Creolofonia, Creolidade, Creolismo
ed. A.A.Bispo
Revista
BRASIL-EUROPA 155
Correspondência Euro-Brasileira©
Creolofonia, Creolidade, Creolismo
ed. A.A.Bispo
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BRASIL-EUROPA 155
Correspondência Euro-Brasileira©
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N° 155/5 (2015:3)
Creolofonia, Creolidade,Creolismo
A internacionalização dos estudos creolos nas suas dimensões políticas francofones e o Brasil
Da lingua ao estudo de processos culturais - uma proposta de reorientação
Visita da A.B.E. ao Lenstiti Kreol Enternational, Seychelles
pelos 350 anos da chegada dos franceses nas Mascarenha e 450 anos do Rio de Janeiro
A internacionalização, em 2014, do Institut Créole das Seychelles, com sede em Anse-aux-Pins, no distrito Au Cap, foi um dos motivos que levaram à escolha das ilhas Mascarenhas para a realização de estudos euro-brasileiros em 2015, ano marcado pelas celebrações dos 450 anos do Rio de Janeiro e, na França, dos 350 anos da chegada dos franceses à antiga Ile de France. (Veja)
A criação do Institut Créole International através de declaração assinada pelas Seychelles e por La Réunion, ou seja, por um país independente e um departamento e região do ultramar da França, coloca no centro das atenções os estudos creolos que vem sendo desenvolvidos também em universidades européias, emprestando-lhes nova atualidade e mais amplas dimensões.
Ela traz também à pauta questões teóricas que vem sendo debatidas há muito em cursos e colóquios no âmbito dos estudos promovidos pela Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais através a Academia Brasil-Europa e do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS). (Veja)
Pareceu ser assim necessário considerar os desenvolvimentos do pensamento e da prática cultural no próprio contexto de relações entre as Seychelles e La Réunion, considerando-os da perspectiva dos trabalhos já realizados e do estado atual dos debates de processos culturais relacionados com o Brasil.
Diálogos e cooperações fazem-se aqui necessários, uma vez que as questões teóricas levantadas pela criação do Institut Créole International ultrapassam os objetivos imediatos da instituição segundo o conceito que o define, o do Criolo, devendo ser tratadas nos seus fundamentos conceituais e princípios metodológicos sob a perspectiva mais ampla e diferenciada dos estudos de processos culturais em geral.
Visita promovida pela A.B.E. ao Institut Créole International em Anse-aux-Pins
Um dos momentos dos contatos, as observações e diálogos levados agora a efeito nas Seychelles e em La Réunion foi o da visita ao Institut Créole International em Anse-aux-Pins.
De início, lembrou-se do ato recente que conferiu a internacionalidade ao Institut Créole, das principais personalidades e dos pesquisadores envolvidos, assim como os seus objetivos. O protocolo foi assinado por Alain Saint Ange, Ministro do Turismo e da Cultura das Seychelles, Didier Robert, Presidente do Conselho Regional, Géneviève Iancu, Embaixatriz da França, assim como Nassimah Dindar, Presidente do Conselho Geral de La Réunion.
O projeto de criação desse instituto partiu de Nassimah Dindar, que expôs a idéia perante o Presidente das Seychelles, James Alix Michel, durante visita oficial à ilha de La Réunion. Tratou-se, assim de uma iniciativa francesa, partida de La Réunion por ocasião da presença do Presidente das Seychelles, fato sublinhado pelo fato de ser o documento de criação do instituto assinado também pela Embaixatriz da França nas Seychelles.
A internacionalização disse respeito a um instituto já existente e sediado nas Seychelles, país que pertenceu até poucas décadas à Commonwealth, apesar do seu passado mais remoto como colonia francesa, estreitando assim os seus laços francofones e o seu trabalho com tendências do pensamento francês.
Dimensões e implicações políticas da internacionalização do instituto creolo de Seychelles
O ato de criação do instituto internacional permite que se perceba também dimensões e implicações políticas, uma vez que, proposto por Nassimah Dindar, representou iniciativa de uma política francesa atuante em La Réunion, presidente do partido Direita Social local. Foi Conselheira regional de 1998 a 2001, sendo Conselheira Geral e Departamental desde 2001, Presidente do Conselho Geral da Réunion desde 2004, e conselheira municipal desde 2014.
