Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Santa Leopoldina ES. Ernst Wagemann

Santa Leopoldina ES. Ernst Wagemann

Santa Leopoldina ES. Ernst Wagemann

Colonos alemães no Peru

Colonos alemães no Peru

Colonos alemães no Peru

Colonos alemães no Peru

Fotos no texto A.A.Bispo.

Na coluna: fotos em sepia e do vale de Oxapampa, Peru, de H. Milk, "Die deutschen Siedlungen in Peru", Durch alle Welt 18 (1936), 9-10
©Arquivo A.B.E.









 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 143/8 (2013:3)
Professor Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia e Conselho Científico
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
- Academia Brasil-Europa  -
e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2013 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Doc. N° 2998






De montanhas da Europa e das planícies da Pomerânea a Santa Leopoldina/Tirol


A aclimatação do europeu nos trópicos e os Pomeranos no Brasil
100 anos da viagem do economista teuto-chileno Ernst Wagemann (1884-1956) ao Espírito Santo III

Ciclos de estudos "O Báltico e as relações Alemanha-Brasil". Após 5 anos de viagens de estudos ao Espírito Santo, Meklenburg-Pomerânia Ocidental e países bálticos. Ano Brasil/Alemanha 2013 da A.B.E. pelos 30 anos do primeiro simpósio de atualização dos estudos da imigração e colonização alemãs nas Américas

 
Espírito Santo. Foto A.A.Bispo

Espírito Santo. Foto A.A.Bispo
A passagem dos cem anos da viagem de pesquisas do cientista social e economista teuto-chileno Ernst Wagemann às colonias alemãs do Espírito Santo - um trabalho pioneiro de extraordinário significado para os estudos da colonização e imigração - dá ensejo a que seja relido à luz dos trabalhos eurobrasileiros que vêm sendo desenvolvidos nas últimas décadas. (Veja http://revista.brasil-europa.eu/143/Aclimatacao-do-europeu-nos-tropicos.html)


Em viagem à região, há cinco anos, várias das cidades de formação histórica colonial foram visitadas, entre elas Santa Leopoldina. Nessa ocasião, foram tratadas diferentes questões relativas à história da colonização dessa região do Espírito Santo nas suas relações com desenvolvimentos históricos na Europa e em cotejos com a história da imigração alemã no Sul do Brasil.


Ernst Wagemann dedica particular atenção a Santa Leopoldina, que trata em sequência a Santa Isabel, sugerindo o papel relevante que essa cidade desempenhou para a comprovação de sua tese através de pesquisa de campo no Espírito Santo.


Para compreender o seu escopo e a sua argumentação, cumpre lembrar que o autor partia das preocupações então atuais nos estudos coloniais e tropicais relativas à aclimatação do europeu nos trópicos.


Se muitos partiam da idéia de que apenas fatores climáticos e fisiológicos eram determinantes do sucesso ou não da aclimatação do branco no meio estranho, Wagemann defendia a posição de que também e talvez sobretudo fatores sociais e econômicos deveriam ser considerados na análise de situações.


O sucesso da aclimatação mostrava-se na manutenção não só da saúde física e na fertilidade, mas sim também na conservação tão duradoura quanto possível do idioma, de modos de vida, técnicas de trabalho e expressões culturais da terra de origem dos imigrantes.


Ernst Wagemann
Santa Leopoldina oferecia-se para a comprovação dessa tese de forma particularmente favorável.


Santa Isabel, fundada na década de 40 do século XIX, tinha sido desde início uma colonia totalmente alemã, constituídas por 38 famílias provenientes do Reno e do Hunsrück, regiões montanhosas que correspondiam àquelas do Espírito Santo.

Os colonos teriam encontrado, ali, condições de terras montanhosas comparáveis àquelas a que estavam acostumados na terra natal.


Santa Leopoldina, fundada em 1851 no rio Santa Maria da Vitória, era uma colonia antes mixta, com imigrantes vindos de diferentes regiões européias, primeiramente também sobretudo montanhosas, a seguir, porém, da Pomerânea, terra de planícies. A explicação do sucesso da aclimatação dos pomeranos apenas poderia ser assim explicada através de fatores sociais e econômicos.


Questões a respeito da denominação "Santa Leopoldina"


Karl Ilg, no seu fundamental livro sobre os colonos de língua alemã na América do Sul, obra dedicada à memória da Arquiduquesa Leopoldina da Áustria (1797-1826), primeira imperatriz do Brasil, lembra que 17 cidades trazem o seu nome (Karl Ilg, Heimat Südamerika: Brasilien und Peru. Leistung und Schicksal deutschsprachiger Siedler, Innsbruck-Wien: Tyrolia, 2 ed. 1982).


