O Barroco e o mar: Colégio de Ponta Delgada
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 175

Correspondência Euro-Brasileira©

 
Igreja Todos os Santos, Colegio. Foto A.Bispo 2018. Copyright

Igreja Todos os Santos, Colegio. Foto A.Bispo 2018. Copyright

Igreja Todos os Santos, Colegio. Foto A.Bispo 2018. Copyright

Igreja Todos os Santos, Colegio. Foto A.Bispo 2018. Copyright

Igreja Todos os Santos, Colegio. Foto A.Bispo 2018. Copyright

Igreja Todos os Santos, Colegio. Foto A.Bispo 2018. Copyright

Igreja Todos os Santos, Colegio. Foto A.Bispo 2018. Copyright

Igreja Todos os Santos, Colegio. Foto A.Bispo 2018. Copyright

Igreja Todos os Santos, Colegio. Foto A.Bispo 2018. Copyright

Igreja matriz S.Sebastiao Ponta Delgada. Foto A.A.Bispo 2018

Igreja matriz S.Sebastiao Ponta Delgada. Foto A.A.Bispo 2018


Fotos A.A.Bispo 2018©Arquivo A.B.E.

 


N° 175/6 (2018:5)





História missionária em relações culturais Açores-Brasil
O Barroco e o Mar: Leituras da linguagem visual
da  Igreja de Todos os Santos do Colégio de Ponta Delgada
Pe. José de Anchieta (1534-1597) e Pe. Antonio Vieira (1608-1697)


Núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado e Igreja Matriz de São Sebastião, Ponta Delgada

 

Um ponto alto do programa de estudos voltados a relações entre os Açores e o Brasil desenvolvidos nos Açores, em agosto/setembro de 2018, foi a visita da antiga igreja do Colégio dos Jesuítas, em Ponta Delgada, edifício no qual hoje se encontra instalado o Núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado, o principal museu da ilha de São Miguel.

A antiga igreja e suas dependências são utilizadas hoje para fins museológicos e artístico-culturais, sobretudo para concertos que se realizam na sua ampla nave.

Todos os Santos, Colegio. Ponta Delgada. Foto A.A.Bispo 2018

Localizada em terreno elevado, abrindo-se a um amplo adro, a igreja constitui o foco da Rua do Colégio que a ela leva, e aquele que assim dela se aproxima conscientiza-se do significado do colégio e da igreja da Companhia de Jesus no tecido urbano da principal cidade da ilha.

Todos os Santos, Colegio. Ponta Delgada. Foto A.A.Bispo 2018
Nessa perspectiva, o observador tem a sua atenção despertada pela configuração inusitada de sua fachada, singular devido à grande superfície envidraçada em arco que a coroa e que lhe confere uma forte característica diferenciadora no conjunto do patrimônio arquitetônico dos Açores e mesmo em contextos globais.

À frente da igreja, o observador é surpreendido pelas suas dimensões, pela composição de seus elementos, pela qualidade construtiva que se manifesta em particular na cantaria em pedra vulcânica, assim como pela ornamentação de elementos arquitetônicos, o portal e as molduras de portas e janelas.

A magnificência do monumento manifesta-se sobretudo no seu interior, e é nele que a igreja do Colégio de Ponta Delgada se evidencia como uma das maiores expressões do Barroco.

A nave única, na sua amplidão, faz com que a igreja surja como exemplo extraordinário do tipo construtivo sala ou salão. Sem colunas ou pilares, toda a atenção é dirigida ao coro com o altar-mor, presa pela irradiação resplandecente criada com a profusão ornamental dos trabalhos em talha que podem ser vistos como das obras mais admiráveis dessa arte na história da arte.

Todos os Santos, Colegio. Ponta Delgada. Foto A.A.Bispo 2018
No seu tipo construtivo de sala, o edifício distingue-se da grande maioria das igrejas jesuíticas que seguiram mais de perto o modêlo de Il Gesù de Roma, corresponde porém a tendências da arquitetura religiosa do século XVII europeu, o que manifesta a sua sintonia com correntes do pensamento e das artes de sua época.

A leitura, a percepção de sentidos e o reconhecimento de significados desse monumento exige que o observador se transporte interiormente à época na qual a igreja era dedicada ao culto.

