Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

_________________________________________________________________________________________________________________________________


Índice da edição     Índice geral     Portal Brasil-Europa     Academia     Contato     Convite     Impressum     Editor     Estatística     Atualidades

_________________________________________________________________________________________________________________________________

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 122/18 (2009:6)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2009 by ISMPS e.V. Edição reconfigurada © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2515


 


Rêdes sociais na História Político-Cultural
Vínculos entre as casas reinantes na Europa no período guilhermino
Alemanha-Rumênia-Grécia-Dinamarca-Suécia


Prosseguimento de reflexões encetadas em Wied em 2008, a partir de releituras das recordações de vida da filha de Guilherme II, Duquesa Viktoria Luise (1892-1980)

Vitoria Luise. Arquivo A.B.E.

 



Wied. Foto A.A.Bispo 2009. Copyright

Este texto apresenta uma súmula de estudos motivados pelos 150 anos de Guilherme II (1859-1941). Sem objetivos políticos ou de engrandecimento da personalidade do último imperador da Alemanha, os trabalhos justificaram-se pela importância da época guilhermina para o Brasil, sobretudo sob o aspecto das regiões coloniais. Nesse sentido, inscreveram-se no programa da Academia Brasil-Europa dedicado a estudos do mundo de língua alemã e mundo de língua portuguesa.


A orientação teórico-cultural insere-se na tradição da sociedade dedicada à renovação dos estudos culturais (Nova Difusão 1968), a atual Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - Academia Brasil-Europa.





Wied. Foto A.A.Bispo 2009. Copyright

Imagens de Wied. Trabalhos da Academia Brasil-Europa.
Fotos A.A.Bispo 2008

 
A análise de rêdes sociais, particularmente relacionada com a Antropologia Social inglêsa, pode suscitar procedimentos similares nos estudos de processos interculturais em contextos internacionais.

A aplicação de princípios de análise de estruturas sociais em contextos do passado, porém, já tentado desde os anos 70 do século passado relativamente ao Brasil, encontra dificuldades de reconstrução de rêdes. Um caso particularmente favorável é aquele das rêdes constituídas pelos elos de parentesco das famílias reinantes da época anterior à Primeira Guerra Mundial, quando ainda grande parte dos países europeus era constituída por monarquias e sobre a qual tem-se informações graças sobretudo às recordações de membros dessas famílias, participantes de decorrências históricas.

Tais memórias não apenas oferecem caminhos para estudos historiográficos e genealógicos mais precisos. Possuem  a qualidade de revelar conteúdos emocionais e aspectos da personalidade de protagonistas que muitas vezes influenciaram de forma decisiva o desenrolar dos acontecimentos e que seriam difíceis de detectar através do estudo de documentos.

Simpatias e antipatias, amizades, afetos e ressentimentos, proximidade ou não de interesses intelectuais, culturais e esportivos, lembranças de experiências felizes ou infelizes, fatores pessoais aparentemente superficiais desempenharam não raro papel significante no vir-a-ser de situações e no desencadear de fatos por vezes de extrema gravidade.

A situação vigente até a Primeira Guerra, caracterizada por um estreito entrelaçamento das famílias reinantes da Europa oferece possibilidades de análise desses fatores em geral pouco considerados e que dizem respeito especificamente à história cultural.

Um ponto de partida privilegiado para um tal estudo é o das relações da casa imperial da Alemanha com as famílias reinantes de outros países, uma vez que o seu imperador, Guilherme II, seria posteriormente acusado como um dos principais ou mesmo principal responsável pela Guerra por parte da França e seus aliados.

Tem-se, assim, com a consideração de rêdes relacionadas com Guilherme II, a possibilidade de reconstrução de contextos que abrangem vários países da Europa, contribuindo para a compreensão de alianças e elos que apenas podem ser elucidados pelo alto grau de personalização do sistema. Além do mais, possui-se dessa época, dados pormenorizados registrados da memória pela sua filha, a Duquesa Viktoria Luise. (Herzogin Viktoria Luise, Ein Leben als Tochter des Kaisers, 12. ed., Göttingen-Hannover: Göttinger Verlagsanstalt, 1973)(Veja outros artigos a respeito nesta edição).

