Doc. N° 2400
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
116 - 2008/6
68: Conservatórios - Sintomas de crise no ensino musical
Revendo 1968 na vida musical paulistana. Trabalhos da A.B.E. 2008 40 anos de fundação da sociedade Nova Difusão constituidora da Organização Brasil-Europa
Um exemplo: Conservatório Musical Carlos Gomes
Embora já na época se delineassem as tendências reformadoras que levariam à mudança estrutural do ensino da música em São Paulo, com a consequente perda de significado do antigo Serviço de Fiscalização Artística e à gradativa crise dos conservatórios, o Conservatório Musical Carlos Gomes alcançou, nesse ano de 1968, uma de suas últimas fases de apogeu. Enraizado na colonia italiana, pelas suas origens e pela constituição do seu corpo docente, o Conservatório possuia renome pela solidez de suas estruturas e pelo profissionalismo e seriedade de sua administração. Procurou-se, em 1968, imprimir novo espírito à instituição através da promoção de concertos de músicos prestigiados. Esses músicos, do rol de relações do diretor artístico do estabelecimento, Armando Belardi, colaboravam com os intuitos destinados a divulgação de instrumentos orquestrais pouco escolhidos pelos estudantes. Entre esses músicos, salienta-se o oboísta Salvador Ilson Masano.
Esse professor realizou, a 28 de maio de 1968, em promoção do Diretório Acadêmico da instituição, um concerto acompanhado pela pianista Henriqueta E. Ricardino, também professora do Conservatório. O programa constou de uma dissertação sobre o instrumento e de obras de Tschaikowsky (Chant sans paroles), R. Schumann (Romance n° 1 op. 94), P. Hindemith (Sonata, 1° movimento) e G. Telemann (Concerto em fá menor).
Audições de alunos
A audição para o encerramento do primeiro semestre, levada a efeito no dia 29 de junho, constou da participação de Lia e Dea Reismann, Margaret Maceira, Maria Celeste Fogaça, Gianni Visoná, Vera Lucia Ruffo, Suely Jacintho, Roberto Dante Cavalheiro Filho, Silvio Santisteban, Silvia Ricardino, Elisabeth Klump, Lair Cogo, Tadeu O. Maia, Suzana D. Schubach, Ana Maria Muniz, Celina Marchetti e Marlene G. da Costa. Dentre as obras de compositores brasileiros executadas salientam-se C. Santoro (Paulistana N° 5), Camargo Guarnieri (Ponteio n° 14) e H. Villa-Lobos (Polichinello). Os diplomandos de 1968 ofereceram, a primeiro de junho, um recital de violão e piano, do qual tomaram parte Silvio Santisteban, Helio Santisteban, Oswaldo Malagutti J., Eduardo Villaça, Carlos Alberto de Souza e Suely de Fátima Bispo. Dentre os compositores brasileiros representados salienta-se H. Villa-Lobos (Estudo). A audição pelo Dia da Independência, levada a efeito no dia 15 de setembro, Constou de apresentação do Orfeão do Conservatório, além da participação de Maria Lucia C. Silva, Mario O. Souza, Antonio Rodrigues Netto, Suzel Licy P. Nobre, Guido Reverso Filho, Antonio D. Farah, Lenilélia Albamonte, Nelson M. Matsuo, Helio Santisteban, Terezinha O. Maia, Noemi Sztulman, Raul P. dos Santos, Yara Ulbrich, Eduardo Villaça Pinto, Maria Cecilia Sanches, Sandor Molnar Jr, Mariza Pollicciari e Fernando Sérgio de A. Dias. Dentre as obras de compositores brasileiros executadas salientam-se composições de C. Santoro (Paulistana N° 3), Francisco Mignone (Minueto da ópera Contratador de Diamantes), A. Bernardini (Cacique), A. Levy (Tango), H. Villa-Lobos (Polichinello), J. Souza Lima (Prelúdio N° 1), Camargo Guarnieri (Dansa negra) e L. Fernandez (Jongo). Pelo encerramento do ano letivo, a 26 de novembro, os alunos do Conservatório apresentaram uma audição na qual participaram Suzel L. Nobre, Eni J. Braz, Oswaldo da S. Neves, Maria Lucia Mondini, Izilda Fernandez, Leda Maria Cardoso, Paula P. da Rocha, Raul P. dos Santos, Suely Jacintho, Claudia B. Salmaso, Carlos Alberto de Souza, Marcos Ant. Martorelli, Sueli de Fátima Bispo, Maria Cecilia Sanches, Marcos F. Stockler, Nelson M. Matsuo e Therezinha G. dos Santos. Dentre os compositores brasileiros considerados salientam-se F. Mignone (8a. Valsa de esquina), C. Santoro (Paulistana N° 4) e H. Oswald (Il neige, Pierrot). A 28 de novembro, o Conservatório ofereceu um recital instrumental beneficiente a favor do Orfanato de Meninos de São Judas Tadeu. O concerto contou com a participação dos artistas Salvador Ilson Masano (oboé), Dino Pedini, Haroldo Paladino, Jaire Leão da Silva e Clovis Mamede (trompistas), Henriqueta Elda Ricardino e Eduardo Villaça (piano). O programa constou do Concerto n° 1 para oboé e piano de G. F. Haendel, de Country Pictures para 4 trompetes de Wassily Brant, além de um recital de E. Villaça com obras de D. Scarlatti, E. Grieg, C. Debussy, J. Souza Lima e A. Tcherepnine.
