Doc. N° 2020
Direção: Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath e Curadoria Científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
94 - 2005:2
Análise de processos culturais interamericanos: latinidade e mundo não-latino Trabalhos da A.B.E. no Caribe
No âmbito do seu projeto Transatlântico, a Academia Brasil-Europa desenvolve estudos relativos às interações entre processos culturais interamericanos e transatlânticos a partir de uma perspectiva euro-brasileira. Com esse projeto, a organização procura superar focalizações particulares dos estudos transatlânticos, em geral marcadas por tradições histórico-coloniais ou por contingências políticas. Para Portugal, os estudos transatlânticos dizem respeito ao mundo lusófono criado desde a época das Descobertas na América, ou seja, sobretudo ao Brasil. Essa perspectiva tem sido naturalmente assimilada no Brasil, onde, porém, o termo passa também a ser utilizado no contexto dos estudos das relações do país com a África. Na Alemanha, - apenas para citar um outro exemplo - entende-se sob o termo Transatlântico sobretudo as relações com os Estados Unidos (em menor escala com o Canadá), havendo inclusive um programa oficial de fomento das relações transatlânticas compreendidas nesse sentido e derivado de circunstâncias do após-Guerra. Não se incluem habitualmente aqui outras conexões transatlânticas, mesmo aquelas relativas a regiões de migração alemã na América do Sul. Essas particularidades no estudo cultural das relações transatlânticas podem ser explicadas pelo vir-a-ser histórico e pelas circunstâncias singulares que marcam os enfoques. Para a ciência cultural, porém, representam empecilhos que necessitam ser superados, sobretudo devido à nova situação que se criou com a união européia.
Também o estudo cultural de contextos interamericanos necessita ser repensado nos seus fundamentos teóricos. Preso em parte à tradição de um interamericanismo compreendido como movimento, apresenta conotações histórico-políticas variadas. Não apenas deve-se fazer uma diferenciação cuidadosa com relação ao panamericanismo ou outros conceitos similares. Os processos culturais vigentes nas diferentes nações americanas não podem ser separados de suas conexões com processos transatlânticos e, em escala menor, transpacíficos. As relações entre os diferentes países não apenas foram basicamente determinadas pelo passado colonial. Elas se transformaram no decorrer dos séculos em estreito relacionamento com acontecimentos europeus e euro-africanos ou americano-africanos. Os estudos euro-brasileiros necessitam, portanto, segundo a concepção da Academia Brasil-Europa, considerar essa complexa rêde de relações para que possam superar delimitações de perspectivas derivadas sobretudo de uma tradição da Lusitanística e dos estudos Luso-Brasileiros implantada em alguns centros europeus em situações político-culturais dos anos 30.
Nas discussões empreendidas, em ciclos e em seminários, procurou-se detectar e analisar complexos temáticos que possam permitir o desenvolvimento dos estudos euro-brasileiros sob essa nova perspectiva. Tratando-se de um complexo amplo de processos culturais ativados pelos Descobrimentos, pela cristianização e colonização das Américas, os estudos euro-brasileiros não se desenvolvem apenas no Brasil ou na Europa. Várias questões podem ser elucidadas quando se consideram situações culturais em outras regiões do continente americano. Nelas, o estudioso pode perceber similares expressões culturais em configurações diversas, contribuindo para aguçar a sua capacidade de observação e oferecer novas perspectivas para interpretações. Essas contextualizações podem inclusive auxiliar na reconstrução de edifícios culturais e simbólicos apenas conhecidos de modo fragmentário em complexos nacionais singulares.
Nesse programa de estudos, após terem-se desenvolvidos trabalhos preliminares nos Estados Unidos, com o objetivo de entrelaçar a comunidade latina, em particular brasileira da América do Norte com a rêde euro-brasileira de estudiosos, a A.B.E. decidiu realizar uma série de encontros e de observações no Caribe, retomando trabalhos já anteriormente efetuados. A importância do Caribe para os estudos brasileiros não tem sido até hoje devidamente considerada. Não apenas o Norte do Brasil, em especial o Amapá necessita ser considerado nos seus elos com um universo não-ibérico na sua formação colonial, ou seja, com as Guianas. A história indígena não pode ser separada, sob muitos aspectos, dos seus elos com o mundo indígena do Caribe, em grande parte extinto ou submerso. A influência do Caribe - sobretudo musical, mas também de estilos de vida e de concepções - faz-se perceber de forma crescente no Brasil nos últimos anos. O significado do Caribe para os estudos euro-brasileiros é, porém, sobretudo relevante sob o ponto de vista teórico da análise de contextos interculturais. A multiplicidade de influências coloniais latinas e não-latinas, ibéricas e não-ibéricas, com as respectivas diferenças religiosas e com a presença judaica permite que se considere situações complexas passíveis de serem analisadas no espaço geograficamente reduzido das várias ilhas, concentrando a atenção dos estudiosos em determinados fenômenos e processos.
Por esses e outros motivos discutidos nos seus eventos, a A.B.E. tem dado especial atenção nos últimos anos aos países do Caribe, procurando desenvolver cooperações com várias instituições e pesquisadores. No mês de março de 2005, esses trabalhos foram retomados, estabelecendo-se contactos in loco em Puerto Rico, Virgin Islands, Aruba e Curaçao. Procurou-se, aqui, sobretudo ampliar os estudos das relações culturais para além de perspectivas bi-laterais.
A.A.B.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).