Capital Européia da Cultura 2018
ed. A.A.Bispo
Revista
BRASIL-EUROPA 174
Correspondência Euro-Brasileira©
Capital Européia da Cultura 2018
ed. A.A.Bispo
Revista
BRASIL-EUROPA 174
Correspondência Euro-Brasileira©
Fotos A.A.Bispo 2018©Arquivo A.B.E.
N° 174/1 (2018:4)
Mediterrâneo insular: Malta, Sicília, Mallorca
Estudos euro-brasileiros pela celebração de La Valletta
como „Capital Européia da Cultura 2018“
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Com isso, as atenções se concentraram na capital de Malta que, embora sendo o menor país da União Européia, surge como de particular importância para estudos de processos culturais no passado e no presente. Esse significado, também sob a perspectiva do Brasil, já foi reconhecido há décadas e levado a estudos, encontros e viagens a Malta. (Veja)
Com a celebração de La Valletta como „Capital Européia da Cultura“, não só a capital de Malta, mas toda a ilha, assim como Gozo, passam a ser foco das atenções. Neste sentido, diferencia-se sob esse aspecto daquela de outras cidades que foram nomeadas como capitais culturais européias, uma vez que possui dimensões mais amplas.
Atualidade de Malta sob o aspecto dos estudos de processos culturais
Malta tem estado presente nos últimos anos na atenção pública por um lado através de ocorrências negativas relacionadas com divisas, impostos e firmas fictícias, por outro positivamente como país de intensa vida cultural e que se distingue pela sua abertura e tolerância, o que a faz ser procurada por pessoas e grupos de tendências cosmopolitas e progressistas.
A atualidade de Malta como centro de vida social e cultural de grande vitalidade vem ao encontro de intuitos econômicos, de promoção turística e de uma imagem favorável do país, sendo que a esta muito contribui a celebração de La Valletta como „Capital Européia da Cultura“.
Significado político-cultural da celebração e problemas teóricos
Essa análise segundo critérios adequadamente refletidos é que permite fundamentar visões críticas de decorrências históricas e intervenções em processualidades a serviço da mudança esclarecida de situações.
O tratamento de questões que se levantam com a celebração de La Valletta como „Capital Européia da Cultura de 2018“ não pode assim deixar de considerar a problemática historiográfica e teórico-cultural.
Malta como „antecessora da União Européia“? A questão da multiculturalidade
Uma dessas questões diz respeito à visão de Malta como uma espécie de „antecessora da União Européia“ como afirmado pelo prefeito de La Valletta, Alexiei Dingli.
Essa afirmação fundamenta-se no fato de ter sido Malta, pela sua posição geográfica e pelas circunstâncias históricas, marcada já há séculos pela diversidade étnica, cultural e religiosa de sua população e pela participação de diferentes países europeus na sua história, tanto da época marcada pelos cavaleiros das Ordem de S. João, como do período colonial posterior, em particular como parte integrante do Império Britânico.
Essa afirmação, porém, exige considerações mais diferenciadas, uma vez que revela ideais de multiculturalismo e de pluralidade étnica e religiosa, e estes uma tomada de posição e de visões a partir do debate político-cultural do presente.
O fato porém de ser a população de Malta marcada por diferentes etnias, línguas e apresentar traços de diferentes contextos culturais e religiosos, onde ainda se fala o malti, um idioma semita com empréstimos italianos e ingleses, não pode ser considerado em paralelos indiferenciados com a diversidade dos cavaleiros das várias nações européias da Ordem que marcou a fundação de La Valletta e a história de Malta e nem com os desenvolvimentos posteriores do imperialismo britânico nas suas dimensões mundiais.
Um discurso que coloque Malta como antecessora da União Européia impliaria em ver antes essa precedência na Ordem que caracterizou-se pela diferença de línguas e de nações de seus membros, em si européia e cuja história e ação foram marcadas pela defesa da Cristandade contra o Islão.
