expedição até então enviada à Índia, já não mais com o principal intuito de descobrimento e comércio, mas de segurança da costa da África e conquista da supremacia portuguesa na Índia. Tratava-se, portanto, de um empreendimento militar. Já em combate com os árabes, ao norte de Calicut, foi ferido e teve de ser enviado a Portugal. Em 1508, obteve o comando de uma frota que deveria explorar a Málaca, centro do comércio de especiarias. Em setembro de 1509, no porto de destino, apesar do comércio que então florescia, Magalhães, com a sua experiência da Índia, advertiu o seu comandante dos perigos de ataque dos nativos àqueles que desembarcaram, o que de fato ocorreu. Conseguiu, num ato de coragem, salvar o seu amigo Francisco Serrão. Por esse ato, foi elevado a oficial. Em 1511, encontrava-se numa das naves que conseguiram tomar Malaca, distinguindo-se também aqui militarmente. Teria desejado continuar a viagem às ilhas de especiarias com Francisco Serrão, recebeu porém a ordem de regressar. Em 1512, foi enviado ao Marrocos, não se adaptou porém ao serviço militar de terra, desentendendo-se com os correligionários. Após um ferimento, foi dispensado do exército. Decidiu-se dirigir ao rei com o pedido de um comando na marinha. Na audiência no palácio real, ao ouvir a negação a seu pedido, perguntou se poderia oferecer os seus serviços a outro país, uma vez que Portugal dele não precisava. O rei respondeu-lhe que tal ato seria para êle indiferente.
Assim como ateriormente Colombo, Magalhães atravessou a fronteira para a Espanha. O plano de Magalhães era o da cirumnavegação do mundo, ou seja, o de descobrir uma passagem para o Pacífico pelo Ocidente. Após o estudo cuidadoso de mapas e relatos, estava certo de que o continente se abria a 40° de latitude sul. Se se descobrisse essa passagem, então o caminho para as ilhas das especiarias seria muito mais curto do que pelo Cabo da Boa Esperança. Carlos V° colocou a disposição do empreendimento cinco navios e provisões para dois anos. Em 1518, assinou-se um contrato, no qual o imperador elevava o navegante a Admiral e Capitão General. A frota, porém, não correspondia às necessidades e a partida teve de ser adiada. Dos 265 expedicionários, 37 eram portugueses, havendo ao redor de 30 italianos, 19 franceses, além de flamengos, bascos, alemães, ingleses, gregos, africanos e malaios. A esquadra saiu de Sevilha a 10 de agosto de 1519. No dia 13 de dezembro, festa de Santa Luzia, alcançou a baía do Rio de Janeiro. No dia 26 de dezembro de 1519 partiram do Rio em direçao sul. Primeiramente julgou-se que a desembocadura do La Plata fosse a procurada passagem.
No dia 31 de março de 1520, os navegantes ancoraram na baia de S. Julião. Quando a tripulação soube da intenção de ali invernarem, arrebentou uma revolta; os capitães responsáveis foram abandonados em terra, sendo um deles decapitado. Partindo em fins de agosto de 1520, em viagem difícil, em mar tumultuoso. deu-se continuidade à expedição.
Com três dos navios restantes atravessou essa rota, entrando no Oceano Pacífico, no dia 28 de novembro. Após três meses e 20 dias Fernando de Magalhães alcançou as ilhas dos ladrões (Marianas) e, logo após, as ilhas de S. Lázaro, nas Filipinas. Ali caiu em combate com os nativos. O seu sucessor, o basco J. S. Elcano deu continuidade à viagem. A nave Victoria, percorrendo o arquipélago malaio, o oceano índico e o Cabo da Boa Esperança, alcançoua Espanha no dia 6 de setembro de 1522.
Compreensivelmente, a memória de Fernando de Magalhães é cultuada sobretudo na cidade situada próxima ao Estreito que leva o seu nome, no Chile. No centro da praça principal - Plaza Muñoz Gamero - eleva-se um grande monumento ao navegador. Ao lado da sua estátua em pose heróica, o monumento é marcado por figuras de indígenas, de naves e placas comemorativas. A ereção do monumento deveu-se a um dos principais mecenas da cidade no passado, o rico proprietário de grandes rebanhos ovinos, José Menéndez. Na Calle Hernando de Magallanes, no Palacio Braun Menéndez, localiza-se o Museo Regional Magallanes. Nesse palácio, conservado como exemplo da cultura européia de família enriquecida do século XIX, algumas salas foram dedicadas à exposição relativa ao feito de Magalhães e a outras viagens marítimas relacionadas com a história do Estreito.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).