Alemães no Brasil e na Romênia: cidades. BRASIL-EUROPA 134/20. Bispo, A.A. (ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS
Revista
BRASIL-EUROPA
Correspondência Euro-Brasileira©
Alemães no Brasil e na Romênia: cidades. BRASIL-EUROPA 134/20. Bispo, A.A. (ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS
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©Arquivo A.B.E.
Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 134/20 (2011:6)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência
e institutos integrados
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
Doc. N° 2829
Minorias, Patrimônio e Educação em situações de pluralidade étnica e cultural
Grupos populacionais de ascendência alemã no Brasil e na Romênia IV: cidades
Trabalhos da A.B.E. na Romênia pelos 40 anos da primeira sessão de arquitetura e estudos culturais do Museu de Folclore/FAU-USP, São Paulo
Sighișoara/Schäßburg, 2011
Como tematizado no Forum Rio Grande do Sul do Congresso Internacional de Estudos Euro-Brasileiros, em 2002, questões culturais relativas à identidade e à consciência histórica de comunidades remontantes à colonização e imigração européia, em particular alemã, necessitam ser levadas em consideração no ensino escolar. Como a história da colonização relaciona-se estreitamente com a da ocupação das terras, da abertura de picadas, caminhos e estradas, com a implantação de povoados e cidades, geografia urbana e história local e regional passam constituir um complexo disciplinar de particular significado para uma educação culturalmente adequada. Para o desenvolvimento das reflexões, o cotejo com caminhos seguidos em situações multiculturais marcadas pela colonização alemã de outras partes do globo surgem como significativas pelos impulsos que podem oferecer (vide texto sobre arquitetura no ensino).
Nesse sentido, realizaram-se observações de conteúdos e métodos de ensino dedicados a questões de implantação de povoados no decorrer da história da colonização "saxônica" na região de Siebenbürgen, na Rumênia. Uma das cidades especialmente consideradas em compêndios escolares dedicados à minoria de língua alemã e a escolares que frequentam escolas que incluem o idioma alemão no país é Sighișoara/Schäßburg/Segesvár, sendo oportuno, assim, escolher-se essa cidade para o tratamento do tema.
Essa cidade, a antiga Castrum Sex e, mais tarde, Saxoburgum, na jurisdição de Mureș, no Siebenbürgen, é cidade de importância histórica e arquitetônica, considerada como parte do patrimônio cultural mundial pela UNESCO.
A sua história é estreitamente vinculada à da colonização alemã da região, promovida pelo rei da Hungria no século XII. O seu nome aparece em fontes históricas pela primeira vez no ano de 1280, como Castrum Sex, e, em 1298, como Schespurch ou Schaesbrich. Em húngaro, passou a ser conhecida como Seguzwar, no século XIV. Dessa denominação em húngaro, derivou-se o nome rumeno de Sighișoara.
A consideração do surgimento de assentamentos urbanos em livros escolares
Os escolares rumenos são confrontados de início com a questão de como se originam assentamentos. Aprendem que esses são implantados em locais onde há água suficiente e onde o terreno é suficientemente sêco e plano para construções. Tais condições existem no curso de rios e riachos e também às margens de lagos e do mar. Para além do terreno e da água, o clima também desempenha papel importante. No passado, também se necessitava considerar como a localidade poderia ser defendida no caso de ataque.
Como um exemplo, cita-se que as primeiras linhas de casas da colonização alemã na Romênia originaram-se em Sighisoara/Schässburg não na várzea do grande Kokel/Tárnava Mare, fácilmente inundável, mas numa elevação onde se construiu mais tarde um burgo. A posição da localidade em sítio elevado era também favorável à defesa.
