Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Hans von Hayek

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Hans von Hayek
 


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 143/5 (2013:3)
Professor Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia e Conselho Científico
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
- Academia Brasil-Europa  -
e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2013 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Doc. N° 2995


ABE

"A Alemanidade no Exterior é a nossa mais importante colonia"

A abertura de caminho de Blumenau a Joinville pelas matas da serra (1903)
a serviço do
Deutschtum na juventude alemã
em texto de Karl Alexander Wettstein e ilustrações de Hans von Hayek (1869-1940)


A África na história colonial alemã nas suas implicações para o Brasil - o papel de Mecklenburg II


Ciclo de estudo "O Báltico e as relações Alemanha-Brasil", sessão de Rostock. Após 5 anos de viagens de estudos ao Espírito Santo, Mecklenburg-Pomerânia Ocidental e países bálticos. Ano Brasil/Alemanha 2013 da A.B.E. pelos 30 anos do primeiro simpósio de atualização dos estudos da imigração e colonização alemãs nas Américas

 
Karl Alexander Wettstein
No ciclo de estudos "O Báltico e as relações Alemanha-Brasil" realizado em cidades do espaço do Norte da Alemanha e de outros países da área do Mar Báltico ou do Leste considerou-se, entre outras questões, a participação de membros de familias aristocráticas alemãs, em geral oficiais militares, em empreendimentos e estudos coloniais e da emigração. (http://revista.brasil-europa.eu/143/Baltico-Brasil.html)


Esse empenho por questões coloniais, ainda que primordialmente de natureza econômica e de poder político, relacionaram-se estreitamente com movimentos de fomento da Alemanidade (Deutschtum), intento que torna-se particularmente compreensível em contextos de fronteiras de cidades bálticas, tais como Königsberg, onde se faziam sentir mais intensamente impulsos de afirmação.


Entre aqueles aristocratas que, com os seus nomes e posições de influência mais contribuiram à promoção da política colonial e a aceitação das idéias voltadas à propagação do Deutschtum encontram-se os duques de Mecklenburg Johann Albrecht (1857-1920) e Adolf Friedrich (1873-1969). (Veja http://revista.brasil-europa.eu/143/Karl-Alexander-Wettstein.html)


Com as suas viagens e múltiplas atividades contribuíram a um direcionamento das atenções à África e ao aumento de interesses na Alemanha por questões africanas, que se estendeu também a seus povos, idiomas e tradições.


Esse intensificado interesse pela África - e pela arte africano na tradição do exotismo - na passagem do século relacionou-se, assim, - ainda que de difícil compreensão numa primeira aproximação -, com o movimento colonial e com o da promoção do Deutschtum no sentidos do "alemão integral" (Alldeutscher Verband).


O que pouco se tem considerado são as implicações para o Brasil desse interesse pela África nos meios dos empreendimentos e estudos coloniais na Alemanha.


África, Deutschtum e as atividades e textos de K. A. Wettstein referentes ao Brasil


A vida e a obra do oficial Karl Alexander Wettstein (*1872) demonstram o caminho profissional de um militar e técnico que inserido no entusiasmo pela África da passagem do século e que preparou-se não apenas sob o aspecto técnico, mas também através do estudo de línguas e de ciências tropicais para a atuação colonial no Sudoeste da África Alemão, hoje Namíbia.


Tendo que retornar da África por exaustão e doença de nervos, passou a seguir a atuar em trabalhos viários nas regiões de colonização alemã de Santa Catarina a serviço do seu desenvolvimento econômico. A sua vinda ao Brasil foi, assim um problema de aclimatação, insucedida na África, mais positiva sob as condições climáticas favoráveis de Blumenau. (Veja http://revista.brasil-europa.eu/143/Karl-Alexander-Wettstein.html)


As experiências ganhas no Brasil, complementadas por estudos de fontes, permitiram que Karl Alexander Wettstein se doutorasse em 1907, na Universidade de Heidelberg com uma dissertação dedicada ao Brasil, em particular a Blumenau. (Brasilien und die deutsch-brasilianische Kolonie Blumenau, Leipzig: F. Engelmann, 1907).


O capítulo que mais correspondeu às suas atividades de medição de terras, de abertura de caminhos, de vias para transportes e implantação de ferrovias em Santa Catarina mereceu ser publicado à parte.

Hans von Hayek


Experiências em Santa Catarina em versão popular dirigida a jovens alemães


Que os trabalhos desenvolvidos por K. A. Wettstein tanto no Sudoeste da África Alemão como no Brasil foram imbuídos de convicções de Alemanidade acima de fronteiras, do "alemão inteiro", isso demonstra o uso que fêz das experiências ganhas em Santa Catarina para publicações de cunho popular, particularmente destinadas à juventude alemã.