Em nivel nacional, o seu nome surge no âmbito da Union des démocrates et indépendants, partido fundado em 2012 por Jean-Louis Borloo após o término da sua participação no Govêrno de Nicolas Sarkozy e que é localizado à direita ou centro-direita no espectro político.
Nassimah Dindar foi, em 2005, nomeada delegada nacional e, a partir de 2007, conselheira política encarregada da diversidade do UMP, partido conservador originado da direita e do centro, na tradição do Gaullismo.
Presidiu, a a partir de 2008 o Comité Opérationnel Outre-Mer du Grenelle de l‘Environnement. Dirigiu aqui a sua atenção às dimensões imensas das águas marítimas francesas e do seu mundo insular, o que parece ter contribuido à percepção das características transinsulares e transoceânicas do creolo nas ilhas francesas e na Guiana. As implicações político-partidárias locais do ato de internacionalização do Institut Créole revelam-se também na presença, como assinante da declaração, de Didier Robert, eleito, com o apoio da direita, do Objectif Réunion.
Significado para os estudos de imigrações em contextos globais promovidos pela A.B.E.
O papel de Nassimah Dindar na proposta da criação do centro internacional criolo exige que se considere a sua ascendência imigratória e formação religioso-cultural na tradição zarabe, ou seja, de muçulmanos franceses de origem indiana. O seu pai, proveniente de Gujarat, na Índia, emigrou à La Réunion no contexto da procura de mão-de obra que substituisse o trabalho escravo após a abolição da escravatura, ali também atuando como professor de Alcorão.
Prosseguindo os seus estudos na França, Nassimah Dindar alcançou o mestrado em letras na Universidade da Provença Aix-Marseille I com um trabalho sobre Paul et Virginie, obra fundamental dos estudos literários e culturais do Índico, em particular de Maurício quando era a Île de France, também de ressonância no Brasil (Veja).
A sua biografia revela assim processos de procura ascensão social, cultural e de poder político que podem ser comparados com outros estudados em estudos de imigração e seus descendentes que, partindo de situações modestas, realizaram grandes esforços para alcançar reconhecimento e posições de influência.
Como em casos brasileiros analisados em cursos universitários e congressos de Imigração e Estudos Culturais em situações coloniais a partir de perspectivas pós-coloniais promovidos pela A.B.E., descendentes de imigrantes vindos para preencher necessidades criadas pela abolição da escravatura encontraram nesse ímpeto ascensional e de alcance de posições de influência defrontaram-se com obstáculos, resistências e preconceitos.
Em muitos casos, diferentemente da geração primeira, descendentes de imigrantes já nascidos no país em que os seus pais se fixaram adquirem uma convicção muito mais forte de identificação com a terra de nascimento e formação, tornando-se por vezes mais „papistas do que o Papa“ relativamente à identidade nacional.
Esse mecanismo de um processo identificatório em alternância geracional de imigrantes tornaria compreensível a frequência com que se observa tendências políticas conservadoras, nacionalistas ou em geral de direita em filhos de imigrantes, um fenômeno que tem sido centro de debates promovidos pela A.B.E.. Valeria, no caso, para o peso da identidade nacional francesa - francofonia, francocentrismo ou mesmo francofilia - que parece manifestar-se na compreensão da Criolidade que se percebe no projeto de criação do Institut Créole International.
Relações entre análises de processos identificatórios de imigrantes e estudos creolos
Há uma coerência entre conhecimentos resultantes do estudo de processos integrativos e identificatórios de descendentes de imigrantes em situações coloniais e a compreensão do termo criolo que também se constata em outras regiões e contextos do globo, também naqueles de formação colonial ibérica.
Nos países hispano-americanos, registra-se, nos primeiros séculos após a chegada dos europeus, o uso do termo para aqueles já nascidos fora da Europa, mesmo daqueles que tinham como genitores pais europeus, ou seja, brancos.
Em vários casos foram esses creolos e círculos familiares e sociais criolos em ascensão, movidos por ambições de nobilitação e poder, constitutivos de uma aristocracia local marcados por sentimentos de orgulho ao mesmo tempo nativista e de manutenção e defesa conservadora de expressões culturais e valores europeus, destacando-se na procura de erudição e cultivo de atividades intelectuais e artísticas que demonstravam o alto nível cultural e de cultivo, competidor e até mesmo suplantador daquele das metrópoles européias.