O processo secularizador foi determinado pela expulsão dos Jesuítas em 1760 sob o Marquês de Pombal (1699-1782). As aulas do Colégio já foram interrompidas em 23 de Junho de 1759.

Não só trabalhos construtivos não foram terminados como bens patrimoniais foram dispersos e perdidos, entre êles livros de uma biblioteca que conservava valiosas fontes históricas como o original das Saudades da Terra de Gaspar Frutuoso (ca.1522-1591). (Veja)

A manutenção do ensino religioso foi possibilitada em grande parte por particulares e suas famílias e o seu empenho também permitiu ac ontinuidade do culto, ainda que de forma intermitente pela passagem do século XVIII ao XIX. Embora os dados desse complexo desenvolvimento levantem questões, destaca-se entre esses particulares Nicolau Maria Raposo de Amaral que adquiriu o imóvel em 1834.

Somente em época recente, em 1973, o imóvel passou por doação a igreja à Câmara Municipal de Ponta Delgada e esta, por sua vez, a cedeu ao Govêrno Regional dos Açores que, em 1978, ali decidiu instalar o Núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado. O projeto, aprovado em 2004, levou a que, para além, do mobiliário e de obras ainda restantes da antiga igreja, nela fossem expostas obras da coleção de arte sacra do museu.

Todos os Santos, Colegio. Ponta Delgada. Foto A.A.Bispo 2018

O Brasil na sacristia da antiga igreja do Colégio de Ponta Delgada

Todos os Santos, Colegio. Ponta Delgada. Foto A.A.Bispo 2018
É na sacristia da antiga igreja que o observador toma consciência do significado do antigo Colégio para estudos relacionados com o Brasil. Entre as obras dos séculos XVII e XVIII ali conservadas encontram-se pinturas de grandes vultos da Companhia de Jesus, entre êles representações do Pe. José de Anchieta (1534-1597) e de outros missionários que desempenharam papéis significativos na história da Companhia de Jesus no Brasil.
Anchieta.Todos os Santos, Colegio. Ponta Delgada. Foto A.A.Bispo 2018
Esses quadros oferecem um panorama da história jesuítica e dão testemunho da visão global dos missionários, da compreensão de seus objetivos e atividades no conjunto de seus empenhos nas diferentes partes do mundo. Entre êles, destacam-se nomes de alto significado para os estudos de processos culturais da África, da Índia, do Sudeste Asiatico e do Extremo Oriente.

Essas representações trazem à consciência que uma consideração adequada da atuação da Companhia nos vários continentes e regiões deve sempre levar em consideração essas dimensões ultrapassadoras de fronteiras e, assim, as interações entre os missionários atuantes nos diferentes contextos, seja através de suas transferências, seja através de correspondência.

Toda a projeção de situações e perspectivas de estados nacionais posteriormente estabelecidos ao passado encerrado na segunda metade do século XVIII surge como inadequada.

Nessa perspectiva dirigida a contextos globais e a interações é que se revela o significado da igreja e do antigo colégio de Ponta Delgada. Situado em importante porto no Atlântico, por ali passaram missionários que se dirigiam a outras regiões do mundo ou delas retornavam.

Quando a grande igreja e o colégio foram fundados, o Brasil já contava com décadas de atividades dos missionários. Foram justamente as experiências ganhas no Brasil e as práticas ali empregadas nos primórdios da história da Societas Jesu que não só geraram dissenssões e polêmicas como modificações sensíveis em procedimentos práticos e suas  fundamentações.

A igreja do Colégio dos Açores inscreve-se porém numa época posterior, em décadas já posteriores ao Concílio de Trento, uma vez que a sua pedra fundamental foi lançada em 1592. É significativo constatar que os seus antecedentes foram devidos em grande parte a particulares, o que indica a intensidade de tendências de reforma interna na própria sociedade no arquipélago e a atenção com que acompanhavam os desenvolvimentos na Igreja no continente e em regiões extra-européias. Tem-se referências a doações, tendo a história transmitido nomes que mais se empenharam na vinda dos Jesuítas, entre êles João Lopes, com doações já em 1568 e Gregório Afonso, em 1572, assim como a de intentos dos próprios jesuítas, salientando-se o Colégio de São Lourenço do Porto.

