Doc. N° 2393
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
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68: Prática sinfônica de amadores e orquestras universitárias Leon Kaniefsky e Paulina Spiwak
Revendo 1968 na vida musical paulistana. Trabalhos da A.B.E. 2008 40 anos de fundação da sociedade Nova Difusão constituidora da Organização Brasil-Europa
Na consideração dos processos de difusão cultural no Brasil, tais como eram observados em 1968, não se pode deixar de mencionar os trabalhos específicos que já se desenvolviam, há décadas, no âmbito do fomento da prática musical de amadores.
Quando se revê os acontecimentos renovadores de meados dos anos sessenta, dirige-se a atenção, em geral aos novos anseios de renovação de repertórios, de iniciativas de arregimentação da juventude, de expansão coral e de esforços no sentido de formação de instrumentistas jovens para as orquestras. Esquece-se, injustamente, que a prática orquestral de amadores já era vista, há anos, não apenas no seu significado para a possibilitação do exercício de instrumentistas que não atuavam profissionalmente como músicos e para a complementação da vida musical de base da comunidade. Ela era considerada também como uma auxiliar preparatória da vida musical profissional, uma vez que nela haviam realizado as suas primeiras experiências orquestrais músicos que então atuavam nas principais orquestras da cidade e do país. O labor intenso de músicos e regentes do âmbito amadorístico, o idealismo e, às vezes a opção que fizeram a favor da difusão cultural ampla não teem sido suficientemente considerados em estudos da vida musical. Um dos nomes que mereceriam ser destacados é o de Leon Kaniefsky.
Courvoisier, Thuille, Bossi
A formação musical de Leon Kaniefsky deu-se inicialmente na Suíça. Estudou na Escola Marteau, em Genebra. Muito cedo apresentou-se em concerto sacro-musical na catedral daquela cidade. No Brasil, formou-se em Engenharia pela Universidade Mackenzie. Tendo exercido a profissão por apenas alguns anos, dirigiu-se novamente à Europa para dar prosseguimento a seus estudos musicais. Em 1923, entrou para a Academia de Música de Munique, onde estudou com Walter Courvoisier (Basel 1875-Locarno 1931). Esse compositor - e médico - fora aluno de Selmar Bagge e Ludwig Thuille, cuja filha desposou. Lecionava Teoria e Composição na Akademie der Tonkunst.
Em 1925, Kaniefsky transferiu-se para Milão, passando a dedicar-se à regência sob a orientação de Renzo Bossi, no Conservatório Giuseppe Verdi. Ao mesmo tempo, foi nada menos do que um dos discípulos do renomado organista Enrico Bossi. Dentre as suas muitas atividades na Itália, salientam-se a fundação do Sexteto Kolid e cursos que proferiu em Milão.Foi titular das temporadas líricas e de concertos da Empresa Caminada, de Milão. Os seus elos com o renomado e influente maestro M. Perosi levaram-no a assumir posições de relêvo na vida musical e à dedicação à regência. Já na Itália inseriu-se em movimento de difusão musical através da realização de concertos sinfônicos populares e da ação difusora e educativa pela rádio, prática que daria continuidade no Brasil. Após o seu regresso, passou a empenhar-se na formação de conjuntos orquestrais de amadores. Para o seu trabalho, desenvolveu intensa atividade como arranjador, adaptando obras e realizando transcrições. Com a Sociedade de Concertos, Leon Kaniefsky realizou 34 concertos.
De 1935 a 1941 foi diretor-artístico da Rádio Difusora de São Paulo. De 1941 a 1947, organizou e dirigiu a Orquestra Brasileira de Câmara. Com esse conjunto, realizou 38 concertos patrocinados pelo Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal e 88 concertos radiofônicos.
Orquestra Sinfônica de Amadores e Orquestra Universitária de Concertos
Em 1968, além de regente da Orquestra Sinfônica de Amadores, Leon Kaniefsky era diretor da Orquestra Universitária de Concertos e de seu Coral Mixto. Esses grupos trabalhavam sob os auspícios da Reitoria da Universidade de São Paulo. Com a Orquestra de Amadores realizava concertos nos mais diversos bairros de São Paulo, apresentando-se não apenas nos vários teatros do Município como também em cinemas. O 106° concerto da Orquestra Sinfônica de Amadores de São Paulo teve lugar no dia 16 de junho de 1968, no Teatro Municipal de São Paulo. O programa constou de obras de J. Haydn (Introdução às Sete Palavras de Cristo na Cruz op. 51; Sinfonia n° 99 em mi bemol maior), J. S. Bach (Prelúdio e Fuga XXII), Francisco Braga (Serenata antiga) e Carl Maria von Weber (Peça de Concerto em fá menor op. 79). Solista da obra de Carl Maria von Weber foi Paulina Spiewak, uma das jovens pianistas que alcançava renome pela sua técnica precoce. Com apenas 17 anos, tendo recebido a sua primeira formação com Dinorah de Carvalho e, sendo orientada, na época, por Souza Lima, podia apresentar vários prêmios obtidos em iniciativas para o incentivo da juventude: 1° salão de Arte Infantil de A Folha de São Paulo, primeiros prêmios no Concurso Villa-Lobos e no Concurso Camargo Guarnieri da "Hora de Arte", iniciativa particular de uma outra idealista no fomento e na difusão musical, Ninfa Glasser, e o segundo lugar no Concurso "Grandes Revelações", do canal 9. Com uma bolsa de estudos, diplomou-se pelo Conservatório Musical Santa Cecília, em 1966. Sob a regência de seu professor, Souza Lima, apresentara-se com a Orquestra Sinfônica Municipal, em 1967. Aliás, não se pode deixar de salientar o empenho de Souza Lima no sentido de possibilitar a experiência orquestral a seus discípulos em meados de sessenta. Demonstravam não apenas a excelência da formação que obtinham. Atuavam também como modêlos a serem imitados, incentivando a juventude. Vários deles seguiram posteriormente a vida musical profissionalmente. (...)
A.A.Bispo
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).