Ponto alto da programação do Conservatório Musical Carlos Gomes de 1968 foi a solenidade de colação de grau dos diplomandos, levada a efeito no Teatro Municipal de São Paulo, a 17 de deuembro. Após o Hino Nacional, executado pelo Orfeão sob a regência de Edard Arantes Franco, a cerimônia foi aberta pela diretora, Gemma Rina Peracchi. Procedeu-se ao juramento dos diplomandos, à entrega dos diplomas, das medalhas de ouro e prata aos aunos que obtiveram melhor nota nos exames finais, à saudação da oradora, Suely Tozzini, e ao discurso do paraninfo. Mtro. Bernardo Federowsky. A segunda parte constou de apresentações dos diplomandos em piano (Claudia B. Salmaso, Maria Cecilia Sanches, Olda Andreazza, Roberto D. Cavalheiro Filho, Carlos Alberto de Souza, Eduardo Villaça Pinto, Fernando S. de A. Dias e Sueli de Fátima Bispo, em harmônica (Oswaldo da S. Neves Sob) e de violão (Maria Teresa da S. Barbosa). Foram executadas obras de Cláudio Santoro (Paulistana N° 4), Tarrega (Capricho árabe), Camargo Guarnieri (Dança negra), Francisco Mignone (Valsa choro n° 9), A. Volpi (Divertimento), Heitor Villa-Lobos (Aria), Katchaturian (Tocata), F. Chopin (Improviso em dó sustenido maior), F. Liszt (Rapsódia N. 11) e F. Chopin (Concerto n° 1 em fá menor, por S. de F. Bispo com H. E. Ricardino ao segundo piano).
Conservatório Brasileiro de Harmônica e Piano e a crise do acordeon no Brasil
O fim da década de sessenta ficou marcado, no trabalho dos conservatórios de São Paulo, por modificações quanto aos instrumentos considerados. Já há anos se procurava superar o monopólio do piano nessas instituições. Procurava-se - como no caso do Conservatório Carlos Gomes - divulgar e fomentar o estudo de instrumentos de sôpro e de cordas. Foram anos que marcaram o reconhecimento definitivo do violão como instrumento de ensino e de prática erudita. Ao mesmo tempo, porém, constatou-se uma crise e um quase desaparecimento do ensino do acordeão.
Esse instrumento havia sido durante anos, ao lado do piano, principal instrumento procurado nos conservatórios. Em poucos anos, fato que se manifestava em audições e em solenidades de formatura, desapareceram os solistas e os conjuntos desses instrumento.
Um evento porém marcou a história do acordeão no ano de 1968. Tratou-se do exame-concerto de harmônica de Marie-Claire Herman, aluna do Conservatório Brasileiro de Harmônica e Piano, na classe de virtuosidade regida por Arnaldo Meirelles Filho. O concerto realizou-se no dia 21 de novembro, no auditório da Discoteca Pública Municipal, a Sala Luciano Gallet. O programa constou, na sua primeira parte, de obras de P. Sarasate (Arias ciganas), F. Mignone (Congada) e M. Ravel (Bolero). Na segunda parte, a acordeonista executou obras de F. Suppé (Manhã, Tarde e Noite em Viena), F. Fugazza (Prelúdio e Fuga) e G. Gershwin (Rhapsody in blue). A terceira parte foi dedicada ao Concerto op. 64 em mi menor de F. Mendelssohn-Bartholdy. Os acompanhamentos ao piano estiveram a cargo de Edy C. Meirelles. A mesma intérprete havia realizado, no mesmo local, a 30 de outubro, um recital de piano. Era aluna de Margarida Viserta. O programa constara de obras de Pfeiffer, Beethoven, Chopin, Debussy, Mozart, C. Santoro (Estudo 1), F. Mignone (Sacy) e H. Villa-Lobos (Impressões seresteiras).
Marie-Claire Herman foi uma das sócias fundadoras da recém criada Sociedade Nova Difusão.
A.A.Bispo
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).