Quanto ao desenvolvimento das localidades, considera-se que muitas localidades de alemães surgiram em áreas que já haviam sido anteriormente povoadas. Para a fundação de novas precisava-se primeiramente derrubar a floresta - por exemplo na região de Buchenland/Bukovina ou no Wasssertal na Muramuresch -, ou drenar várzeas, como no Banat. Na Idade Média, as localidades se desenvolveram a partir de pequenos sítios individuais, dispersos ou próximos. Aos poucos foram-se formando linhas de casas através da ampliação sistemática das povoações.
Quanto às formas dos povoados, os estudantes aprendem que diferentemente das colonias medievais, que de início apenas possuiam poucas chácaras, aos poucos ampliadas, os assentamentos alemães no Banat constituiram, de início, em geral, grandes aldeias. Essas localidades foram projetadas de antemão segundo modêlos ordenados geométricamente. Como exemplo, os alunos estudam o plano urbano de Schöndorf/Frmuseni (Arad).
Entrando já no âmbito dos Estudos Culturais, os escolares rumenos aprendem que a pesquisa da formação urbana das colonias não pode deixar de considerar a tradição oral. Há muitas estórias e mesmo lendas a respeito da origem de cidade que necessitam ser consideradas por fazerem parte da memória das populações.
Como exemplo, estudam a lenda da formação da cidade de Krassna-Ilsky/Crasna-Ilschi na Bukovina. Com base em livro de estórias a respeito da história de cidades, aprencem que o nome dessa cidade é derivado de um príncipe rumeno (Ilschi), que veio a Krassna e ali construiu um castelo e uma igreja. Essas construções eram, porém, de madeira e foram destruídas pelos turcos. Da antiga Krassna originaram-se, em 1805 e 1810, quando foram abertas as primeiras oficinas de trabalho em vidro, os povoados boêmio-alemães de Althütte e Neuhütte. Os boêmios ali trabalhavam como fabricantes de vidro, enquanto que os eslovacos e alguns Zipser ali se dedicavam ao trabalho em madeira. As últimas oficinas de fabricação de vidro de Schöntal foi transferida para Putna na década de 40 e acabou incendiada na Segunda Grande Guerra. Os escolares podem, aqui, visitar as suas ruínas.
Dentro de fora de muros: cidades no Siebenbürgen
Aprendem que, nas cidades povoadas por alemães da Idade Média no Siebenbürgen, viviam diferentes tipos de pessoas. Essas tomaram a precaução, até o século XVIII, que apenas alemães podiam adquirir propriedade dentro dos muros, e apenas aquele que possuia terreno e casa na cidade tinha direitos de cidadania. A esses direitos correspondiam deveres, tais como o pagamento de impostos e a defesa da urbe. Como os nobres não queriam renunciar a seu direito de isenção de impostos, não lhes era permitido morar nas cidades "saxônicas". No decorrer do tempo, outros grupos étnicos se assentaram fora dos muros, sobretudo romenos, judeus e armênios; também alemães sem meios, que se dedicavam à agricultura, viviam fora das muralhas.
Quanto às camadas mais pobres da população urbana, os escolares são defrontados com o problema da grande pobreza que também existia nas cidades. Lembra-se que pouco se sabe a respeito dessa parcela populacional, pois não foi considerada nos documentos. Nos registros de impostos do século XV acham-se nomes de proprietários de casas, mesmo que essas fossem apenas cabanas. Quem não tinha condições de pagar impostos, era obrigado a realizar trabalhos para a cidade; um exemplo apresentado é o da colonia de pobres formada por pastores e pescadores "saxões" na periferia do centro velho de Kronstadt.
Outro grupo considerado no ensino é aquele constituído por funcionários dependentes, servos e empregadas domésticas, assim como auxiliares em casas comerciais. Também pobres, não eram organizados em corporações, desenvolvendo pouca consciência coletiva.