Um dos problemas que preocupavam os colonialistas imbuídos de convicções de Deutschtum no Sudoeste da África Alemão dizia respeito à reprodução da colonia sem miscigenações, possibilitando a permanência do idioma, modos de vida e expressões culturais nas novas gerações, o que surgia como testemunho de saúde, força vital e aclimatação racial bem sucedida. A questão da aclimatação do europeu era de atualidade, sendo discutida em institutos e congressos coloniais. Compreende-se, assim, que uma das iniciativas do duque Johann Albrecht zu Mecklenburg foi o fomento da ida de mulheres alemãs para casamentos com os homens do Sudoeste da África.


No Brasil, Wettstein encontrou em Joinville e Blumenau comunidades prósperas e cujos descendentes conservavam o idioma e os costumes, manifestando vitalidade e espírito empreendedor. Os jovens teuto-brasileiros surgiam assim como prova do sucesso da colonização alemã no Brasil e como exemplos encorajadores na argumentação colonialista. Compreende-se, assim, que não os colonos, mas sim os seis filhos surjam no centro das atenções em publicação de K. A. Wettstein intitulada "com filhos de colonos alemães pela selva brasileira" e que, com 210 páginas, 42 ilustrações e dois mapas apresenta a um público amplo de leitores a viagem ao e através do sul do Brasil do autor. (Mit deutschen Kolonistenjungen durch den brasilianischen Urwald! Selbsterlebte Weihnachtsgeschichte. Eine Reise nach und durch Südbrasilien und seine deutschvölkischen Kolonien, Leipzig: Friedrich Engelmann, 2a. ed. 1910).


O título dessa publicação manifesta não apenas o intuito do autor em colocar sugestivamente os jovens filhos de colonos em primeiro lugar, com os quais atravessou a floresta, mas também o de apresentá-los como alemães, nova geração de colonias que qualificava segundo concepções "povísticas" de "deutschvölkisch". Ao mesmo tempo, incluindo uma história de Natal por êle vivenciada, demonstra o intuito do autor de conquistar emocionalmente os seus leitores.


Essas características da publicação indicam intuitos pedagógico-propagandísticos, oferecendo, com base em experiências próprias, e portanto como testemunhos merecedores de crédito de situações reais, exemplos que deviam empolgar e encher de orgulho os jovens leitores.


Significativamente, essa publicação foi recebida positivamente pelo Jornal Alemão de Professores (Allgemeine Deutsche Lehrerzeitung). Comentando-a, esse órgão salientou que vinha de encontro ao vivo interesse das crianças alemãs por livros de aventuras, um entusiasmo que era satisfeito em geral por livros sem valor literário. A descrição das viagens e aventuras de Wettstein no Brasil mereceria, ao contrário, ser lida por todo o menino alemão, que certamente encontraria prazer na sua leitura.

Esse comentário do Jornal Alemão de Professores, salientando a excelência da publicação no rol dos livros de aventuras, traz à consciência o significado e as consequências dessa literatura juvenil para a formação cultural e mental, para a visão do mundo e para a motivação dos seus leitores.


A leitura de livros de viagens e aventuras, em particular também referentes a indígenas (Veja ) marcou a formação de jovens que tiveram o desejo despertado em conhecer regiões distantes e seus povos, fato conhecido da história de vida de vários viajantes, missionários e pesquisadores. Etnólogos que como Theodor Koch-Grünberg (1872-1924) muito contribuiram ao aumento dos conhecimentos deveram a essa literatura a sua motivação.


Um aspecto dessa literatura juvenil de aventuras pouco considerado é a função por ela exercida na afirmação da própria auto-consciência cultural alemã em espécie de internalização da épica nela descrita como exemplificada na obra de Wettstein. O objetivo do autor era o de criar uma situação de sintonia, do vibrar em conjunto dos jovens leitores com os jovens alemães das colonias brasileiras, cheios de energia e espírito destemido.


Compreende-se, nesse contexto, que os comentários do Diário de Leipzig salientassem que essa publicação era um "livro certo" para os filhos alemães. Essa expressão sugere que a obra não apenas colocava em evidência o filho de colonos qualificado de alemão segundo conceitos "deutschvölkisch" mas que também era adequado para a formação de filhos de alemães de mesma convicção.