Já a consideração de elos entre a própria dinastia dos Hohenzollern representada em vários países da Europa da segunda metade do século XIX permite que se constate relações entre nações que, pela distância geográfica e pela própria história cultural dificilmente seriam reconhecidas. Tais vínculos possibilitam que, apesar de todas as diferenças, se compreenda a existência de similaridades referentes à arquitetura, às artes, a correntes de pensamento e movimentos culturais, assim como a métodos e sistemas administrativos, jurídicos, educativos e outros. Qual seria a perspectiva que poderia oferecer caminhos para análises de contextos a partir de elos entre países como a Rumênia, a Grécia,  a Dinamarca e a Suécia? O estudo das rêdes sociais determinadas pelos elos familiares permite, assim, exames de relações interculturais que, de resto, seriam difíceis de serem detectados e elucidados.

Vínculos com a Rumênia

Na Rumênia, a família reinante era a dos Hohenzollern, ou seja a mesma da Prússia. Esse estreito relacionamento, que marcou grande parte da segunda metade do século XIX e o século XX até a Primeira Guerra Mundial, foi vinculado à personalidade de Carol I. (Karl von Hohenzollern-Sigmaringen 1839-1914), reinante de 1866 a 1914.

Karl Eitel Friedrich Zephyrinus Ludwig von Hohenzollern-Sigmaringen, nascido em 1839 em Sigmaringen como segundo filho do príncipe Karl Anton von Hohenzollern Sigmaringen (1811-1885), obteve a sua formação militar e universitária na Alemanha.  Em 1857, entrou no exército prussiano. Estudou na Universidade de Bonn, onde membros da família dos Hohenzollern realizaram os seus estudos, efetuou grandes viagens e participou das guerras dinamarquesas de 1864, sendo promovido a Marechal prussiano. Era mestre de cavalaria no segundo regimento da guarda quando a êle foi oferecida a coroa principesca da Rumênia por Joan Bratianu.

Com a deposição do príncipe Alexandru Ioan Cusa (1820-1873), o fundador da Rumênia, em 1866, a situação do país era tão conturbada que o conde Philipp de Flandres, da família dos Coburgs,  irmão do rei dos belgas, não aceitou a sua escolha a príncipe da Rumênia. No seu lugar, com a aprovação de Napoleão III (1808-1873), e plebiscito popular, deu-se a nomeação do príncipe Carlos de Hohenzollern-Sigmaringen.

Administração e organização alemã na Rumênia

Carlos transferiu-se imediatamente a Bukarest e prestou juramento de fidelidade a uma constituição liberal criada segundo o modêlo da constituição belga. Casou-se a 15 de novembro de 1869 com a princesa Elisabeth de Wied (1843-1916) em Neuwied, no Reno. Teve, desse casamento, uma filha, a princesa Marie, cedo falecida (1870-1874). Como o casal permaneceu sem filhos, a sucessão foi entregue pelo rei a seu sobrinho, o príncipe Ferdinand (1865-1927). Também esse príncipe nasceu em Sigmaringen, em 1865, e foi oficial do exército prussiano. A sua esposa foi também alemã, a princesa Maria de Saxe-Coburg (1875-1938), neta da rainha Vitória da Inglaterra. O seu filho, Carol II (1852-1921), também serviu em Potsdam.

Os primeiros anos de suas atividades foram dedicados à organização administrativa e econômica do país, assim como à implantação de vias de comunicação. Em 1871, com a falência do construtor das estradas de ferro rumenas, o país caiu em tal grave crise que quase levou à sua abdicação. Entretanto, em 1872, através da
Arquivo A.B.E.
intervenção de financiadores e de empresas de crédito, conseguiu-se implantar a rêde ferroviária nacional. Do ponto de vista das relações exteriores, a principal preocupação de Carlos dizia respeito aos vínculos tributários com o sultão da Turquia, o que representava uma situação de vassalagem para o país relativamente ao Império osmânico e que trazia problemas com a Rússia. Assim, a guerra russo-turca trouxe graves consequências para a Rumênia. Sob a sua administração, porém, o país fortaleceu-se de tal modo que a Rússia se viu levada a assinar um contrato, em 1877, segundo o qual as tropas russas poderiam através o país, garantindo o respeito a instituições rumenas e a soberania territorial do país.