Na sua veneração à Arquiduquesa, o autor austríaco menciona que o nome Santa Leopoldina não designava originalmente apenas a pequena cidade, então chamda de Porto do Cachoeiro, mas sim toda a região povoada por colonos de idioma alemão. Os colonos, que também veneravam a memória da Primeira Imperatriz, e antecedendo resoluções eclesiásticas que nunca foram tomadas, teriam valorizado ainda mais o seu nome, santificando-o. (op.cit. 142)


Se essa explicação é baseada em obra de fins da década de 30 do século XX que serviu de fonte ao pesquisador (Ernst G. Nauck, Gustav Gremser, Eine Studienreise nach Espirito Santo, Hansische Universität, Abhandlungen aus dem Gebiet der Auslandskunde 4, Hamburgo 1939), não corresponde àquela transmitida por Ernst Wagemann com base nas informações obtidas na região antes da Primeira Guerra.


Segundo os dados registrados por Wagemann, o nome não teria sido dado em homenagem à Primeira Imperatriz, mas sim à Princesa do Brasil Dona Leopoldina (1847-1871), filha de D. Pedro II. Teria havido, assim, um programa lógico nas denominações, uma vez que Santa Isabel havia sido denominada segundo a sua irmã Isabel.

Ao casar-se com Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gotha, a Princesa do Brasil tornou-se Princesa de Saxe-Coburg-Gotha e Duquesa de Saxe, assim estreitamente inserida na alta nobreza centro-européia de língua alemã. Significativamente, veio a falecer prematuramente em Viena. Dois de seus filhos foram príncipes brasileiros e herdeiros presuntivos; após o nascimento do primeiro filho da Princesa Isabel, surgiu da progenitura de Leopoldina o ramo de Saxe-Coburgo e Bragança da família imperial do Brasil.


A referência à Primeira Imperatriz seria segundo essa elucidação antes indireta, através da sua neta.


A explicação de Wagemann apenas pode ser entendida supondo-se que, ao dedicar-se a colonia à Princesa do Brasil, lembrou-se da tradição do nome que trazia e que levava não apenas à sua avó imperatriz como também a um nome altamente conceituado e mesmo venerado no mundo dos Habsburgs.


A consideração de um contexto tão profundamente marcado pela tradição dos Habsburgs abre perspectivas para elucidações mais adequadas da denominação de Santa Leopoldina, uma vez que a suposta atribuição gratuita da designação de "Santa" à Primeira Imperatriz do Brasil - ou muito menos à sua neta - não surge como convincente e provável.


Antes poder-se-ia pensar na tradição familiar do nome, marcada pela memória de Maria Leopoldine da Áustria (1632-1649), filha mais jovem do Arquiduque Leopoldo V da Áustria-Tirol (1586-1632), esposa do Imperador Romano-Alemão Ferdinand III (1608-1657). Entrando na história pela sua religiosidade e sendo uma das mais relevantes representantes da nobreza européia na Ordem Terceira de S. Francisco - Imperatriz do Sacro Império e rainha da Hungria e da Boêmia -, era venerada na sepultura Leopoldo na cripta dos Capuchinhos em Viena. Foram os Capuchinhos aqueles que mais marcaram a vida religiosa dos colonos católicos nessa fase do povoamento europeu do Espírito Santo.


O nome do santo padroeiro daqueles segundo êle denominados - lembrado pelos católicos sempre no dia do nome, festejado em lugar do aniversário, ao contrário do uso presente - justificava, assim, diferentes referenciações, pois lembrava a respeitada Primeira Imperatriz e, ao mesmo tempo, a sua neta, a Princesa do Brasil. A designação "Santa Leopoldina" apenas pode ser compreendida a partir da tradição católica e, correspondentemente, das suas dimensões espirituais.


A memória da Primeira Imperatriz do Brasil  relacionava-se com a vinda de alemães e austríacos ao Brasil à época do Reino Unido, por ela apoiada, não apenas de intelectuais e artistas, mas também de soldados mercenários. Assim explicar-se-ia o fato de terem sido enviados para a região ex-legionários, e, assim, colonos provenientes de diferentes regiões da Prússia, da Saxônia, de Hessen, de Baden, da Suiça, do Tirol, do Luxemburgo, além da França e da Bélgica, neste caso também sobretudo daqueles de língua alemã. (Nauck, E. G. e G. Gremser, apud K. Igl, op.cit. 142).


Essas diferentes regiões de proveniência dos colonos, o que se reflete na denominação de localidades circunvizinhas tais como Luxemburgo, Suiça, Holanda e Tirol justificaria segundo Igl o povoamento "mixto" de Santa Leopoldina em contraste com aquela totalmente alemão de Santa Isabel.