Com esse orgulho pela terra de nascimento, ambições e ímpetos afirmativos em situações coloniais ter-se-ia associado um conservativismo e um tradicionalismo cultural que levou à valorização de modos de vida, de alimentação e sobretudo do falar quotidiano na vida colonial.
O fator étnico, a miscigenação não surge, à luz dessas considerações, como fator primordialmente determinante na compreensão do termo criolo. Brancos criolos e criolos resultantes de casamentos racialmente mixtos de europeus com indigenas, africanos ou não-europeus em geral equiparavam-se na situação comum de serem nascidos fora da Europa e passarem por similares processos geracionais de identificação, ambições, orgulho e expressões afirmativas, tornando compreensível a convivência de criolos de diferentes cor de pele em círculos influentes de sociedades coloniais, não havendo falta, na história colonial, de vultos de tez escura na política, na literatura, na cultura e nas artes.
A predominância de criolos oriundos de casamentos racialmente mixtos nessas sociedades explica-se pelo fato de que, nos primeiros séculos da história colonial, quase que exclusivamente homens transferiram-se para regiões extra-européias, o que levou a uniões com indígenas ou africanos. Esse fato explica o uso mais difundido do termo criolo no Brasil, onde, na linguagem quotidiana e convencional, e diferentemente do seu emprêgo em outras situações latino-americanas, é compreendido como indicador de indivíduo nascido de união racialmente mixta.
Problemas levantados pela compreensão convencional do termo criolo no Brasil
Essa compreensão convencional brasileira do termo criolo representa um obstáculo conceitual para pesquisadores socializados e formados culturalmente no Brasil que se dedicam a fenômenos culturais e iniciativas marcadas pela expressão em outros contextos, tanto hispano-americanos, caribenhos ou do Índico.
Um pesquisador assim condicionado esperaria encontrar, em iniciativas como o Institut Créole International, um direcionamento da atenção a fenômenos, expressões, tradições e problemas do homem resultante de mistura de raças, discriminações, marginalizações, opressões, injustiças, do homem do povo e do trabalho; politicamente, poderia supor antes visões de esquerda na área de estudos.
Essa compreensão, nascida do emprêgo convencional do termo no Brasil, não faria porém jus à problemática processual em questão e às circunstâncias que levaram à criação da entidade, em particular também dos motivos e da orientação de sua proponente. Não se trata aqui de estudos culturais de classes subalternas na tradição dos Cultural Studies da esfera anglofônica, salvo se a subalternidade for compreendida relativamente a sentimentos de inferioridade que devam ser compensados afirmativamente.
O objetivo da instituição, o de valorizar a língua e a cultura creolas, deve ser considerado a partir de uma outra conceituação do termo criolo, antes conhecida de países hispano-americanos e do Caribe. Trata-se aqui, como a sua própria definição de objetivos manifesta, de uma valorização do que é nascido fora da Europa, imbuído de ímpetos de ascensão, reconhecimento e afirmação, resultado de miscigenações ou não, do próprio, ou seja, de uma auto-valorização que é, de início, a da própria maneira de falar o francês.
Uma área de estudos assim compreendida aproxima-se antes daquela da história dos estudos de tradições populares da França e dos estudos de folclore nas suas relações com o de antiguidades ou modos de vida do passado em pesquisadores e círculos tradicionalistas, nacionalistas e regionalistas do Brasil.
Há, assim um campo de tensões em concepções teóricas nas suas referenciações com correntes dos Estudos Culturais inglesas ou da esfera anglofônica e aquelas francesas.
A proposta de internacionalização, a partir de uma das principais colonias francesas do Indico do passado e que ainda hoje é parte da França de uma instituição das Seychelles, até há poucas décadas integrante da Commonwealth, representa ela própria um caso para análise de processos culturais no presente, uma vez que traz á consciência relações entre situações decorrentes em continuidade de um estado de colonia da antiga Île Bourbon e aquela que deveria ser pós-colonial das Seychelles.
Relacionando-se com problemas de lingua e referenciações do pensamento segundo correntes inglesas e francesas, a iniciativa de La Réunion nas Seychelles representa um fortalecimento do fundo cultural francês mais remoto das ilhas, que pertenceram inicialmente à Ile de France (Maurício) e que, como esta, estiveram desde o início do século XIX sob a administração britânica.
