Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 146/12 (2013:6)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2013 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 3054





"Alemanidade" em círculos de ilustração familiar na Alemanha do início do século XX
e colonias alemãs no Brasil
"Um Jubileu Alemão no Brasil" no Die Gartenlaube de 1900
50 anos de Blumenau, Joinville e a instalação da Colonia Hansa da Sociedade Hanseática


 

Os estudos da A.B.E. de 2013, dedicados que foram em particular a relações entre a Alemanha e o Brasil sob a perspectiva de elos entre regiões da antiga Prússia, em parte pertencentes hoje a outros países, em particular à Polonia, do Norte da Alemanha e do espaço do Mar do Leste nas suas referenciações com o Brasil, consideraram sob diversos aspectos conceitos de Alemanidade nas suas relações com a colonização e de aclimatação de europeus nos trópicos. (Veja e.o.http://revista.brasil-europa.eu/143/Hans-von-Hayek.html)


O desenvolvimento do pensamento, dos intuitos e das iniciativas coloniais na Alemanha no período anterior à Primeira Guerra Mundial exige a consideração da recepção de notícias relativas às colonias, não apenas nos círculos mais imediatamente relacionados com estudos colonias, mas sim também na sociedade em geral.


Os intuitos político-culturais do "Deutschtum" não podem ser considerados em estudos de processos culturais mais diferenciados apenas nas suas tendências mais extremas do "alemão total", mas sim nas suas relações e inserções em processos culturais mais amplos de conscientização de uma Alemanidade em continuidade a um espírito de conscientização nacional e do Romantismo.


Considerar com mais cuidado relações e diferenças entre o movimento político mais extremo com as suas questionáveis conotações e anelos expansionistas e raciais nas suas diferenças e proximidades desenvolvimentos mais amplos, romântico-sentimentais em círculos mais amplos da sociedade surge como uma necessidade para os estudos culturais, também e sobretudo nas suas consequências para as colonias no Brasil.


Nesse intuito, a atenção dirigida a órgãos de divulgação de conhecimentos e de ilustração em famílias pode colaborar ao reconhecimento de tendências do pensamento e estados de espírito em círculos sociais mais amplos. Essas publicações ofereciam informações e orientações em leituras que relacionavam o trivial com novos desenvolvimentos nas ciências, na cultura e nas artes.


A atenção dirigida em 2013 à esquecida escritora Elisabeth Krickeberg (1861-1944), mãe de importante etnólogo e americanista, justificada pelo fato de ter escrito um ensaio valorizador da arte plumária indígena, trouxe à consciência o papel da mulher na vida cultural alemã da passagem do século XIX e XX. (Veja outros artigos nesta edição)


Ao mesmo tempo, esse surpreendente desenvolvimento do movimento feminino e a intensidade das atividades de mulheres na vida cultural nos grandes centros alemães, em particular em Berlim no período anterior à Primeira Guerra, não pode ser compreendido sem a consideração dos seus pressupostos culturais determinados sobretudo pelas características da educação feminina e familiar da época.


Nessa educação, a leitura de períodicos ilustrados de grande divulgação desempenhava importante papel. Significativamente, é em órgão como "O Caramanchão de Jardim" (Die Gartenlaube: Illustriertes Familienblatt), editado sob a redação de Adolf Kröner em Stuttgart, que se encontram vários artigos que tematizam a mulher, p.e. sobre a história do movimento feminino alemão e sobre a reforma do vestuário feminino. (Veja artigos nesta revista)


No mesmo ano que essa "folha de famílias" trouxe à lembrança de seus leitores mulheres no movimento nacional alemão remontante ao início do século XIX e o desenvolvimento posterior dele resultante, a Gartenlaube publicou um artigo celebrando a passagem dos 50 anos de fundação de Blumenau e Joinville.


Colonia Hansa. Die Gartenlaube 1900

Sob o título de "um jubileu alemão no Brasil", esse texto, incluío na seção "Folhas e Flores", documenta com a qualificação de "jubileu alemão", a visão de seu autor de desenvolvimentos coloniais sob a perspectiva da Alemanidade. (Robert Gernhard, "Ein deutsches Jubiläum in Brasilien", Die Gartenlaube: Illustriertes Familienblatt 23, 1900, 392)


Esse texto de 1900, desconhecido até o presente da literatura referente ao Brasil e às relações entre a Alemanha e o Brasil, ganha em significado histórico sobretudo pelas fotografias que contém de Blumenau, Joinville e da então iniciante colonia de Hansa, promovida pela Sociedade Hanseática de Colonização.


Para além assim da intenção do artigo em salientar a prosperidade das colonias que celebravam os seus cinquenta anos de existência, fazendo com que os leitores alemães participassem mentalmente dos festejos a serviço de sentimentos de comunhão em alemanidade, o autor documentou o prossseguimento das atividades coloniais no presente da passagem do século, promovidas sob o signo altamente significativo da tradição hanseática.


De início, Robert Gernhard oferece dados genéricos a respeito de Joinville e Blumenau, como se as duas cidades fossem ainda desconhecidas por muitos dos leitores.