Essa concepção de povoamento mixto, porém, representa uma projeção ao passado de configurações posteriores da história política européia, não correspondendo à complexidade da situação marcada por transformações resultantes das ações napoleônicas e dos intentos de reconstituição da antiga ordem da época da Restauração.


A consideração da história interna européia no relacionamento entre as suas diferentes regiões surge como pressuposto para a história regional de Santa Leopoldina. O povoamento da região deixa de ser "mixto" se considerado nas suas relações com o contexto político-cultural adequado.


A unidade na diversidade na constituição da população revela-se nos seus elos com determinada configuração político-cultural européia, na qual a Áustria do Congresso de Viena e do Príncipe K.W.L. de Metternich (1773-1859) desempenhou um papel de particular relevância.


Tiroleses no Espírito Santo


Na consideração de Santa Leopoldina, tem-se devotado particular atenção à localidade denominada Tirol. Igl, na sua citada obra, expõe o seu "descobrimento" desse povoado em 1966 e os dados que obteve dos missionários de Steyl ali residentes.


A instalação do Tirol é elucidada por Igl com referência à situação de penúria após as guerras napoleônicas no Tirol, e que levara a que tiroleses aceitassem o convite de D. Leopoldina para participarem de uma milícia de estrangeiros no Brasil. Tendo sido posteriormente instalados na região, a êles se seguiram, em 1857, emigrantes provenientes do Stubaital e de Mieming-Obsteig em Oberinntal.


Igl lembra que a origem tirolesa dos habitantes ainda se manifesta hoje nos sobrenomes de famílias de Santa Leopoldina, entre êles Walcher, Pfurtscheller, Egg, Schöpf, Siller, Liner, Rainer, Helmer, Schäfer, Thomes, Greil e outros (op.cit. 144). Singularmente, Igl encontrou, em Pozuzu, no Peru, representantes dessas famílias, o que sugere que haja relações de parentesco entre habitantes de regiões tão distantes entre si (op.cit. 144).


Nas terras montanhosas dessa região do Espírito Santo ("terra fria"), os tiroleses encontraram condições topográficas que lembravam a terra de origem e Tirol tornou-se povoado principal da região. Se o nome de "Santa Leopoldina" parece remeter à veneração de Maria Leopoldine da Áustria na cripta dos Capuchinhos em Viena, também o santo à qual foi dedicada a primeira igreja da localidade, S. Fidelis (1578-1622), indica a ação missionária dos Capuchinhos no Espírito Santo. Essa igreja, construida em 1863, foi obra do Pe. Hadrian Lantschner (+1868), proveniente de Innsbrück.


O culto do primeiro dos mártires da Ordem dos Capuchinhos, cujas relíquias são conservadas no convento Capuchinho de Feldkirch, amplamente difundido na época no sul da Alemanha, Áustria e Suíça, vincula-se à uma época da história religiosa marcada pelo movimento de restauração católica no espírito do Concílio de Triento e à missão católica contra-reformatória na Europa Central.


O seu culto entre os católicos do Tirol no Espírito Santo estabeleceu uma ponte entre a história religiosa e eclesiástica conflitante dessa região européia e um território colonial também marcado pelas tensões com os colonos alemães protestantes que ali se estabeleceram.


O papel central desempenhado pelo povoado Tirol na história cultural da região relacionou-se assim estreitamente com as atividades missionárias, primeiramente dos Capuchinhos austríacos a serviço da Propaganda Fide de Roma. Mais tarde, correspondendo também às transformações causadas pela vinda de levas de imigrantes de outros contextos de origem, a liderança religiosa passaria a outra sociedade missionária.


Suíços no Espírito Santo


A presença de suíços na região relaciona-se sobretudo com a instalação da colonia "Suiça" no Rio Novo, em 1855 ou 1856, esta sobretudo de imigrantes protestantes. Visitada também por Igl, havia sido considerada por Wagemann, que salienta as condições particulares de sua fundação e que a inseriu em contexto diverso daquelas de Santa Isabel e Santa Leopoldina.

Criada por uma sociedade privada, a colonia no Rio Novo teria sofrido com uma administração colonial infeliz que levou à ruína econômica, passando por isso ao Estado.

À época do estudo de Wagemann, já não ali se falava o alemão, ainda que os colonos tivessem permanecido evangélicos. Os colonos tinham-se deixado assimilar a uma comunidade evangélica brasileira e, assim, perdido o seu idioma. Como Wagemann procurava comprovar o sucesso da aclimatação do europeu a partir da permanência do idioma, de modos de vida e costumes e da resistência à assimilação, parece ter procurado uma justificativa, com essa menção, aos problemas encontrados por um empreendimento mal organizado econômicamente.