O pós-colonialismo das Seychelles apresenta-se aqui singularmente sob o signo de uma revalorização do passado anterior e de suas continuidades e permanências. As dimensões dessa problemática revelam-se com a internacionalização do Institut Créole, uma vez que o novo instituto criado por La Réunion e as Seychelles procura valorizar a lingua e a cultura creolas não apenas na região do Oceano Índico, mas também em todas as demais ilhas da Creolofonia. Trata-se, aqui de uma imensa rêde transoceânica, com pontos em diferentes esferas do globo, salientando-se as ilhas do Caribe, dos Estados Unidos e o Norte da América do Sul, em especial a Guiana.
Segundo a sua iniciadora, o Institut Créole International, sendo aberto a todas as ilhas com habitantes que falam o creolo ou tenham uma cultura creola, poderá servir a uma irradiação do mundo creolo no mundo. Também o político Didier Robert afirmou que continuaria a trabalhar para um aprofundamento da cooperação entre os povos creolos.
Significativamente, durante a cerimônia de criação do instituto, publicações em creolo de La Réunion e das Seychelles foram entregues à diretora do novo instituto, ficando à disposição dos seus usuários. Como então manifestado, os leitores, através dessas obras, podem descobrir a diversidade das ilhas creolas, uma vez que o próprio falar creolo das Seychelles, que é, ao lado do francês e inglês uma das línguas oficiais do país, representa apenas uma variante no complexo da fala nas diferentes regiões do mundo.
Sylvette Frichot e Danielle Marie-Madeleine de St. Jorre
Nele se encontra placa que marcou a sua fundação em 26 de Outubro de 1989 por Sylvette Frichot. Em posição de relêvo domina a sala de conferências retrato de Danielle Marie-Madeleine de St. Jorre (1941-1997), com uma placa que a homenageia e ressalva o seu trabalho a favor dos estudos creolos e do instituto.
Essa personalidade da política das Seychelles - que representou o país à frente do Ministério de Relações Exteriores - é ali celebrada sobretudo pela sua atuação na política de línguas das Seychelles e pelo fato de ter promovido a introdução do criolo como idioma nacional no país.
A sua formação fora britânica, tendo realizado estudos nas universidades de York, Londres e Edinburgh. Como educadora, empenhou-se na introdução do criolo ao lado do inglês nas escolas.
Considerando o significado das missões e do ensino religioso, co-participou na tradução do Evangelho segundo Marcos ao creolo, em 1974.
A decisão de reconhecimento do creolo como primeira língua nacional foi tomada em reunião do partido único Seychelles People‘s Progressive Front/People‘s United Party (SPUP), em 1981, sendo introduzido neste sentido nas escolas a partir o ano seguinte. Ao creolo segue-se na ordem de significado o inglês como segunda lingua e o francês como terceira.
Em 1983, fundou a Associação da Comunidade de Língua Creola (Bann Zil Kreol). Esse desenvolvimento indica as estreitas relações do empenho pela valorização do criolo com a formação britânica dos políticos nela envolvidos e de suas relações com a política da época de transição à emancipação das Seychelles da Inglaterra e a seguir da Commonwealth, assim como a orientações políticas socialistas que marcaram esse período.
Considerando-se esse desenvolvimento, o ato recente de modificação do status do Instituto com a sua internacionalização, sugere tanto uma mudança de tendências políticas como a de referenciações culturais.
A mulher e os estudos creolos - a serviço da estrategia na procura de poder
Há um outro aspecto que mereceu particular atenção na visita ao Institut Créole International: as suas relações com o movimento feminino. Neste sentido, pode-se perceber uma continuidade do Instituto fundado por Sylvette Frichot e o seu novo status agora adquirido através de Nassimah Dindar.
Sylvette Frichot foi uma das representantes da política da mulher à época da Commonwealth, tendo se empenhado junto a seu partido para que este reconhecesse não apenas a contribuição que a mulher pode dar, mas sim também para que este agisse concretamente no sentido de colocar mulheres em posições estratégicas. (Women in Politics: Voices from the Commonwealth, Commonwealth Secretariat, Londres, 1999, 150).