Antes porém que as tropas russas passassem pelo país em direção ao Danúbio, a Rumênia proclamou a sua independência e suspendeu o pagamento dos tributos ao sultão. Após atravessarem o Danúbio, os russos se encontraram em difícil situação perante a fortaleza de Plewna, de modo que o comandante em chefe, Grão-Príncipe Nikolau se viu obrigado a pedir ajuda ao príncipe da Rumênia. Este, atravessando o Danúbio, assumiu o comando das tropas russas e rumênas e, a 10 de dezembro, conquistou a fortaleza. A Rússia, porém, tomou os distritos bessarábicos do sul da Rumênia. Como compensação, a Rumênia recebeu, no Congresso de Berlim, a Dobrudsha.

Após a guerra, a Rumênia passou por uma fase de consolidação e desenvolvimento da sua situação interna. De acordo com as resoluções do Congresso de Berlim, as religiões passaram a ter os mesmos direitos, o direito de voto foi ampliado, o sistema escolar desenvolvido, estradas de ferro foram implantadas e criados bancos de crédito. Nacionalizou-se o monopólio de tabaco, até então em mãos de comerciantes inglêses. O imposto foi diminuído a um terço, as salinas melhoradas tecnicamente e recuperou-se o equilíbrio das finanças de Estado. Quando, em 1886, venceram-se os antigos contratos comerciais, introduziu-se uma tarifa de proteção alfandegária. O exército foi reformado, os investimentos para os seus objetivos duplicados, empregando-se grandes somas na construção de quartéis, de escolas militares, arsenais, fortalezas e na artilharia. Ou seja, aplicou-se na Rumênia critérios considerados característicos da administração dos Hohenzollern. Num estado ainda em grande parte dominado por situações e costumes orientais, implantou-se uma administração e uma organização militar baseada em princípios e segundo modêlos prussianos. A 26 de março de 1881, o príncipe foi nomeado pelo Parlamento a rei, sendo coroado a 22 de maio.

Carmen Sylva, cultura alemã na Rumênia e projeção rumena no mundo

Elisabeth, a rainha da Rumênia, tornou-se internacionalmente conhecida como escritora sob o pseudônimo de Carmen Sylva. O seu romance "De dois mundos" (Aus zwei Welten), escrito em conjunto com Mite Kremnitz (Marie von Bardeleben, 1852-1916), publicado em 1883, atingiu até o início do século XX sete edições, alcançando considerável popularidade na Alemanha.

A rainha, seguindo correntes alemãs de estudos da literatura, de lendas e de cantos populares, que teriam tanta influência no desenvolvimento dos estudos das tradições populares de varios países do globo, contribuiu para o desenvolvimento da cultura de orientação nacional rumena. Tratou da história e das tradições do país, colecionando canções folclóricas e as traduzindo para o alemão. Assim, publicou, juntamente com Mite Kremnitz, uma coleção de poesias rumenas (Rumänische Dichtungen). A sua obra, vasta, testemunha a sua capacidade de trabalho e imaginação.


Carmen Sylva (1843-1916)

 
Carmen Sylva criou uma auto-imagem que correspondiaa sua orientação intelectual, apresentando-se de forma expressiva e idealizada, transformando-se, pela sua personalidade impulsiva e auto-consciência, em personalidade destacada da história cultural e da história feminina do século XIX. Já o seu pseudônimo, usado a partir de 1880, indicava um programa que definia a sua imagem. Carmen significava etimologicamente canto, Sylva referia-se a floresta. Com essa escolha, a rainha criava uma referência à sua região natal, a "floresta" (Westerwald) e à voz ou o canto da Natureza. Escrevia em alemão, publicando na Alemanha, e, em traduções, também na Rumênia, a partir de 1882.
 