A problemática das tensões Cristianismo/Islão na consideração de processos
Esse discurso dirige assim a atenção a uma problemática de extraordinária atualidade de uma Europa que experimenta no presente um aumento de populações muçulmanas e de intensificação religiosa islâmica. A sua tematização no contexto maltês traz em si porém o risco de levar a consequências justamente opostas àquelas intencionadas por representantes de posições voltadas ao multiculturalismo.
Uma visão dirigida a processos revela que séculos de decisiva importância na história de Malta foram determinados não só por uma fundamental animosidade entre cristãos e muçulmanos, de defesa dos primeiros pelos últimos e do combate destes pelos europeus, como também por ações de cunho missionário e educativo, de cristianização e da intensificação das vida da população segundo normas doutrinárias da Igreja.
A existência de museus dedicados respectivamente à Inquisição e ao Foiclorte no mesmo edifício histórico oferece condições particularmente favoráveis para reflexões voltadas a relações entre indoutrinações e práticas culturais e, assim, para o aguçamento da atenção aos efeitos de ações dirigidas na formação de expressões que, mantidaas pela tradição, constituem hoje relevantes elementos do patrimônio cultural maltês.
Malta tornou-se durante séculos um bastião do Ocidente contra os osmanos e norte-africanos e um dos momentos mais relevantes da sua história foi o obstáculo que ofereceu à expansão turca no Mediterrâneo. Esse passado perenizou-se nas fortificações, nas construções e na configuração urbana que marcam a fisionomia de Malta e o seu patrimônio cultural.
O estudo de Malta pressupõe sob muitos aspectos aquele da Ordem que determinou a sua história. O seu estabelecimento em Malta foi resultado de um complexo desenvolvimento no confronto com o Islão e que foi marcado por um recuo através dos séculos de sua posição em Jerusalém a Chipre, Rhodos e, por fim, Malta. Os trabalhos realizados em Malta puderam, neste sentido, dar continuidade imediata àqueles levados a efeito em Rhodos, em 2017. (Veja)
As dimensões mais amplas da focalização de Malta: a esfera do Mediterrâneo
A consideração de Malta por motivo das comemorações de La Valletta de 2018 exige portanto uma perspectiva ainda mais ampla do que aquela que, ultrapassando a sua capital, engloba toda a ilha e Gozo.
Ela deve abranger toda a esfera do Mediterrâneo, surgindo neste sentido como um marco no desenvolvimento da área dos estudos euro-mediterrâneos. Também aqui os trabalhos ali desenvolvidos puderam dar sequência àqueles realizados anteriormente em instituições que se dedicam a essa área em diferentes contextos, seja na Sardinha, seja no sul da França. (Veja)
O mar e o mundo insular mediterrâneo - estudo de fundamentos: Sicília
Consequentemente, entre os numerosos eventos que se realizam na capital cultural e em várias outras localidades maltesas em 2018, destaca-se uma grande exposição dedicada ao tema „Malta: terra do mar“.
A consideração dessas remotas interações culturais na passagem do antigo mundo à era cristã encontra condições particularmente favoráveis num dos mais significativos monumentos da história arquitetônica e cultural do Mediterrâneo, o antigo teatro de Taormina na Sicília. (Veja)
Cristianismo/Islão sob a perspectiva de processos - Reconquista e re-cristianizações
A sua catedral, um dos principais bens do patrimônio arquitetônico e artístico europeu, possibilita exemplarmente o reconhecimento da questionabilidade de visões históricas conduzidas a partir de ideais bem intencionados de ver no passado situações de convivência pacífica e interativa de culturas e religiões.
Questionando visões de síntese e simbiose no exemplo de Monreale, Sicília
Essas intenções levam a suposições de sínteses, simbioses, harmonizações sincréticas e outros processos que teem a sua expressão, no caso da Sicília, na constatação de um estilo normano-árabe-bizantino na arquitetura românica da região. Uma análise mais atenta de processos e suas expressões arquitetônicas e visuais, indica a superficialidade dessas denominações e suposições.
