Doc. N° 2376
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
115 - 2008/5
Alemanha-Brasil
Ernst-Ulrich von Kameke e a Kantorei Sankt-Petri de Hamburgo em São Paulo (1968)
1968 na História Contemporânea das Relações Interculturais Questões de difusão cultural refletida
pelos 40 anos de fundação da Sociedade Nova Difusão entidade constituidora da Organização Brasil-Europa
Trabalhos da A.B.E. 2008
A.A.Bispo
Um dos marcos na história das relações músico-culturais entre a Alemanha e o Brasil de fins da década de 60 foi a visita da Kantorei St. Petri de Hamburgo, sob a direção de Ernst-Ulrich von Kameke. O coro apresentou-se, em São Paulo, a 7 de agosto de 1968, em programa do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo, em colaboração com a Pró-Arte e a Sociedade Orquestra Filarmônica de São Paulo. O concerto constou da Missa em si menor BWV 232 (1733-1738) de Johann Sebastian Bach. Com o Coro-Bach St. Petri, von Kameke já realizara viagens por vários países da Europa, entre eles pela Suíça, Itália, França, Hungria, da Escandinávia, assim como pela América do Norte e do Sul. Com esse coro, executara todos os oratórios de Bach, além de várias outras obras de vulto da literatura coral. A apresentação foi histórico-culturalmente relevante sob diferentes aspectos. São Paulo, contando com uma antiga tradição local do movimento Bach, através da Sociedade Bach de São Paulo, tinha a possibilidade de presenciar a execução da Missa em si menor por um dos mais renomados coros da Alemanha, o da catedral Sankt Petri. A apresentação ocorria numa fase em que se procurava caminhos para a revitalização do movimento Bach no Brasil através da consideração de novas tendências na pesquisa especializada e na forma de execução. Por outro lado, tinha-se, no seu regente, Ernst Ulrich von Kameke, um especialista já conhecido há muito dos meios brasileiros, sobretudo como professor dos Cursos Internacionais de Férias de Teresópolis, promovidos pela Pró-Arte. Também era conhecido como organista, tendo-se apresentado, entre outras ocasiões, em São Paulo. Um de seus concertos, no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, ainda estava presente na memória pela atenção que despertou para questões de improvisação. Tendo vindo pela primeira vez ao Brasil em 1959, retornara já quatro vezes ao país. Tinha-se casado em São Paulo, a 7 de agosto de 1959, com Karin Krueder, nascida em Fortaleza, filha do industrial Friedrich Krueder e Eleonore Hahling von Lanzenauer. Desse casamento haviam nascido Hans-Claudio (1960), Donata (1962) e Bernd-Christian (1965-1969). Os elos de von Kameke com o Brasil eram, assim, bastante estreitos. A apresentação surgia como relevante também sob o aspecto do estabelecimento de vínculos entre círculos paulistas e aqueles da Alemanha que procuravam revitalizar antigos ideais de trabalhos euro-brasileiros. Para o mentor da Sociedade Bach de São Paulo, Martin Braunwieser, assim como para a sua sucessora, Renata Braunwieser, o meio musical de Hamburgo surgia como altamente promissor para o estabelecimento desses elos. A Kantorei St. Petri, fundada em 1517, contava na sua história nomes tais como Thomas Selle, Chritoph Bernhard, Georg Philipp Telemann, Carl Philipp Emanuel Bach e Johannes Brahms.
Particular atenção merecia o fato de von Kameke ter executado, com o seu Coro, em primeira audição, obras da literatura do século XX, entre elas a Passion de Max Baumann. Através dele, os contactos com Max Baumann seriam de importância nas décadas seguintes no âmbito dos esforços de revitalização da A.B.E. Já há algumas décadas, uma associação dedica-se ao cultivo da memória e das obras de Max Baumann.