Também salientando as qualidades literárias do texto, a folha de Leipzig dizia ser Wettstein um mestre da arte do conto, capaz de levar o leitor através das selvas cheias de perigos, permitindo que os vivenciasse na leitura. Acompanhando os protagonistas, co-vivenciando essa travessia das florestas, o leitor imbuía-se de orgulho com a energia férrea dos seus conterrâneos nas colonias de povo alemão. Em linguagem precisa, as aventuras eram contadas de modo a prender a atenção, sendo acompanhadas sem tréguas até a tocante festa de Natal que encerrava a viagem. O livro conquistava, assim, de pronto os corações da juventude.


A exploração de caminhos nas selvas brasileiras e a Didática da História na Alemanha


Esses comentários da imprensa serviram à apresentação de uma nova publicação de alguns de seus capítulos sob o título "Através da selva brasileira: Vivências numa exploração de caminhos nas colonias povístico-alemãs do Sul do Brasil" (Durch den brasilianischen Urwald. Erlebnisse bei einer Wegerkundung in den deutschvölkischen Kolonien Süd-Brasiliens von Dr. K.A. Wettstein, Hauptmann a.D., Colonia: Harmann & Friedrich Schaffstein, s/d).


O caderno, que conheceu várias edições, foi editado por Nicolaus Henningsen como N° 14 da série dos "livrinhos verdes", uma série que divulgava textos para a História e Geografia, incluindo crônicas, diários de guerra, descrições de viagens e relatos de descobridores famosos.


O nome de Nicolaus Henningsen e sua participação no desenvolvimento de conceitos relativos à função do ensino da História nas escola foi lembrado em publicação recente, o que indica a atualidade de uma consideração mais atenta da inclusão da obra de Wettstein relativa ao Brasil na série por êle editada (W. Hasberg, M. Seidenfuß eds., Geschichtsdidaktik (en) im Griff des Nationalsozialismus? Münster: LIT 2005 = Geschichtsdidaktik in Vergangenheit und Gegenwart 2, 59).


As concepções de Henningsen são consideradas sobretudo a partir de sua atuação no período posterior à Primeira Guerra no âmbito dos debates sôbre a nova orientação do ensino da História no contexto da primeira jornada cultural socialdemocrática em Dresden, em 1921 ("Die Neugestaltung des Geschichtsunterrichts", Der neue Geschichtsunterricht, Verhandlungen des Ersten Sozialdemokratischen Kulturtages in Dresden, ed. Arbeitsgemeinschaft sozialdemokratischer Lehrer und Lehrerinnen Deutschlands, Berlim 1921, 15-31).


Apesar das dificuldades em determinar com maior precisão nas suas inserções políticas as concepções de Henninsen - se de cunho sociológico ou socialista - , considera-se que para êle a evolução humana nas suas relações produtivas levava a organizações socializadas, estatais ou de corporificação, e essa era uma tarefa da escola na sua função de preparar o aluno para a vida em sociedade; esse viveria posteriormente o aprendido quando pequeno e no Pequeno no Grande (loc.cit.).


Uma concepção assim esboçada não era porém nova, mas já preparada em décadas anteriores, e um singular testemunho pode ser visto no texto de Wettstein sôbre o Brasil incluído na série.


Convicções de Wettstein: unindo mundos separados para um Todo


O autor manifesta já na abertura da publicação as suas convicções "povísticas" quando ao Deutschtum como responsável pela prosperidade das colonias de Blumenau e Joinville, salientando que o desenvolvimento regional tinha sido possibilitado pela energia de trabalho e espírito empreendedor alemães.


Lembrando que trabalhara durante muitos anos como engenheiro para a Companhia de Colonização Hanseática na exploração de um território ainda cercado de florestas, a sua principal tarefa tinha sido a de criar ligações entre as colonias como pressuposto para o seu desenvolvimento econômico através da procura de caminhos e a preparação para a implantação de ferrovias. Com esse objetivo, realizou viagens e conheceu outras colonias, assim como comunidades de alemães em grandes cidades, em particular em Porto Alegre e São Paulo.


Nessas atividades, conhecera não apenas jovens colonias, mas também e sobretudo jovens colonos imbuídos do entusiasmo na interligação de colonias separadas no sentido de desenvolvimento de uma comunidade maior para o progresso geral.


O autor lembra que foi a partir de dois portos diferentes, S. Francisco e Itajaí que se dera há 50 anos a criação das colonias de Joinville e Blumenau. Elas tinham-se desenvolvido em direção contrária às correntezas, aos rios, riachos do território, entrando cada vez mais para o interior. Ambos os territórios, porém, permaneceram separados devido a uma alta serra.


