Kuan Yin na Malásia. Revista BRASIL-EUROPA 135/15. Bispo, A.A. (Ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS
Revista
BRASIL-EUROPA
Correspondência Euro-Brasileira©
Kuan Yin na Malásia. Revista BRASIL-EUROPA 135/15. Bispo, A.A. (Ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS
Revista
BRASIL-EUROPA
Correspondência Euro-Brasileira©
_________________________________________________________________________________________________________________________________
Índice da edição Índice geral Portal Brasil-Europa Academia Contato Convite Impressum Editor Estatística Atualidades
_________________________________________________________________________________________________________________________________
Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.
Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 135/15 (2012:1)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência
e institutos integrados
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
Doc. N° 2856
Tradições religiosas cristãs-ocidentais e asiáticas em processos internacionalizadores II
o culto a Kuan Yin na Malásia
Ciclo de estudos Malásia/Brasil da A.B.E.. Templo de Kuan Yin e Templo Kek Lok Si, George Town, Penang
A passagem dos 500 anos da "reconquista" de Goa e da conquista de Malaca por Afonso de Albuquerque, assim como da chegada oficial dos portugueses ao Sião marcou os estudos voltados a relações entre povos e culturas e a processos culturais em dimensões globais, sobretudo aqueles desenvolvidos sob a perspectiva do mundo de língua portuguesa.
Necessariamente, a atenção se dirigiu aqui a uma história marcada pelas navegações portuguesas e pelas regiões alcançadas do Oriente, também elas portos de mar e de grandes rios. Os homens de mar portugueses alcançaram um mundo também marcado pela navegação e pelo comércio marítimo, destacando-se aqui as atividades de mercadores árabes e chineses.
Expressões culturais da vida do mar provenientes de diferentes contextos se encontraram e interagiram. O estudo de processos inter- e transculturais encontra aqui vasto campo de pesquisas, retomando, sob novas perspectivas, temas que no passado teriam sido antes tratados sob o enfoque da ciência comparada de religiões.
A atualidade das questões que aqui se levantam se revela no atual interesse pela internacionalização da ciência, abrindo-se aqui caminhos para a consideração de processos internacionalizadores cujos fundamentos foram lançados no passado e para a compreensão dos pressupostos culturais da visão desses desenvolvimentos nos diferentes contextos.
Já na abertura dos trabalhos preparatórios da A.B.E. em Singapura, em 2009, constatou-se que o mar e a navegação deveria necessariamente estar no centro dos estudos voltados ao encontro e interações culturais, assim como o dos processos deles resultantes.
Os estudos culturais desenvolvidos in loco, porém, foram dirigidos de forma mais profunda ao edifício de concepções e imagens dos diferentes grupos populacionais envolvidos na história multiétnica, multicultural e plureligiosa de Singapura. Constatou-se, entre outros aspectos, o papel extraordinário que a veneração da divindade feminina relacionada com as águas desempenhou e desempenha entre os chineses que ali vivem. (Vide https://revista.brasil-europa.eu/127/Mazu-em-Singapura.html)
Esses trabalhos tiveram continuidade, em 2011, em diversas cidades do Sudeste da Ásia. Em diferentes contextos constatou o significado de um mundo marcado pelas águas para os estudos culturais e de processos internacionalizadores na região. Regiões marcadas por vales de grandes rios, baixas, sujeitas a inundações determinou a vida e as expressões culturais de cidades como Bangkok e Saigon (Ho Chi Minh) (vide https://revista.brasil-europa.eu/135/Veneza-do-Oriente.html). Esses rios se relacionam com o vasto universo marítimo determinado sobretudo pelo Mar do Sul da China. Nada mais natural foi, assim, que se retomasse o complexo de questões já tratado nos estudos preparatórios em Singapura a partir de uma outra perspectiva geográfico-cultural, concentrando a atenção agora a outro estado da da Península malaia, à Malásia.
Sob a perspectiva do Brasil, cumpre lembrar que esse porto assumiu sob alguns aspectos o papel que coube anteriormente a Belém ou Manaus no comércio mundial da borracha.
Assim como outras grandes cidades marcadas pelas águas do Sudeste Asiático, constata-se nessa cidade portuária a força de expressões culturais de cunho mariano, manifestada na sua antiga catedral, dedicada à Assunção como a de Bangkok. (Vide https://revista.brasil-europa.eu/135/Culto-mariano-na-Malasia.html).