Os elos entre o império alemão, a Dupla Monarquia e a Rumênia não poderiam ser assim mais estreitos. Esse relacionamento manifestava-se na arquitetura e nas artes, e até mesmo simbolicamente nas armas nacionais, que apresentavam o brasão dos Hohenzollern, em prêto e branco.

Na Alemanha, na época guilhermina, Carlos I gozava do prestígio de ter conseguido recuperar a paz interna da Rumênia, consolidar as finanças, organizar a administração, alcançar a emancipação política e aumentar o renome rumêno no concerto das nações. Ponto alto dessa história de relações foi a comemoração dos 25 anos de reinado, levada a efeito tanto na Rumênia como na Alemanha. Conseguiu manter a neutralidade do país durante a primeira guerra balcânica, em 1912/13, participando, porém, da segunda, dado receios existentes relativamente a uma Bulgária por demais poderosa. Na política interior, porém, Carlos I defrontava-se com problemas resultantes da divisão de terras e do predomínio de forças oligárquicas no país, levando a uma revolta de camponeses, em 1906. Apesar de se,r pela sua origem e formação vinculado ao mundo alemão, não pôde concretizar um pacto com os poderes centrais na Primeira Guerra, uma vez que parte da classe social superior do país era marcada pela influência francêsa.

Rumênia e relações euro-brasileiras

O Brasil recebia notícias da Rumênia através das representações diplomáticas em Bruxelas e de Paris. A primeira, explica-se pelos elos das famílias reinantes, o segundo por elos culturais. Em 1886, Pedro II agradecia, através do Barão de Arinos, embaixador em Paris, o recebimento de obras históricas e, em 1887, a obra Documents relatifs à l'histoire des Roumains faisant suite à la collection Huhmuzaky, oferecida pelo govêrno da Rumênia. (Ministério da Justiça/Arquivo Nacional, Dom Pedro II e a Cultura, Rio de Janeiro 1977, entradas 1922, 2019 e 2115, págs. 314, 328 e 342).

A presença do Brasil na Rumênia pode ser compreendida a partir das relações da casa reinante da Rumênia com a Alemanha, em particular com a origem da rainha Elisabeth, ou seja, Carmen Sylva. Ela provinha da família de Wied, aquela do viajante e pesquisador Prinz Maximilian Alexander Philipp zu Wied-Neuwied (1782-1867). Este, que também se utilizou do pseudônimo Baron von Braunsberg nas suas viagens pelo Brasil e pela América do Norte, orientando-se pelo exemplo de Alexander von Humboldt (1769-1859), foi um dos grandes viajantes e cientistas naturais da história científico-cultural euro-brasileira. Foi, com relação ao Brasil, uma espécie de continuador de Humboldt, uma vez que este não tinha podido visitar o país. Foi acompanhado em parte pelo especialista em plantas Friedrich Sello (1789-1831) e pelo ornitólogo Georg Wilhelm Freyreiss (1789-1825). Embora tendo efetuado as suas viagens pelo Brasil nas primeiras décadas do século, de 1815 a 1817, as suas documentações da flora, fauna e sobretudo de grupos indígenas (Botocudos, Camacans, Coroados, Coropos, Pataxó, Puri) e as suas publicações eram reconhecidas no seu valor, tendo êle recebido o doutorado honoris causae da Universidade de Jena, em 1858. O seu interesse pela ornitologia pode aqui apenas ser comparado com aquele do Zar da Bulgária, Ferdinand (1861-1948); as suas coleções encontram-se em parte no Museu de Wiesbaden.