Nas regiões mais afastadas de ambos grupos coloniais surgiram novas colonias através da Sociedade de Colonização Hanseática (H.K.G.), entre elas a Colonia Hansa Humboldt e a Blumenauer Hansa. A Colonia Hansa Humboldt, que seguia à de Joinville e que tocava a norte a colonia São Bento, encontrava-se na época repleta de imigrantes e exigia cada vez mais elos econômicos com as colonias vizinhas. Por outro lado, a Colonia Hansa, a oeste de Blumenau, chamada de Blumenauer Hansa, devia ser povoada mais intensamente.


Nessa situação, o já idoso diretor colonial da região recebera da H.K.G. a permissão de procurar um caminho através da serra que separava os dois grupos coloniais. Em 1903, quando Wettstein chegou à região, essas montanhas cobertas de densas matas nunca tinham sido atravessadas, não havendo guias.


O alemão nascido na terra como guia: o jovem Weber de São Bento


Para a preparação da expedição, realizou-se uma reunião de Wettstein com o diretor colonial em hotel de Joinville, onde, após as refeições, se reuniam os joinvillenses (Veja http://revista.brasil-europa.eu/141/Joinville-e-alemanidade.html). Uma expedição na época do verão surgia como não recomendável e mesmo irrealizável devido à quantidade de insetos.


No decorrer dos estudos e dos trabalhos de medições realizados em ambas as colonias Hansa ao longo dos principais rios, encontrou-se um mapa que, ainda que apresentasse grandes áreas em branco, indicava a rêde de correntezas de ambas as colonias. O fim da expedição era o rio Plate, que desagua no Hercilio. A viagem ao interior passou pela colonia Humboldt e outras novas fundações da Hansa de Joinville, cruzando São Bento até atingir Reichenbach, que foi o ponto de partida para a expedição.


O momento decisivo do empreendimento - e motivo central da publicação - deu-se quando da visita de Wettstein a um colono originado de Württemberg, morador da colonia São Bento. A êle chegou-se um jovem de nome Weber, filho de um oficial e técnico de medições de terras da Sociedade de Colonização Hanseática. Ainda que sem nunca ter sido guia, o jovem tinha crescido na floresta e acompanhado os trabalhos de medição de terras e de abertura de picadas e ruas. Possuia, assim, um conhecimento da região, das suas condições e prática de orientação e abertura de caminhos.


"Dieser junge Waldläufer, ein frischer, flotter Bursche von etwa 22 Jahren, hatte zwar noch keine selbständige Kolonne durch den Wald geführt, war aber sozusagen im Walde groß geworden, und es gingen, wie wir gehört hatten, die Kolonistenjungen (...)für ihn durchs Feuer. (...)
Hochderfreut war ich, als ich diesen jungen Burschen kennen lernte. Er schien gleich auf den esten Blick der richtige Mann für uns zu sein. Gestützt auf solche junge Kraft, (...) konnte es uns am Erfolge nicht fehlen (...)"
(op.cit. 9)


As ilustrações de Hans von Hayek


Na consideração da publicação do texto de Wettstein na série de Henningsen relativo às aventuras quando do seu primeiro empreendimento em Santa Catarina, em 1903, e que trata do "abrir caminhos" em diversos sentidos, uma especial atenção deve ser dada às ilustrações que o acompanham.


O autor dos desenhos do Durch den brasilianischen Urwald, Hans von Hayek, foi um artista austríaco que se nacionalizou alemão em 1908 e que, hoje caído em esquecimento, tem a apreciação de sua obra dificultada pelo fato desta ter sido severamente atingida pelo incêndio do Palácio de Cristal de Munique, em 1931, e pela destruição do seu atelier em bombardeamento de 1945.


Mesmo sob essas condições desfavoráveis, pode-se reconhecer que os seus desenhos que ilustram as aventuras ocorridas em Santa Catarina merecem muito maior atenção do que poderiam sugerir à primeira vista.


Esse seu significado decorre de início do fato da obra de Hans von Hayek inserir-se em determinada corrente do desenvolvimento da pintura de paisagens, de Genre do mundo de língua alemã de fins do século XIX e início do XX.


Após estudos na Wiener Kunstgewerbeschule, von Hayek transferiu-se em 1891 para Munique, onde estudou na Kunstakademie. Foi sobretudo influenciado pelo pintor Heinrich von Zügel (1860-1941), especializado em pintura de paisagens e de animais, desde 1895 Professor da instituição.


Este seu professor havia-se formado na Alemanha. Tendo estudado desde 1869 na Kunstschule Stuttgart, tornara-se destacado pintor de cenas de Genre e de animais. De Stuttgart, Heinrich von Zügel transferira-se para Viena em 1873 e, a seguir, para Munique. Essa tradição remontante a escola de Stuttgart explica uma tendência de Heinrich von Zügel em representar retratos de animais nas suas relações com o homem em cenas marcadas por situações de risco, relativadas porém por um humor da tradição da pintura de Genre.


