Doc. N° 2327
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
113 - 2008/3
Encontro de áreas de influência ibérica na região do Prata e história catedralícia José Custodio de Saa y Faria
Catedral de Montevideo. Trabalhos da A.B.E. 2008
A.A.Bispo
As origens da igreja matriz de Montevideo remontam a uma capela edificada em 1724, por ocasião dos trabalhos de fortificação do porto de Montevideo. Esses trabalhos foram iniciados por D. Bruno Mauricio de Zabala, governador espanhol em Buenos Aires à época do reinado de Felipe V. O objetivo da fortificação era o de proteger o porto da expansão dos portugueses, fundadores da Colonia do Sacramento. Escolheu-se, para isso, a margem esquerda do Rio de la Plata por suas condições naturais favoráveis à defesa. A nova cidade foi denominada, em homenagem ao soberano, de São Felipe e Santiago de Montevideo. A história da matriz é, assim, desde o seu início, estreitamente vinculada com o campo de tensões resultante do encontro de duas esferas de poder ibérico na América do Sul. Os jesuítas espanhóis estiveram envolvidos nesses trabalhos, uma vez que foram indígenas Tapes das Missões que, em grande número e acompanhados por religiosos realizaram as obras de fortificação. No âmbito desses trabalhos construiu-se uma primeira capela, considerada a origem histórica da atual matriz. Essa capela foi dedicada à Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Através dos séculos, até o presente, é essa imagem alvo de especial veneração. Pelas suas origens, é denominada, desde 1953, de "Nuestra Señora de la Fundación" e se encontra na Capela do Santíssimo Sacramento da Catedral Basílica.
O engenheiro Domingo Petrarca foi o responsável pelo plano da cidade, substituído após a sua morte por D. Pedro Millán. Com traçado em xadrez, demarcou-se o local onde deveria ser limplantada a praça maior e levantados os edifícios da igreja e do cabildo. Em 1730, ao constituir-se o primeiro Cabildo, designou-se como primeiro pároco o presbítero José Nicolás Barrales. A primitiva capela passou provisoriamente a matriz. Em 1730, iniciaram-se as obras do novo templo. As imagens dos padroeiros puderam ser transferidas em 1740. As obras foram encerradas em 1746. Em 1788, parte do edifício se deteriorou, sendo o Santíssimo trasladado para a capela do Forte do Governador. O pároco, Juan José Ortiz, deu início aos projetos de construção de um novo templo. Provisoriamente, funcionou como matriz a capela do convento San Estanislao de Koska, levantado pelos jesuítas, em 1749, então abandonada e utilizada para fins outros após a expulsão dos jesuítas, em 1767.
Um português como autor do projeto?
Os planos do edifício atual da matriz de Montevideo, cuja autoria é alvo de discussão, podem ser atribuídos ao português José Custodio de Saa y Faria, brigadeiro de engenheiros, ex-brigadeiro do exército português e governador do Rio Grande do Sul e que, aprisionado, passara para o lado espanhol. Os trabalhos foram dirigidos pelo comandante de engenheiros, José del Pozo y Marquy. Posteriormente, atuou nas obras o arquiteto Tomás Toribio, responsável pelas obras do Cabildo. A construção foi particularmente impulsionada pelo pároco, presbítero Juan José Ortiz. A pedra fundamental do edifício foi lançada em 1790, os trabalhos se prolongaram até 1804. A construção exigiu grandes esforços da população, uma vez que a Coroa pouco contribuía por julgar as dimensões grandiosas do projeto inadequadas para a importância secundária da localidade. A matriz tornou-se, assim, um testemunho simbólico da consciência dos habitantes a respeito do futuro de Montevideo.
A consagração solene deu-se no dia 21 de outubro de 1804, sendo presidida pelo Mons. Benito de Lué y Riega, de Buenos Aires, último bispo espanhol do Vice-Reino do Rio de la Plata. Na matriz celebraram-se os principais atos históricos da história do Uruguai. Nela deu-se a benção da primeira bandeira e o juramento da primeira constituição. Nela se encontram sepultados os arcebispos e bispos de Montevideo, além de outras autoridades eclesiásticas, civís e militares. Entre as grandes personalidades que visitaram a cidade e a sua matriz no século XIX destacou-se o do futuro Papa Pio IX, que ali esteve em 1824. Mais tarde, em 1870, elevou a igreja a Basílica, reconhecimento de sua relevância religiosa e cultural. Em 1878, com a criação da Diocese de Montevideo, sob Mons. Jacinto Vera, transformou-se em Igreja Catedral e, em 1897, por Leão XIII, em Catedral Metropolitana. O seu primeiro arcebispo foi o Mons. Mariano Soler. Entre as suas obras de arte do interior do templo salienta-se hoje o mausoléu desse prelado. (...)
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).