Cotejos com desenvolvimentos no Brasil: o papel de particulares e irmandades

Os primeiros missionários chegaram em Angra do Heroísmo em 1570, e no mesmo ano dois religiosos viajaram para São Miguel, onde permaneceram algum tempo. Em 1572/73, três outros religiosos, em viagem para Angra, foram forçados a descer em São Miguel, sendo instados pelo mencionado João Lopes a ali permanecer e fundar um colégio.

Ao redor de 1588, o mesmo João Lopes possibilitou as condições para a construção do colegio, adquirindo várias casas às quais se somaram outros edifícios oferecidos por outro morador da ilha de nome Manuel da Costa. Criaram-se em 1591 as residências para o colégio, doadas ao govêrno da cidade. Um Francisco Rodovalho doou vários alqueires de terra ao colégio, um João Moreira algumas casas e a João Lopes com outras pessoas compraram para o colégio a Quinta da Fajã para o seu sustento.

A primeira pedra da edificação foi colocada no dia 1 de Novembro de 1592 com a presença do governador, sendo a igreja consagrada no dia 28 de fevereiro de 1593. Essas primeiras construções passaram por sucessivas ampliações e transformações, acompanhando o aumento de importância do Colégio e das propriedades que a êle serviam. Assim, entre 1623 e 1627 construiu-se um segundo andar e adquiriu-se a Quinta da Grimanesa em Fajã de Cima para auxiliar o seu sustento.

Um papel de particular relevância nesse desenvolvimento tão marcado pela iniciativa particular de devotos foi desempenhado pelas irmandades. Em 1625 fundou-se a Confraria de Nossa Senhora da Vida, cujo empenho possibilitou a colocação de um retábulo recoberto de ouro na igreja e a aquisição de uma imagem em Lisboa. No mesmo ano fundou-se a Confraria dos Estudantes, em 1629 a de Santo Inácio, esta com o intento de que se contratasse duas pinturas para a igreja. Em 1632, estabeleceu-se a Confraria de São Francisco Xavier e a de Nossa Senhora da Anunciada, título da padroeira da Municipalidade.

Principal momento nesse empenho foi o da reconstrução da igreja no decorrer da primeira metade do século XVII. Já em 1665/66 foi ela ampliada, tendo-se terminado a sua fachada. A torre do sino nunca teria sido completada ou mesmo talvez demolida. Nas décadas que se seguiram, outras aquisições e trabalhos foram realizados, salientandos os painéis de azulejos na capela principal em 1737, obra atribuída a Bartolomeu Antunis, assim como obras de restauração da fachada.

O significado da veneração mariana na ação jesuítica e na história do Colégio

Os dados a respeito do culto ali praticado possibilitam conhecimentos sobre a inscrição do Colégio e sua igreja em correntes eclesiásticas e religiosas da segunda metade do século XVII e da primeira do século XVIII.

É fundamental que se saliente o significado da veneração mariana que se manifesta na representação da ascenção no alto do arco do coro e nos altares de Nossa Senhora da Vida e Nossa Senhora da Vitória.

Quanto ao culto dos santos, se Santo Antonio como santo nacional português possuía o seu altar, maior era o número de altares dedicados a jesuítas como S. Francisco Xavier e S. Estanislau.

A orientação cristológica era naturalmente primordial para uma sociedade que trazia o nome de Jesus, devendo-se mencionar o significado do culto a Santo Cristo, de tanto significado para a ilha de São Miguel e os Açores em geral. (Veja) Com base em medida do Papa Clemente XII (1652-1740), em 1732, o culto ao Santíssimo Coração de Jesus, promovido por irmandade a êle dedicada, alcançou particular intensidade na igreja do Colégio.

O Pe. António Vieira (1608-1697) no estudo de relações Brasil-Açores

Um marco na história das interações entre os Açores e o Brasil foi o  do panegírico proferido na igreja do Colégio de Ponta Delgada pelo Pe. Antonio Vieira (1608-1697) em 1654, uma época na qual o crescente significado da instituição se evidenciava nos trabalhos construtivos.