George Town, possuidora de grande e influente parcela populacional de ascendência chinesa, sobretudo de origem no Sul da China, manifesta também a força de expressões culturais relacionadas com o culto a Kuan Yin.
Kuan Yin entre os chineses de Penang - a imagem da virgem negra
A virgem Kuan Yin é dedicado o mais antigo templo chinês de Penang, o Templo Kong Hock Keong, que remonta a 1801, ou seja, aos primórdios da povoação. Foi construído em área cedida aos chineses pela Companhia Britânica das Índias Orientais. Conhecida também como deusa da graça ou misericórdia (Kuan Im Teng, Goddess of Mercy, Bodhisattva da Compaixao Universal) é procurada pelo auxílio e proteção que concede em amor a seus devotos na sua vida "no mar deste mundo". Nesse sentido, o templo foi dedicado inicialmente à virgem Ma Chor Po', uma de suas expressões, protetora dos navegantes. É procurada também na esperança de auxílio ao alcance de felicidade e prosperidade.
O templo indica, na sua arquitetura, os elos culturais dos chineses da imigração com as suas regiões de origem. Construído segundo a tradição chinesa, integrando elementos estilísticos de Hokn e Cantão, possui, na câmara interior, uma imagem com 18 braços, indicadores da profusão de suas potências e dos benefícios que dela emanam.
Kuan Yin na montanha do templo Kek Lok Si: unidade e diversidade no Budismo
A mais evidente expressão da intensidade e da atualidade do culto a Kuan Yin encontra-se na montanha do templo Kek Lok Si, o templo do raio supremo ou também da suprema felicidade. Trata-se de um dos maiores, senão o maior templo budista do Sudeste da Ásia, assumindo um significado transcendente por ser procurado tanto por budistas da tradição Theravada como Mahayana. Torna-se, assim, um centro de encontro religioso-cultural de cunho internacional, visitado tanto por tailandeses que se vinculam antes ao budismo Theravada, como por chineses e budistas de outras regiões que se prendem antes a formas de expressão Mahayana. Uma possível predominância dessa última tradição parece explicar a intensidade de expressões mais exteriores e da intercomunicação de imagens e práticas que ali se observa.
A atualidade do culto a Kuan Yin e mesmo a intensificação da sua veneração se manifestam no fato de a ela ter sido recentemente levantada uma estátua em bronze de grandes proporções no alto da colina acima do pagode.
Substituindo a imagem anterior, danificada por fogo, esse monumento foi construído em 2002. Os trabalhos tiveram desde então continuidade, levantando-se um pavilhão para protegê-la, uma espécie de templo que, aberto, permite que continue ao ar-livre, voltada à grande paisagem que se abre a seus pés. Essa construção, completada em 2009, é constituida por 16 colunas ornamentadas com motivos da imagem do dragão e que seguram a cobertura, trina, de formato octogonal.
A consideração do culto a Kuan Yin nas suas diversas contextualizações regionais e formas de expressão adquire, sob a perspectiva dos estudos brasileiros, não apenas significado no sentido de pesquisa de fundamentos e de imagens em geral e de expressões da parcela populacional de ascendência chinesa no Brasil.
Surge como de relevância também para estudos culturais relacionados com a Umbanda e práticas afins.
Esses estudos, que vem sendo desenvolvidos há décadas no âmbito da A.B.E., incluiram, em 1993, uma visita de pesquisadores ao Vale do Amanhecer que, não distante de Brasília, compreende-se como centro de sincretismo em dimensões mundiais.
A estátua de Kuan Yin em Penang testemunha que outra esfera do globo passa a assumir na atualidade dimensões que superam o significado regional da veneração, apresentando a divindade, de forma monumental, como centro de um edifício de concepções e imagens de abrangência mundial. Esse fenômeno merece particular atenção nos estudos culturais do presente, em especial considerando-se o renovado interesse por uma internacionalização da ciência ou uma ciência sem delimitações.
Grupo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo
Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.
Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Tradições religiosas ocidentais e asiáticas em processos internacionalizadores II. O culto a Kuan Yin na Malásia". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 135/15 (2012:1). https://revista.brasil-europa.eu/135/Kuan-Yin-em-Penang.html
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: https://brasil-europa.eu
Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.
Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.