Esse registro de Wagemann, porém, levanta questões, pois Igl, muitas décadas depois, salienta a sua admiração pelo fato dos descendentes dos antigos suíços não terem perdido o domínio do idioma após 125 anos de isolamento, nele ainda se refletindo características da região da Basiléia. (op.cit. 147)

Segundo Wagemann, após os primeiros 140 suíços, vieram já em 1857 222 colonos de diferentes nacionalidades. Em outubro de 1860 viviam ali 232 famílias, com 1003 pessoas: 384 da Prússia, 76 da Saxônia, 61 de Hessen, 27 de Baden, 13 de Holstein, 13 de Nassau e 19 de outras regiões, num total de 593 alemães. Além do mais, ali se assentaram 120 holandeses, 104 suíços, 82 colonos do Tirol, 70 do Luxemburgo, 8 da Bélgica, 1 da França e 1 da Inglaterra, num total de 386.

Wagemann lembra que o insucesso dessa colonização, em parte devido à qualidade das terras, em parte à má administração, foi registrada por Tschudi, que a visitou em 1860. Entretanto, já em 1867 o Consul Geral prussiano em Vitória registrava um satisfatório desenvolvimento da Colonia. Os melhoramentos eram devidos ao pastor (Reuther), que ali morava desde 1864. Também positivo era o fato de ter ser nomeado para diretor da colonia um botânico alemão (Dr. Rudio).


Em fins do século XIX, foram elas desenvolvidas sobretudo por missionários do Verbo Divino, entre êles Pe. Doldt e Pe. Tollinger, revelados por Igl a partir de seus estudos da crônica paroquial, e que passaram a ser guias religiosos também dos habitantes católicos de Santa Leopoldina e outros povoados por ordem do bispo de Vitória em 1898 (op.cit. 146).


Tirol tornou-se também um centro de ensino escolar a partir de 1897 e da vida musical e cultural com a criação de uma banda de música com instrumentos vindo do Tirol e uma sociedade popular (Volksverein), em 1902. Tradições tirolesas, em particular aquelas natalinas relacionadas com o presépio, eram nessa época cultivadas com particular intensidade, sendo imagens e figuras trazidas do Tirol.


Também em Santa Leopoldina deu-se início nesssa época (1903) à construção de uma igreja e casa paroquial mais representativas, inauguradas apenas em 1913, época da estadia de Wagemann.


Pomerâneos no Espírito Santo


Uma nova fase da história regional nos seus elos com desenvolvimentos na própria Alemanha teve o seu início em 1873, e é essa fase que adquire particular significado para a comprovação da tese de Wagemann.


Se anteriormente o povoamento havia sido feito por colonos provenientes de regiões montanhosas - do do Reno, do Mosela, do Luxemburgo, da Áustria e da Suíça -, a região passou a receber grande números de pomerânios, camponeses provenientes de terras baixas e planas. Apesar do Haydtscher Reskript de 1859, esse fluxo da emigração alemã durou até 1896.


Wagemann procura explicar o sucesso da aclimatação de pomerâneos a partir de seus pressupostos culturais na região natal. Ainda que não estivessem acostumados na sua terra natal a vencer dificuldades de uma região montanhosa - como os tiroleses, austríacos e suiços -, eram diaristas acostumados a trabalho árduo, sendo fortes, com grande força de vontade e contentando-se com pouco.


Os Pomerâneos passaram a representar o principal contingente de colonos alemães protestantes de Espírito Santo. De Santa Leopoldina, estenderam os seus povoados ao sul, ao oeste a depois também ao norte.



A expansão do povoamento nas suas relações com formas de aquisição de terras


Uma questão tratada pelo economista alemão foi a do processo de expansão do povoamento por colonos intensificado em fins do século XIX e início do XX, embora a região não tivesse recebido número considerável de novos imigrantes.


A explicação dessa expansão residia em parte na forte reprodutividade, em parte no esgotamento do solo. Esse processo de povoamento ocorria de forma descontrolada e sem planejamento, ainda que se procurasse combater a ocupação de terras livres do Govêrno.



Em geral, o colono adquiria terra já ocupada por um brasileiro, ainda que sem que esse tivesse títulos. O caminho por este empregado para ocupar terras era simples. Em algum lugar que achasse conveniente, derrubava algumas árvores para demarcar os limites, certo que estes seriam respeitados. A seguir, construia um coberto de proteção com folhas de palmeira, onde primeiramente mora; derrubava um pouco da floresta, queimava o terreno e plantava um pouco de tudo: bananas, capim, café, raízes, feijão - tudo em pequena quantidade.