Vínculos entre a Alemanha e a Grécia

As estreitas relações entre a Grécia e a Alemanha durante o período guilhermino explicam-se também pela presença de membros dos Hohenzollern no país. A princesa Sophie Dorothea Ulrike Alice da Prússia (1870-1932), nascida em Potsdam e falecida em Frankfurt a. M., era filha do Príncipe herdeiro Friedrich Wilhelm, que viria a ser Friedrich III (1831-1888) e da Princesa Victoria (1840-1901), filha mais velha da rainha Victoria da Inglaterra e do príncipe-consorte Albert de Saxe-Coburg e Gotha (1819-1861), neta do primeiro imperador alemão, Wilhelm I (1797-1888) e irmã de Guilherme II. Casando-se em 1889 com o Duque de Esparta, o Príncipe Constantino (1868-1923), filho do rei Georg I (1845-1913) e da Grã-Princesa Olga Konstantinowna Romanowa (1851-1926), casamento esse bem visto por Guilherme II e pela rainha Victoria, tornou-se Princesa real da Grécia e, com a subida de Constantino ao trono, mais tarde, rainha dos Helenos (1913-1917; 1920-22).

O pai de Constantino, Georg I, nascido em Kopenhagen como segundo filho de Christian IX da Dinamarca (1818-1906)

Rainha da Dinamarca com as suas filhas Thyra e Ingeborg, 1906

 
e irmão da Princesa Alexandra da Dinamarca (1844-1925) e da posterior Zarina Dagmar da Dinamarca (1847-1928), subira ao trono grego em 1863. A partir de sua origem, fundamentou estreitos elos entre a Grécia e a Dinamarca. Realizara a sua formação militar na marinha desse país. Além dessas relações com a Dinamarca e de seus elos de parentesco com a Inglaterra, que lhe transferiu as ilhas jônicas, em 1864, conseguiu boas relações com a Rússia através de seu casamento com Olga Konstantinowna Romanowa.

Também aqui o problema residia no confronto de culturas com o mundo islâmico representado pelo Império Osmânico, o que levou a conflitos, sobretudo na Tessália, e à Guerra entre a Turquia e a Grécia, em 1897, na qual a Grécia foi derrotada. A procura de fundamentação histórica da identidade nacional grega levou à reintrodução dos primeiros jogos olímpicos, em 1896, um fato que poderia ser considerado como mais uma expressão do historicismo da época.


Entêrro do rei Christian IX. Da esquerda para a direita: rei da Grécia, rainha da Dinamarca, rainha da Inglaterra, rei Frederik VII da Dinamarca, Duque de Cumberland

 
Dentre os seis filhos do casamento entre Sophie (1870-1932) e Constantino, Georgios II (1890-1947),  serviu na guarda prussiana e Alexander I (1893-1920) estudou na escola de cadetes em Lichterfelde. Georg II, mais tarde rei da Grécia (1922-1924; 1935-1947), se uniaria à Princesa Elisabeth da Rumênia (1894-1956), em 1921; a sua irmã, Helena (1896-1982), casou-se nesse ano com o príncipe Carol da Rumênia, mais tarde rei Carol II (1893-1953). O elo com a Alemanha manteve-se com o casamento de Paul (1901-1964) com a Princesa de Hannover, Friederike (1917-1981), em 1938, também este tornando-se posteriormente rei da Grécia.

A memória de Sophie ficou marcada pelas suas atividades beneficientes e sociais, entre elas pelo seu empenho em melhoramento de condições sanitárias, da educação escolar e de criação de possibilidades de trabalho para mulheres com ofomento do artesanato.

De particular significado foi a conversão de Sophie à Ortodoxia, em 1891. Por esse ato, o seu irmão, Guilherme II, de convicções protestantes, cortou as relações com a irmã, chegando a proibir inicialmente a sua entrada na Alemanha, no que não foi respeitado. Essa medida, que lança luz sobre o caráter tempestivo de Guilherme II, demonstra também que mesmo em âmbito familiar nem tudo o que dizia em arroubos era levado totalmente a sério. A sua filha, Viktoria Luise, transmite lembranças positivas das relações familiares.