Nessas informações, porém, toma o cuidado sempre se salientar que eram comunidades de características puramente alemãs, sugerindo, assim, que o seu desenvolvimento devia-se sobretudo ao fato de possuirem administrações exemplares segundo modêlos da Alemanha, assim como escolas em língua alemã que garantiam a permanência do idioma.


"Dona Francisca com a capital Joinville e Blumenau com a principal cidade de mesmo nome são dois povoamentos no Estado sul-brasileiro de Santa Catarina, nos quais vivem mais do que 50000 alemães em alegre prosperidade. As principais fontes de manutenção dessa população são a agricultura, o comércio e a indústria, assim como atividades manufatureiras que se encontram em grande florescimento. Blumenau, fundado no ano de 1850, e Dona Francisca, fundada em 1851, são colonias de caráter puramente alemão, elas possuem ambas administrações comunitárias do tipo alemão dirigidas até mesmo de forma modelar, escolas excelentes com língua de ensino alemã, assim duas igrejas católicas e um número de igrejas evangélicas só com pastores alemães." 


A seguir, quase que sugerindo que as colonias deviam servir de exemplo aos próprios alemães, salienta que a população de Joinville e Blumenau possuoa fortes sentimentos de Alemanidade. Teriam sido esses sentimentos que possibilitaram um alto grau de desenvolvimento da vida associativa nessas comunidades e teriam sido essas sociedades que garantiram a manutenção da ordem em épocas conturbadas após a proclamação da República no Brasil.


"A população puramente germânica, apegada muito tenazmente á Alemanidade desenvolveu a vida associativa a alto grau, de modo que por exemplo, durante os movimentos revolucionários da última década, os bombeiros voluntários, as sociedades de tiro e de guerra puderam manter a ordem em ambas as colonias e proteger os habitantes de infelicidade maior."


Tratando-se de uma "folha de famílias ilustrada", onde naturalmente as imagens desempenhavam papel de importância, compreende-se que grande parte do texto referencie-se segundo as fotografias apresentadas. Assim, é a partir de um grande panoram de Joinville (Veja título) que o autor demonstra a beleza da paisagem e inclua observações a respeito das condições climáticas favoráveis.


Passando a considerar Blumenau, o autor salienta também a sua situação privilegiada, exemplificando-a a partir de uma fotografia do seu porto.



"O clima subtrópico da terra é ameno e saudável, doenças epidêmicas não se conhece, também o território é rico de belezas de paisagens, o que demonstra a nossa fotografia de Joinville. Também porém Blumenau, que assim como Joinville possui algo mais do que 3000 habitantes e da qual oferecemos um panorama do porto em imagem, está situada magnificamente."


A terceira fotografia comentada reproduz uma casa de colono da incipiente Hansa, uma "colonia de floresta".


O autor parte aqui também das qualidades da região, sobretudo da fertilidade das terras, além da sua proximidade às colonias mais antigas de Dona Francisca e Blumenau.


Ainda que a fotografia apenas demonstre uma primitiva cabana, essa impressão é relativada pela sua menção que seria substituída certamente por casa ampla, solidamente construída, como em outras localidades. Voltando à principal característica dessa "colonia de floresta", ou seja, a fertilidade do solo, salienta que ali cresceriam de forma recompensadora várias plantações, e que até mesmo, nos locais mais elevados, cereais e frutas alemãs.



"A nossa terceira imagem mostra uma casa de colono da Colonia de Floresta Hansa, que abrange 600 000 ha, situada entre Dona Francisca e Blumenau em região magnífica, muito fértil e que apenas há poucos anos foi fundada pela Sociedade de Colonização Hanseática em Hamburg. A casa de moradia é construída de troncos de palmeira e coberta de folhas de palmeira. Essas casas servem apesar de seu tipo leve de construção como moradia até que com o progressivo desenvolvimento da jovem povoação dêem lugar a casas mais amplas, construídas de tijolos. Como nas povoações irmãs, assim também planta-se na Colonia Hanseática com sucesso recompensador café, açúcar, arroz, milho, batatas doce e outras, laranjas, verduras européias etc, enquanto que em lugares mais altos também trigo, cevada e frutos alemães crescem excelentemente."


O leitor atento desse texto da Die Gartenlaube não pode deixar de ganhar a impressão que aqui se trata de um reclame a interessados em emigrar para a colonia hanseática, ou pelo menos de colocá-la à luz favorável por ocasião da celebração dos 50 anos de Joinville e Blumenau.


O escopo último do artigo, porém, é a Alemanidade e a sua permanência. Esse objetivo é expresso claramente na frase que finaliza o texto e que manifesta o desejo de que essas colonias continuassem a manter a sua cultura alemã no Brasil.


"Dona Francisca e Blumenau festejam neste ano 50 anos de existência. Queiram as florescentes colonias também no futuro continuar a desenvolver-se fortemente mantendo a sua característica alemã."


De ciclo de estudos sob a orientação de
Antonio Alexandre Bispo







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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. ""Alemanidade" em círculos de ilustração familiar na Alemanha do início do século XX
e colonias alemãs no Brasil: "Um Jubileu Alemão no Brasil" no Die Gartenlaube de 1900: 50 anos de Blumenau, Joinville e a instalação da Colonia Hansa da Sociedade Hanseática".
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 146/12 (2013:6). http://revista.brasil-europa.eu/146/Blumenau-Joinville-Hansa.html