Quando a plantação crescia - depois de três ou quatro meses , construia uma pequena cabana de troncos, coberta com folhas de palmeira, às vezes até mesmo com pequenas telhas de madeira. Ali vivia alguns anos, podendo também aumentar um pouco o terreno de plantações derrubando mais a floresta.


Em geral, porém, tudo permanecia em escala pequena, de modo que o solo não era esgotado. O colono alemão via nesse terreno cuja abertura já se iniciara uma oportunidade vantajosa para a implantação de um uso mais intenso.


O brasileiro, ao contrário, cujas necessidades apenas podiam ser satisfeitas com dinheiro e que estava acostumado aos mais primitivos meios de vida, vendia com prazer a sua posse para, a seguir, entrar mais dentro da floresta e começar todo o processo de novo.


Assim, o "homem de cor" tornava-se o pioneiro da colonização alemã. Ele costumava também a assentar-se nas ruínas de uma antiga colonia alemã, esgotada e por isso abandonada, e, assim, também tomava a si o papel de retaguarda.


Segundo o autor, comparava-se esse comportamento dos brasileiros na tomada de colonias abandonadas pelos alemães com aquele de um urubú, ou seja, de uma ave que se alimenta de cadáveres.


O preço que se pagava pela terra - embora o objeto de compra era apenas o do trabalho - orientava-se pela qualidade da terra, pela água, pela localização e, em especial, também pelo preço do café.


Tendo tomado posse da terra, o colono ampliava a área derrubada da floresta e dedicava-se à plantação. Não pensava, de início, na sua comodidade. Alimentava-se inicialmente quase que como os da terra. Também não media logo o terreno. Em geral o fazia apenas após vários anos, e  em geral depois de receber ordens oficiais.


Os custos ficavam a cargo do colono, sendo êle muitas vezes prejudicado, pois não existiam instrumentos determinados de medição. Além do mais, corria o perigo de ser cortada uma parte da terra que cultivava e substituida por um terreno não trabalhado, medido por princípios que diferiam da mediçnao do terreno original.


Na medida das possibilidades, um córrego servia como limite. As duas verticais traçadas segundo essa corrente de água são determinadas com um compasso e marcadas por meio de picadas. As ligações de seus fins é a quarta linha delimitadora; às vezes deixava-se de marcá-la com uma picada.


Assim que o colono pagava os custos de medição, recebia um documento de propriedade. A soma de compra que devia ainda pagar ao fisco era paga em geral mais tarde. Assim, as terras do Govêrnio diminuiam gradualmente.


Cada vez mais o povoamento devia ser feito com base na propriedade particular de colonos. Um exemplo daado foi o parcelamento da Fazenda Palmeira em Afonso Claudio no alto Guandú. O fazendeiro que não podia mais continuar com o seu uso econômico, vendeu em parcelas terreno não cultivado de floresta. Construiu uma capela e ofereceu uma praça para a cidade, onde qualquer interessado podia escolher um terreno gratuitamente e construir uma casa.


Em Afonso Claudio, assim como em outros lugares, encontravam-se colonos alemães como semi-locatários. Àqueles que não tinham recursos, esse método evitava uma proletarização e, com grandes esforços, de chegar a independência econômica.


Apenas recentemente chegara-se a um povoamento planejado, controlado pelo Estado. Há vários anos o Estado comprara de alguns fazendeiros no baixo Guandú áreas grandes e fundaram ali a Colonia Afonso Pena. Em 1908, esta passou ao Govêrno central. Ela foi dividida em partes de 50 hectares, com uma casa primitiva, e entregue aos colonos sob certas condições de cultivo.


Embora a colonia fosse excelentemente estabelecida e ainda que os colonos tivessem recebido subsídios, o empreendimento teve apenas pouco sucesso. Wagemann supunha que uma das causas teria sido o excessivo apoio dado aos colonos, como já acontexera anteriormente em Santa Isabel.


Talvez os colonos tivessem se orientado não segundo a qualidade da terra, mas segundo a aparência das casas, estas como sempre construídas nas piores terras. Contrariando as determinações, os colonos de assentamentos mais antigos já se tinham mudado para Afonso Pena, onde alcançaram um certo bem-estar, de modo que ali já havia duas novas comunidades, a Guandú e Crissiume.


Ciclo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "De montanhas da Europa e das planícies da Pomerânea a Santa Leopoldina/Tirol". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 143/8 (2013:3). http://revista.brasil-europa.eu/143/Santa-Leopoldina-ES.html