Já na década de 1880, Heinrich von Zügel sentiu-se fascinado pela natureza quase que selvagem dos brejos de altitude da região de Dachau. Abandonando o atelier, passou a trabalhar ao ar livre. Na próxima etapa do seu desenvolvimento artístico, passou a ser influenciado pelo Impressionismo, que dirigiu a sua atenção a qualidades atmosféricas e de luminosidade.


A carreira de Hans von Hayek demonstra grandes similaridades com a do seu mentor, uma vez que também percorreu os mesmos grandes centros e atuou em Dachau. Nessa região, sede já de renomada escola de artistas, Hans von Hayek fundou uma escola particular de pintura, voltada sobretudo à pintura ao ar livre, sendo também co-fundador da socidade do museu de Dachau e colaborador na formação da galeria de arte e do museu regional da cidade.


Von Hayek viajou por diversos países europeus, visitando não apenas as grandes metrópoles, mas também aldeias, como a de pescadores nos mares do Norte e do Leste.




Das mensagens das ilustrações de Hayek, pintor de batalhas da Primeira Guerra


A especialização de Hans von Hayek em retratar cenas ao ar livre, movimentos complexos em situações de dramaticidade qualificou-o a ser pintor de batalhas na Primeira Guerra Mundial.


O seu interesse pelo mundo extra-europeu manifestado nas ilustrações das aventuras de Wettstein em Santa Catarina, levou-o a longas viagens, tendo visitado a Indonésia, Sri-Lanka, Sumatra e outras regiões, registrando impressões em desenhos, aquarelas e pinturas.


Também as ilustrações para o o caderno Durch den brasilianischen Urwald testemunham as características da arte de Hans von Hayek e permitem interpretações quanto a seus sentidos literários e de concepções culturais . 


Para além de uma representação ampla de paisagem de colonia à margem de grande rio, de imagens de cascadas ou de acampamentos em aberturas à sombra de araucárias, provavelmente baseadas em fotografias, os desenhos ilustram cenas que testemunham audácia e coragem em situações dramáticas, a energia em abrir caminhos na luta contra o intricado de cipós e no capim, o esforço do carregamento de fardos pelas picadas e, por fim, o combatente em ato vitorioso em pé sobre a sua canoa.


O idílio da pintura de paisagens relaciona-se com a representação de situações de luta e de coragem em por em perigo a vida para o alcance de uma finalidade maior. As situações de risco surgem desativadas quanto ao mêdo que poderiam criar pela expressão de um espírito leve e mesmo lúdico de combatentes certos da vitória.


Ao mesmo tempo, os desenhos sugerem o valor da camaradagem, o romantismo do sentimento de grupo ao redor do fogo no acampamento e o superar obstáculos em ação solidária, assim como várias outras mensagens que representaram ate mesmo lugares comuns, ditos populares e imagens convencionais na cultura alemã e que tiveram consequências para posteriores desenvolvimentos político-culturais sob o Nacionalsocialismo. O leitor sente-se tentado a dar um título a cada ilustração correspondente a seu conteúdo.


"Durch alle Glieder zuckt' es schnell und aller Augen blitzten hell, und während der Compadre wie ein Sieger auf dem Schlachtfeld in seinem Kanu dastand, klatschte der kleine Weber vor Freude auf seine beiden Schenkel, als ob er Schuhplattler tanzte (....)" (op.cit. 63)


Continuidade da irradiação das aventuras em Santa Catarina após a Primeira Guerra


Mesmo depois da Guerra, as experiências de Wettstein no Brasil continuaram a ser divulgadas no âmbito de uma literatura de viagens de teor político mantenedor de visões "povísticas".


Assim, o seu artigo "Na floresta brasileira" ("Im brasilianischen Urwald"), surge au lado de texto de título "No fosso do inferno do Ngari-tsangpo" de Sven Hedin (1865-1952) em coletânea de aventuras de título "cercado pela morte" (Sven Hedin, K.A. Wettstein, Chr. Miller, O.C. Artbauer, In fernen Ländern, Reutlingen: Enßlin & Laiblin, 1925



Ciclo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "A Alemanidade no Exterior é a nossa mais importante colonia. A abertura de caminho de Blumenau a Joinville pelas matas da serra (1903) a serviço do Deutschtum na juventude alemã em texto de Karl Alexander Wettstein e ilustrações de Hans von Hayek (1869-1940)". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 143/5 (2013:3). http://revista.brasil-europa.eu/143/Hans-von-Hayek.html