Ernst-Ulrich von Kameke
De antiga família nobre da Pomerânea, já documentada no século XIII, Ernst-Ulrich von Kameke, filho de Karl Otto von Kameke (1889-1959) e Franziska Freiin von Thüngen (1889-1982), nasceu em Potsdam, em 1926. Integrou o coro de meninos da igreja de São Nicolau, então sob a direção de Wilhelm Kempff (pai). Com apenas 13 anos, assumiu o cargo de organista assistente da Igreja da Garnison, fundando o seu primeiro coro. Desenvolveu os seus estudos em Berlim, Erlangen, Heidelberg. Entre seus professores, citam-se Beltz, Von Wolfurt, W. Fortner, H. Tramnitz e Thr. Georgiades. Sobretudo os seus elos com Thr. Georgiades despertavam em São Paulo particular interesse. O renome desse musicólogo era grande no Brasil e sobretudo Roberto Schnorrenberg procurava estabelecer um elo entre o seu círculo e os primeiros pretendentes a um estudo sistemático da musicologia no país. De 1949 a 1954, von Kameke foi organista em Eberbach, próximo a Heildeberg, tornando-se respeitado como regente de obras monumentais, tais como o Oratório de Natal de J. S. Bach, o Messias de Händel e o Requiem Alemão, de Brahms. Em 1954, foi nomeado regente da Igreja da Paz, em Düsseldorf, atuando como docente de órgão, história da música e regência na Escola de Música Sacra da Renânia. Em 1959, sucedeu a Tramnitz na catedral Sankt Petri, de Hamburgo. Tornou-se diretor para a música nas igrejas e foi professor de órgão da Escola Superior de Música e Teatro de Hamburgo. Desde 1949, nas suas inúmeras viagens, que o levou sobretudo aos países escandinavos, mas também posteriormente à América do Norte e do Sul, von Kameke empenhou-se em demonstrar a antiga tradição de improvisão ao órgão da Alemanha. Em 1962, efetuou viagem de recitais nos EUA, Canadá e Inglaterra. No Brasil, von Kameke, vinha de encontro à necessidade que se sentia de renovação da prática e do ensino do órgão, sobretudo através do revigoramento da improvisação organística. Foi assim, um precursor do tema que seria discutido mais pormenorizadamente no Simpósio Internacional de Música Sacra e Cultura Brasileira, realizado em 1981. Também atuaria no Oriente. Em Manila, apresentou a Missa profana de Heinz Werner Zimmermann. No Japão, dirigiu o Requiem de Mozart e o Messias de Händel com a Tokio Oratorio Society. Contribuindo para o estreitamento de laços euro-nipônicos, dirigiria com esse coro o mesmo programa em Hamburgo, Kiel e Salzburg.
Tradição norte-alemã e improvisação. Vínculos euro-brasileiros em Lüneburg
Quando do início dos trabalhos destinados ao estabelecimento europeu do Centro de Pesquisas em Musicologia da Sociedade Nova Difusão, em 1974, procurou-se um contato mais estreito com o meio musical de Hamburgo e sua região, em particular também através dos elos com o cultivo de Bach. Também a prática de improvisação ao órgão do Norte da Alemanha foi particularmente considerada. Esses esforços foram apoiados sobretudo por Volker Gwinner (1912-2004), organista e compositor, antigo aluno de renomados representantes da história musical alemã mais recente, tais como Günther Ramin, Günter Raphael e Johann Nepomuk David. Tinha sido mestre-capela em Bremen e em Dresden e era, desde 1957, regente da Kantorei da Igreja de São João, em Lüneburg. Foi no círculo dessa Kantorei que se estabeleceram então os elos com o Brasil. Volker Gwinner era também professor da Escola de Música Sacra de Hannover e, desde 1968, Professor da Escola Superior de Música e de Teatro de Hannover.
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Grupo redatorial dir. A.A.Bispo
Nova Difusão. 40 anos de fundação: 1968-2008
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).