Constantino possuia formação alemã, tendo estudado em Heidelberg. Era tão integrado na cultura estudantil alemã que pertencia ao Corps Saxo-Borussia, o que pressupunha elos de lealdade e fidelidade. Participou na Primeira Guerra dos países balcânicos, em 1912. Subiu ao trono após o assassinato de seu pai e liderou o exército grego na Segunda Guerra dos países balcânicos contra a Bulgária. Devido a seus elos com a Alemanha, não queria que o seu país participasse ao lado daqueles da Entente contra aqueles da Europa central, o que ia de encontro com o Primeiro Ministro, que considerava a dependência do país com relação à força naval da Grã-Bretanha. Este, deposto em 1915, conseguiu, com o apoio dos países da Entente, criar um govêrno alternativo no Norte da Grécia, e levar à deposição de Constantino, em 1917, retornando este ao trono através de plebiscito, em 1920. No período que se seguiu à sua deposição, o trono passou a seu segundo filho, Alexander, justamente por que se partia da certeza que o Príncipe-Herdeiro possuia vínculos estreitos e simpatia pela Alemanha.


Príncipe Christian da Dinamarca e esposa, nascida Duquesa Alexandrine de Mecklenburg

 
Vínculos com a Dinamarca

Vulto chave para a compreensão de elos na rêde criada por parentescos na Europa de fins do século XIX e início do XX é Christian IX (1818-1906), que tornou-se rei da Dinamarca em 1863, cognominado de "sogro da Europa", uma vez que as suas filhas se uniram com várias casas européias. O seu palácio de Glücksburg passou a ser chamado de "berço das casas reais européias".  Glücksburg tornou-se o centro de origem das casas reais da Dinamarca, Noruega e da Grécia. Seus descendentes encontravam-se em casas reais de numerosos países, entre eles Bélgica, Inglaterra, Grécia, França, Luxemburgo, Monaco, Noruega, Rumênia, Rússia, Espanha, Suécia, Alemanha e Áustria.

A mãe de Christian IX era uma princesa alemã, Louise de Hessen-Kassel (1817-1898). Como Friedrich VII (1808-1863) morreu sem filhos, Christian IX, cuja formação esteve a cuidado de Friedrich VII, foi designado em 1863 para ser o seu sucessor, fundando assim a linha de Glücksburg da Casa de Oldenburg na Dinamarca. No início de sua regência, tentou a anexação de Schleswig em 1863, o que levou à guerra com a Prússia (e Áustria), na qual a Dinamarca foi derrotada. Na Paz de Viena, os ducados de Schleswig-Holstein e Lauenburg passaram à Áustria e à Prússia.

O seu filho, Friedrich VIIII (1843-1912), tornou-se rei da Dinamarca, em 1906. A sua filha mais velha, Alexandra Caroline (1844-1925) casou-se com Eduard VII da Inglaterra, tornando-se rainha da Grã-Bretanha e Irlanda; o já citado Georg I Wilhelm (1845-1913), tornou-se rei da Grécia; a segunda filha, Maria Dagmar (1847-1928), uniu-se em matrimônio, sob o nome de Maria Fjodorovna, àquele que viria a ser Czar Alexander III da Rússia (1845-1894); a sua terceira, Thyra Amelie (1853-1933), casou-se com o Duque de Cumberland, pretendente do trono de Hannover, tornando-se sogra de Viktoria Luise. O segundo filho de Christian IX tornou-se, em 1863, o rei Georg I da Grécia; o seu terceiro filho, Waldemar (1858-1939), Príncipe da Dinamarca, casou-se com uma princesa de Orléans. O seu filho mais velho, Friedrich VIII (1843-1912), casou-se com uma princesa sueca; o seu filho, Christian X (1870-1947) a partir de 1912, casou-se com a Duquesa Alexandrine de Mecklenburg (1879-1952), uma irmã da Princesa Real Cecilie, cunhada de Viktoria Luise, estreitando os laços com a Alemanha. O segundo filho de Friedrich VIII, Carl, tornou-se o rei Haakon VII (1872-1957) da Noruega. O terceiro filho, Harald, casou-se com Helena de Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg, uma sobrinha da imperatriz da Alemanha.