Dando continuidade ao debate crítico de concepções de sincretismo que vem marcando os estudos euro-brasileiros nas últimas décadas, as reflexões encetadas em Monreale acentuaram a necessidade de um reconhecimento de processos de (re-)transformações culturais, de (re-)cristianização que contraria a idéia de síntese ou simbiose.
As águas e a barca na linguagem das imagens a serviço de processo reconquistador
Os mosaicos da catedral de Monreale constituem uma das mais expressivas representações de um programa imagológico no qual o símbolo da barca e assim das águas e do mar desempenha um papel fundamental. (Veja)
Também aqui as reflexões puderam dar continuidade àquelas referentes a essa imagem em tradições brasileiras e que vem marcando há décadas estudos, sendo consideradas em seminários e conferências, entre outros no encerramento do triênio pelos 500 anos do Brasil, em 2004. (Veja )
Questionando visões harmonizadoras na história das idéias - Conhecimento e missão
Os complexos temáticos tratados na Sicília tiveram a sua continuidade na esfera ibérica através de estudos desenvolvidos na catedral de Palma de Mallorca. Em primeiro lugar, retomando-se também aqui estudos realizados em décadas anteriores nessa ilha balear, considerou-se a Reconquista nas suas implicações para o desenvolvimento da erudição medieval e, assim, no seu significado para a história dos conhecimentos e da ciência. (Veja)
Questionou-se também sob este aspecto visões históricas e interpretativas que partem de sínteses e simbioses culturais e religiosas em minimização de processos desencadeados por intentos de mudança ideológico-cultural a serviço de re-conquista espiritual recristianizadora.
O cunho missionário desses intentos torna compreensível o papel de grande relevância desempenhado por Mallorca na história medieval nos contatos com o Norte da África islâmico, entre os indígenas das Canárias e suas extensões no Atlântico.
Dando continuidade a estudos desenvolvidos em diversas ocasiões, salientou-se a necessidade de uma consideração mais atenta das inserções da história missionária no contexto mais amplo da Reconquista também nas suas implicações para o Brasil.
O mar na visão do mundo e a criação artística: a catedral submersa de Palma de Mallorca
A temática do mar no debate cultural impulsinado pela exposição em Malta em 2018 foi desenvolvida em Mallorca no exemplo da reconfiguração da capela do Santíssimo Sacramento da catedral de Palma de autoria do artista Miquel Barceló. Da forma mais expressiva adquire essa obra excepcional relevância para estudos brasileiros. (Veja)
Nela pode-se dar continuidade a questões que vem determinando décadas de preocupações voltadas à necessária reconsideração de concepções e práticas tradicionais brasileiras. Esses estudos, levados a efeito sob perspectivas interdisciplinares tanto na Europa como no Brasil, antecederam a obra de Miquel Barceló e abrem caminhos para a sua leitura e compreensão de seus sentidos.
Também como em tradições brasileiras, acentua-se nessa obra suas relações culturais com a África, ao mesmo tempo, porém, e de forma mais fundamental, com uma arqueocultura, ou melhor sistema cultural de remotas proveniências, até mesmo pré-históricas da esfera do Mediterrâneo. (Veja)
Com a consideração dessa catedral submersa nas suas múltiplas dimensões de sentidos e nas suas bases filosófico-naturais, encerrou-se os trabalhos euro-brasileiros no Mediterrâneo motivados pela celebração de Malta como „Capital Européia da Cultura“ de 2018.
De ciclo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo
Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „ Mediterrâneo insular: Malta, Sicília, Mallorca. Estudos euro-brasileiros pela celebração de La Valletta como „Capital Européia da Cultura 2018““. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 174/1(2018:4).https://revista.brasil-europa.eu/174/Valletta_Capital_da_Cultura.html
Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha
Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
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