Um aspecto importante salientado no ensino é o do papel exercido pelos comerciantes como "portas ao mundo". Esse papel é estudo no exemplo da cidade de Brașov/Kronstadt. Lembra-se que essa cidade era, na Idade Média, a principal metrópole comercial da área do Danúbio e Cárpatos. Privilégios concedidos pelos reis húngaros garantiam a liberdade das vias comerciais para os países da Europa Central e Ocidental. Essa mobilidade havia também nas regiões autônomas da Moldávia e da Valáquia. Assim, Kronstadt tornou-se centro de trocas de mercadorias. Ali se vendiam peixes do Danúbio, vinho do Sul da Hungria, sal de Salzburg/Ocna Sibiului e do país dos Sekler, algodão, lã, tintas da Turquia e de todo o Levante. Ao redor de 1500, no mercado de Kronstadt podia-se encontrar tecidos finos dos Países Baixos, de Colonia ou de Londres. Facas e instrumentos de metal para agricultura vinham do Steiermarkt ou de Nürnberg. Dali se exportavam produtos, entre êles telas de linho, armas, facas, objetos de ouro, prata e estanha, carros, papel, cordas, botas, cervejas e outros produtos. Assim, com os privilégios dos reis húngaros e dos príncipes da Moldávia e da Valáquia, os "saxões" de Siebenburgen participaval do comércio do Mar Negro e no intercâmbio com o Oriente, daqui obtendo especiarias ou seda, assim como com o Ocidente, daqui recebendo tecidos finos ou armas. Salienta-se, neste contexto, o significado do Direito de feitoria, ou seja, o de obrigar a comerciantes que por ali transitavam a depositar por algum tempo as suas mercadorias na cidade e ali comercializá-las.
Diferenciado-as das cidades amuralhadas do Siebenbürgen, os escolares aprendem as diferentes condições de comércio das cidades do Banat, tal como Temeswar/Timisoara, que, durante o período da ocupação turca, de 1552 a 1716, decaíram, precisando ser até mesmo reconstruídas após a sua expulsão. Assim, o primeiro governador militar austríaco do Banat precisou muito trabalhar para a reconstrução de Temeswar; mesquitas foram transformadas em igrejas católicas. Aos poucos, elegeu-se um magistrado dos círculos dos colonos alemães e surgiram manufaturas e fábricas na periferia da cidade, o que levou a que a região fosse designada explicitamente de "Fábrica". Ali haviam tipografias, fábrica de velas, de lápis, produtoras de artigos de tabaco, de aguardente e cerveja. O centro da cidade passou, assim, a ser designada como "fortaleza de Temeswar".
Leitura de nomes de ruas
Um dos temas praticados em exercícios de leitura urbana no ensino romeno diz respeito ao nome de ruas e praças. Os escolares aprendem aqui a ler com atenção planos de cidades com indicação de nomes de espaços e observar com mais cuidado as designações ao percorrerem as ruas. Tratando-se de comunidades bilingues, os alunos que conhecem o idioma alemão devem escrever, como exercício, os nomes rumenos nos mapas, substituindo aqueles de ruas, praças, localidades e bairros, rios e campos. Aprendem a indagar a história, por vezes complexa, que se esconde por detrás das denominações e que apenas pode ser compreendida a partir da língua original. Os habitantes utilizaram-se no passado do próprio idioma ou de termos estranhos de outras línguas, fossem traduções ou expressões criadas por similaridade fonética.
Os escolares também aprendem a reconhecer onde denominações foram posteriormente modificadas, adquirindo nomes romenos. Um exemplo das razões de tais procedimentos é o do povoado Probsdorf, próximo de Mediasch. Os romenização desse nome alemão em Prostea surgia conotada negativamente, levando à sua substituição por uma nova denominação, a de Târnava. Para o observador, essa troca de nomes representa, hoje uma dificuldade para o desenvolvimento dos estudos.
Círculo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo
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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Minorias, Patrimônio e Educação em situações de pluralidade étnica e cultural Grupos populacionais de ascendência alemã no Brasil e na Romênia IV: cidades". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 134/20 (2011:6). http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Teuto-Romenos-Cidades.html
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