Tendo vindo ao Brasil na infância, obtido formação no Colégio de Salvador da Bahia, ali feito o noviciado e lecionado Retórica e Dialética em Olinda, tendo atuado na missão junto a índios, Vieira viajara em 1641 a Portugal.

Retornando em 1652 ao Brasil, partiu do Maranhão ao Pará e ao Tocantins, voltando a Portugal em 1654. É à luz do seu empenho a que indígenas e suas terras da subordinação à administração civil passassem à égide dos missionários é que pode-se considerar a sua passagem pela ilha de São Miguel.

Esta foi marcada por uma experiência dramática, na qual o missionário e aqueles que com êles viajavam quase perderam a vida. Assolado por uma tempestade nas cercanias do arquipélago, o navio em que viajava estava prestes a naufragar, sendo salvos por um navio holandês que, tomando a carga de açúcar e os espólios, deixaram os viajantes numa ilha, dela passando à S. Miguel.

No sermão que proferiu na Festa de Santa Teresa em Ponta Delgada, o Pe. António Vieira referiu-se a essa experiência como que ato da Providência Divina. Esta utilizara os meios da Natureza, tendo sido êle „vomitado“ das ondas como São Paulo na ilha de Malta. O tipo empregado nessa imagem era o do antigo Testamento, aquele de Jonas na sua missão a Nínive.

Na visita à igreja do Colégio em Ponta Delgada, as reflexões partiram de estudo de José Américo Miranda, „Antônio Vieira e o panegírico de Santa Teresa: setas de fogo na inteligência“ (in Revista do CESP, 28/40 (2008), 11 ss.)

Na consideração desse texto in loco, salientou-se que a experiencia do naufrágio e a „seta de fogo“ de Vieira devem ser consideradas sob a perspectiva mais ampla de concepções e imagens relacionadas com o mar no edifício cultural de antiga proveniência e cuja vigência na igreja do Colégio se evidencia em quadros e sobretudo nos seus trabalhos em talha.

Matriz S. Sebastiao Ponta Delgada. Foto A.A.Bispo 2018

O mar, a travessia marítima, naufrágios e salvações na linguagem de imagens

A imagem da travessia na atividade missionária junto a povos extra-europeus com episódios ou visões milagrosas é motivo de representações pintadas.

O complexo imagológico que assim é atualizado em diferentes ocasiões na história missionária não só deve ser analisado a partir de imagens-tipo do Velho Testamento e anti-tipo do Novo Testamento, ou seja, entre outros Jonas e Paulo, como também a partir de antigas concepções filosófico-naturais e suas correspondências mitológicas e, assim, sob perspectiva antes sistemática.

Com essas considerações, retomou-se, em outro contexto, debate levado a efeito anteriormente nos trabalhos euro-brasileiros desenvolvidos no Mediterrâneo por motivo da celebração de Valletta como „Capital Européia da Cultura 2018“. (Veja)

A pérola gerada por raio na concha no fundo do mar e marianismo no Barroco

As reflexões em Ponta Delgada trouxeram à lembrança uma importamnte imagem que diz respeito fundamentalmente a concepções marianas, fornecendo,.assim, fundamentos para a compreensão mais adequada das considerações sobre virgens, a virgindade e a menção às „setas de fogo na inteligência“ em Vieira. Trata-se em princípio da imagem do raio que, em situações de tempestade, cai nas águas revoltas e, nelas adrentando, penetra em concha fechada, fazendo nela surgir a pérola.

Essa imagem, como estudada e discutida em diversas ocasiões no âmbito de estudos culturais interdisciplinares, remonta à convicção de antigas origens sobre as origens e o modos de surgimento de pérolas. A idéia de que, apesar de fechada, a concha é penetrada pelo raio e frutificada, gerando a pérola, serviu durante séculos à elucidação do nascimento do Logos da Virgem Maria. Não é sem motivo que o termo „barroco“ remonta a uma designação de pérola.

Essa tradição teve uma de suas mais evidentes expressões na imagem da concha na linguagem visual de ornamentos de igrejas e altares, e a sua atualidade e o seu significado no Barroco são demonstrados em inúmeros exemplos em diferentes regiões do mundo, entre eles aqueles das representações de conchas na igreja do Colégio de Ponta Delgada, na qual significativamente Maria, como a Anunciada e na sua Assunção encontra-se em posição preeminente.

