Doc. N° 2405
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
116 - 2008/6
Japão-Brasil
68: Difusão cultural nipo-brasileira
Revendo 1968 na via musical paulistana. Trabalhos da A.B.E. 2008 40 anos de fundação da sociedade Nova Difusão constituidora da Organização Brasil-Europa
A preocupação com questões de difusão cultural dos anos de fins da década de 60, que levou à organização da Sociedade Nova Difusão, exigia a observação de acontecimentos e processos nas diferentes esferas da sociedade, com especial atenção às tendências de superação de barreiras. Dentre as iniciativas particularmente notáveis de relacionamento cultural e de intuitos de contribuição à difusão cultural nascidas de grupos de imigrantes sobressaíam-se aquelas da comunidade nipo-brasileira. No ano de 1968, festejou-se a passagem dos 10 anos de fundação da principal entidade voltada à difusão musical dos japoneses e nisseis de São Paulo. Essa entidade, denominada de Sociedade Filarmonica de São Paulo, fora fundada sobretudo por membros da colonia japonesa de São Paulo, no dia 27 de julho de 1958, tendo como principais mentores Yoshitame Fukuda e Toshio Takeda. A eles se contava o maestro Ken-ichi Yamakawa, que até então vinha exercendo o cargo de regente da Orquestra de Câmara e do Coral Ashibue. Com ca. de 80 sócios, a sociedade mantinha uma orquestra de câmara, uma orquestra infantil e um corpo coral. A sociedade entendia o seu escopo como sendo explicitamente de difusão musical e de congraçamento. Visava a divulgação da música clássica e também a um intercâmbio nipo-brasileiro no âmbito da cultura musical. Procurava, assim, contribuir à divulgação da música brasileira não só na colonia japonesa do Brasil, mas também no Japão. Para isso, mantinha contactos com músicos japoneses, por exempo com os maestros Yoichiro Omachi, Kazuo Yamada e os compositores Akira Ifukube, Yasuji Kiyose, Kozaburo Hirai, Toshiaki Okamoto, Shozo Koyama, Toshiro Mayuzumi. Procurava também difundir a música japonesa entre os brasileiros. A sociedade procurava relacionar os seus objetivos de Difusão Cultural com os de ensino e educação musical. Pretendia explicitamente difundir e desenvolver a música clássica entre jovens brasileiros, principalmente nisseis. Os seus fundadores lamentavam que os japoneses nascidos no Brasil se mantivessem distantes do "mundo artístico onde se reflete o significado mais amplo da natureza humana e que faz esquecer os problemas da vida quotidiana" (do programa). As festividades constaram de um "Joint Recital" e um Concerto Comemorativo do décimo ano de fundação da S.F.S.P., levados a efeito no dia 27 de abril de 1968, e uma Noite Musical, realizada no dia 1 de junho de 1968. Os eventos foram previstos para serem realizados no Auditório Villa Lobos da Liga das Senhoras Católicas (Rua Jaceguai, São Paulo).
Elisa Fukuda e Eduardo Villaça
No Concerto Comemorativo, tomaram parte jovens músicos nisseis e brasileiros. A primeira parte constou de obras de Gluck, Bach e Saint Saens executadas pela violinista Elisa Yuriko Fukuda, acompanhada ao piano por Fernando Berti. A segunda parte constituiu-se de um recital de piano do brasileiro Eduardo Villaça que, ao lado de obras de J.S.Bach, D. Scarlatti, F. Chopin e F. Listz, executou, em primeira audição no Brasil, uma Country Dance (Moderato, Lento Tranquilo, Vivace Rústico) de Yasuji Kiyose e peças da própria autoria, compostas com apenas 10 anos ("Ternura" e "Cristine").
Elisa Yuriko Fukuda, nascida em São Paulo, em 1952, iniciara seus estudos com o seu pai, Yoshitame Fukuda, violista da Orquestra Sinfônica Estadual. Estudou também com Johannes Oelsner, Mari-Ono Oka e Joel Tavares. Com apenas seis anos, executou o concerto em lá menor de Vivaldi e, aos 11 anos, o concerto de Mendelssohn. Ingressou na Sociedade Filarmônica de São Paulo em 1959 como componente da orquestra infantil. Fazia parte então da orquestra juvenil da sociedade, tomando parte intensa em todas as suas realizações.
Eduardo Villaça, também nascido em São Paulo, em 1952, muito cedo ganhou uma bolsa de estudos em concurso de Iniciação Musical no Conservatório Museu do Jardim América, passando a estudar piano com Madalena Costa Abdelhay. Desde 1967 estudava com o maestro Souza Lima. Também dedicava-se à composição, tendo apresentado peças de sua autoria em diversas ocasiões. Ganhara prêmios em concursos e programas de televisão. Entre eles, tinha recebido o troféu Estrela- Os Melhores do Ano de 1962, na categoria de compositor-mirim. Passara a estudar harmonia e contraponto com Arthur Hartmann, no Colégio Musical da Fundação Armando Alvares Penteado.
Em 1965, apresentara-se em concerto no Teatro Municipal de São Paulo, como solista da Orquestra Sinfônica Municipal, sob a regência de Souza Lima. Em 1967, realizara uma série de apresentações, entre elas na Faculdade de Música Sagrado Coração de Jesus e no Conservatório Musical Carlos Gomes, além de audições particulares e ilustrações de conferências. A "Noite Musical" constou de um programa extraordinariamente longo, no qual tomaram parte Alice Satomi, Akemi Yassunaga, Monica Rubly, Humberto Yamaki, Eunice Matsubara, Mami Hada, Cristina Arantes, Shiro Kurosaka, Junko Yamakawa, Shinobu Saito, Tomii Iwami e Tomoko Inoki, aém do Coral Ashibue sob a direção de Seiichi Kawakubo. Além de obras do repertório internacional (F. Mendelssohn, F. Chopin, A. Vivaldi, J. Brahms, F. Schubert, D. Scarlatti, F. Chopin, J. S. Bach, B. Bartók), o programa incluiu composições de autores brasileiros (A. Cantu, H. Villa-Lobos) e música japonesa. Digno de nota foi a apresentação do Duo de Koto de Tomii Iwami e Tomoko Inoki, que executou a peça "Shiki no Shirabe", de Keisho Imai. Também o coral Ashibue, além de peças do folclore norte-americano e finlandês, apresentou a peça tradicional japonesa "Mozu ga Kareki de".
A.A.Bispo
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).