Vínculos com a Suécia e Noruega


Príncipe Gustav da Suécia (posteriormente Gustav V)

 
Os elos entre o império alemão e a Suécia no período guilhermino eram determinados também pela presença dos Hohenzollern através da mãe e da esposa de Gustav V (1858-1950), rei a partir de 1907. A sua mãe era Sophia de Nassau (1836-1913), casada com Oskar II (1829-1907) da Suécia. A sua esposa, Princesa (Sophia Maria) Viktoria de Baden (1862-1930), com a qual se casou em 1881, que se tornou rainha da Suécia, era filha do Grão-Duque Friedrich I de Baden (1826-1907) e de Luise, única filha daquele que viria a ser o primeiro imperador alemão, Wilhelm I (1797-1888).

Viktoria e Gustav V tiveram três filhos, Gustav VI. Adolf (1882-1973), que viria a ser rei da Suécia; Wilhelm (1884-1965), Duque de Södermanland e Erik Gustav (1889-1919), Duque de Westermanland. Viktoria era tão vinculada ao império alemão que era chefe de regimento real de fusileirosl da Prússia, o regimento pomerâneo, denominado segundo o seu nome de "Rainha Viktoria da Suécia".

Testemunho desses estreitos elos foi a celebração das bodas de prata dos pais de Gustav V. na Alemanha, em Karlsruhe, juntamente com as bodas de ouro dos Grão-Duquesa de Baden. A seguir, visitaram oficialmente Berlim, o que levou à visita do casal imperial alemão a Estocolmo. Em 1909, ambos os monarcas inauguraram a ligação férrea e de ferry-boat a vapor de Saßnitz a Trelleborg.


Príncipe Gustav da Suécia e espôsa, Princesa Viktoria de Baden, na carruagem na Alemanha, 1906

 
Demonstração mais brilhante dos laços entre a Alemanha e os países nórdicos foi a grande parada do II Corpo de Armada pomerano em Stettin, em 1911, ocasião em que Guilherme II nomeou Gustav V a chefe do regimento de granadeiros a cavalo. Esse regimento passou a usar desde então as iniciais do rei da Suécia. Nessa parada, o rei da Suécia liderou o seu regimento no desfile perante o imperador alemão. A rainha da Suécia abriu o desfile de outro regimento, assim como também a imperatriz da Alemanha.

Havia, porém, grandes diferenças de estilo e modos de vida entre Guilherme II e Gustav V, uma vez que este era avesso a manifestações de pompa e grandiloquência. Apesar dos estreitos elos com a Alemanha, Gustav V. conseguiu manter a neutralidade dos países nórdicos, o que viria a ser favorável para a manutenção da forma de govêrno na Escandinávia.

Tendo visitado o Egito em diferentes ocasiões, Viktoria teve o seu interesse despertado pela arqueologia, interesse que compartia com o de Guilherme II (e que também havia sido o de Pedro II do Brasil). Doaria, posteriormente, a sua coleção ao Instituto de Egitologia da Universidade de Uppsala, conservado sob o título de "Museu Victoria de Antiguidades Egípcias" no Museum Gustavianum. Se Guilherme II podia desenvolver o seu interesse pela arqueologia na sua propriedade em Corfu, Viktoria tem o seu nome vinculado a Capri.



    

Guilherme II espera visita de Haakon VII da Noruega no Neues Palais, Potsdam

 

                      

(...)


Síntese de trabalhos apresentados por estudantes em seminários. As discussões terão prosseguimento





  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - Academia Brasil-Europa (A.B.E.) - e do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (Institut für Studien der Musikkultur des portugiesischen Sprachraumes, I.S.M.P.S. e.V.), visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens: https://brasil-europa.eu


  2. A A.B.E. é entidade exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias. É, na sua orientação teórico-cultural, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. A Organização de Estudos de Processos Culturais remonta a entidade fundada e registrada em 1968 (Nova Difusão). A A.B.E. insere-se em tradição derivada de academia fundada em Salzburg pelos seus mentores, em 1919, sobre a qual procura sempre refletir.