A linguagem visual dos trabalhos de talha dessa igreja dirigem a atenção ao complexo mais amplo no qual se inscreve a imagem da concha no fundo das águas e que é atravessada pelo raio tal como seta de fogo. Esse complexo é o da imagem de que o homem, na sua existência terrena, carnal, encontra-se em perigo de sossobrar na sua viagem, caindo no fundo dos mares tenebrosos, sendo que desta situação é redemido em direção ao alto e à luz, sendo Maria o modêlo por excelência daquela elevada aos céus como primeira dos mortais.


O fundo do mar, a profusão vegetativa e a luz transpassando as águas

Essa concepção, de antigas origens e fundamentos filosófico-naturais, discutida por último na capela do Santíssimo Sacramento da catedral de Palma de Mallorca (Veja), possibilita uma outra aproximação na leitura da linguagem visual do ornamentação da igreja do Colégio de Ponta Delgada.

Em geral, tem-se considerado elementos vegetais e florais tanto na leitura das igrejas góticas, como também e sobretudo nas do Barroco. Nas primeiras, constata-se que nas grandes naves de catedrais, com os capitéis de colunas com folhas, aquele que nele se encontra transporta-se para uma situação de escura floresta, onde a luz penetra através da copa de árvores. A coerência do edifício de imagens, porém, exige uma correção dessa leitura de sentidos, pelo menos na consideração do Barroco.

A lógica das concepções que teem a imagem da concha e da peróla que nela nasce em posição primordial leve a que se considere toda a profusão ornamental de vegetais e outros elementos, assim como as formas movimentadas e convolutas, até mesmo convulsivas, como se todo o representado estivesse sob as águas, sendo a partir dessas trevas que a luz perpassa e a visão se volta àqueles santificados que já se encontram em luz.

Essa interpretação encontra um extraordinário apoio na ornamentação de um dos altares da igreja do Colégio de Ponta Delgada.

Ali se encontra, à base, uma figura monstruosa, com características marinhas, da qual saem as ramificações vegetais que, em crescimento fantástico, envolvem todo o altar.

Lembrando o Marítimo no Manuelino: o portal da matriz de Ponta Delgada

A consideração mais atenta da linguagem visual do Barroco nas suas relações com o mar, com a condição da existência humana e do modêlo exemplar de Maria numa antropologia cristã, para a qual se oferece no seu esplendor a igreja do Colégio de Ponta Delgada, aguça a percepção para o fato de aqui se tratar de uma expressão epocal de sistema de visão do mundo e do homem de remota proveniência, vigente também em séculos precedentes, ainda que com outras características estilísticas.


Ponta Delgada possui, no portal de sua igreja matriz de São Sebastião, um dos mais magníficos exemplos do significado de imagens marítimas e náuticas da época áurea dos Descobrimentos. Edificada entre 1531 e 1547, e tendo recebido apoio de Dom João III (1502-1557) e Dom  Sebastião (1554-1578), o seu portal remete a um período anterior, dando testemunho de continuidades a partir de concepções fundamentais.

A sua contemplação traz entre outros aspectos à lembrança que também no estilo cognominado segundo D. Manuel I (1469-1521) de „manuelino“ registra-se a ocorrência de figuras serpentuosas. A representação da cabeça monstruosa da qual se desenvolve o vegetativo na sua profusão e crescimento em altar da igreja do Colégio não representa assim apenas uma singularidade ou expressão fantasiosa de um artista, devendo ser analisada mais profundamente nas suas inscrições no complexo cultural herdado do passado.

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De ciclo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. História missionária em relações culturais Açores-Brasil. .O Barroco e o Mar: Leituras da linguagem visual da  Igreja de Todos os Santos do Colégio de Ponta Delgada. Pe. José de Anchieta (1534-1597) e Pe. Antonio Vieira (1608-1697)“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 175/7(2018:5).http://revista.brasil-europa.eu/175/Jesuitas_nos_Acores_e_no_Brasil.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


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Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
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Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
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