Danielle Marie-Madeleine de St. Jorre surge como exemplo da mulher em posições estratégicas de poder, o que é lembrado até hoje na bolsa de estudos que traz o seu nome dedicada a mulheres de estados insulares que se ocupam com a pesquisa oceanográfica.
Nassimah Dindar apresenta uma biografia estreitamente ligada à militância feminina, atuando desde fins da década de 80 na associação Femmes Actuelles de la Réunion, da qual tornou-se presidente em 1996. O seu empenho pela mulher, que segundo ela ultrapassaria as separações partidárias, manifestou-se na vida política francesa e na sua atuação como primeira muçulmana no govêrno de um departamento francês.
Sob o pano de fundo das condições, circunstâncias e implicações da criação do Institut Créole e do atual Institut Créole International constata-se que o próprio instituto - ofuscando as suas próprias finalidades - surge como objeto merecedor de análises culturais do presente.
Problemas conceituais dos estudos creolos: a língua como fator condutor
Sob o ponto de vista científico, levantam-se questões quanto à suficiência e profundidade da sua fundamentação conceitual e, em consequência, dos procedimentos nos trabalhos.
Como discutido há décadas no âmbito luso e brasileiro, sobretudo à época da fundação do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa, a orientação de estudos culturais segundo a lingua traz consigo problemas teóricos de amplas consequências.
O debate relativo à lusofonia e a uma cultura lusófona que culminou à época da denominação do instituto no Ano Europeu da Música de 1985 e teve prosseguimento nos eventos dedicados a 500 anos de descobrimentos portugueses, aguçou a consciência para os aspectos questionáveis e mesmo insustentáveis de uma definição do objeto de estudos culturais a partir da língua.
A imigração portuguesa ao Havaí, aos Estados Unidos e ao Canadá, por exemplo, que apresenta continuidades na consciência histórica e nas expressões culturais, não pode ser considerada como cultura lusófona, pois os descendentes dos imigrantes falam inglês.
Deixá-los porém de considerar no âmbito de estudos de processos culturais referenciados segundo Portugal seria um êrro, impossibilitando a obtenção de conhecimentos que podem até mesmo esclarecer processos em regiões onde se fala o português. Como expressamente fixado e manifestado nos sites do Instituto, a indicação „Espaço de Língua Portuguesa“ diz respeito antes aos pesquisadores que empregam esse idioma, não ao objeto de estudos.
O mesmo poderia ou deveria ser aplicado, ainda com maiores razões, no caso dos estudos creolos.
O problema teórico básico que aqui se revela é o da adjetivação ou qualificação de uma esfera cultural definida como creola. Assim como em outros casos de áreas de estudos que se orientam segundo categorizações do objeto de estudo, inúmeros são os problemas que aqui se colocam, não apenas no desenvolvimento dos estudos e das análises, mas também quanto à definição da área de estudos e sua metodologia. Como defendido desde a sua fundação pela organização euro-brasileira, a atenção deve ser dirigida a processos, não a objetos de estudos pré-determinados, sejam esses o do erudito, popular, folclórico, seja este lusófono ou creolófono.
A essencialização que decorre desse procedimento reflete-se no conceito de Creolidade. Recordando-se a problemática da imprecisão, das implicações e dos riscos de instrumentação política de conceitos como Lusitanidade, Brasilidade, Alemanidade (Deutschtum) ou outros, considerou-se, já em Congresso Internacional dedicado à África, em 1980, as questões relativas ao conceito de Négritude que parece ter dado impulsos à idéia de Creolidade de ilhas que geograficamente pertencem à África.
Como a A.B.E. defende, somente uma perspectiva teórico-cultural dirigida a processos, nos quais a fala e suas transformações se inserem, surge como adequada à análise cultural.
De ciclo de estudos da A.B.E.
sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo
Todos os direitos reservados
Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.(Ed.). „ Creolofonia, Creolidade,Creolismo. A internacionalização dos estudos creolos nas suas dimensões políticas francofones e o Brasil. Da lingua ao estudo de processos culturais - uma proposta de reorientação“. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 155/5 (2015:03). http://revista.brasil-europa.eu/155/Creolofonia_Creolidade_Creolismo.html
Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2015 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha
Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
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Fotos A.A.Bispo, Seychelles 2015 ©Arquivo A.B.E.