O mar e a nave em tradição cristã - Monreale
ed. A.A.Bispo
Revista
BRASIL-EUROPA 174
Correspondência Euro-Brasileira©
O mar e a nave em tradição cristã - Monreale
ed. A.A.Bispo
Revista
BRASIL-EUROPA 174
Correspondência Euro-Brasileira©
Fotos A.A.Bispo 2018©Arquivo A.B.E.
N° 174/8 (2018:4)
O mar e a nave em tradição cristã
no seu significado para estudos culturais do Mediterrâneo
Um monumento da linguagem visual:
a narrativa bíblica nos mosaicos de Monreale
Reflexões na Catedral de Monreale, Palermo
Estudos mediterrâneos pela celebração de Valletta como „Capital Européia da Cultural 2018“
O fato de encontrar-se o Mediterrâneo no foco dos interesses culturais em 2018 - ano de Valletta como „Capital Européia da Cultura“ - traz consigo necessariamente uma concentração de atenções a questões relacionados com o mar.
Significativamente, o ano comemorativo teve o seu início, em Malta, com uma vasta exposição de título „Malta - terra do mar“.
A nave, do navio ou da barca, é a principal imagem que marca em diferentes sentidos projetos e reflexões e que merece assim ser considerada quanto a seus fundamentos, nas suas inscrições em edifício de visão do mundo e do homem de remotas origens e nas suas múltiplas implicações.
Significado das representações da água e da arca nos mosaicos da catedral de Monreale
É significativo que as mais monumentais representações dessa imagem conhecidas da História da Arte se encontrem na esfera insular mediterrânea: na catedral Santa Maria Nuova em Monreale, Palermo, Sicília, dedicada à Assunção de Nossa Senhora.
Construida entre 1172 a 1176 pelo rei Guilherme II da Sicilia, é obra que exige ser considerada diferenciadamente no âmbito de estudos de processos culturais, uma vez que nela se manifestam interações e traços culturais de diferentes contextos, e que tem sido até hoje estudados sob o conceito de „estilo normânico-árabe-bizantino“. (Veja)
Os elos com a cultura bizantina são vistos sobretudo nos mosaicos de fundo dourado que recobrem as paredes do interior da catedral numa superfície de 6.340 m2.
Os mosaicos remontam à época de 1179 a 1182, tendo sido criados por artistas tanto locais como especialistas vindos de Constantinopla. Os estreitos vínculos com Bizâncio manifestam-se com evidência na representação de santos venerados sobretudo na tradição cristã-oriental.
Os mosaicos da nave central e da face ocidental permitem o reconhecimento da programática teológica das representações. Em duas séries encontram-se cenas do livro Genesis - na superior a história da Criação até a expulsão do Paraíso, na inferior cenas da vida dos patriarcas Noé, Abraão, Isaac e Jacó.
Os mosaicos do coro e da nave transversal apresentam cenas da vida de Jesus da anunciação até a ascenção e a vinda do Espírito Santo em Pentecostes. Nas paredes das naves laterais encontram-se representadas cenas de milagres de Jesus.
O peso dado à representação da arca de Noé, da atenção dada a imagens de sua construção, da subida e descida de homens e animais, assim como à atividade dos seus filhos na construção da torre de Babel documenta o significado concedido à narrativa do dilúvio no programa teológico de natureza educativa do processo recristianizador de Monreale.
Essa saliência pode ser analisada nas suas relações com concepções filosófico-naturais relacionadas com a água no contexto dos elementos, suas oposições e relações, assim como nos seus elos com o ciclo do ano, com os tipos humanos e com processos no interior do homem.
O extraordinário acento concedido à representação do dilúvio nas várias imagens dedicadas à arca de Noé indica o significado dessa imagem para a compreensão de todo o desenvolvimento narrado na linguagem dos mosaicos e que abrange toda a história do Velho e do Novo Testamento.
Chama a atenção o significado dado à água em muitos dos fatos e decorrências das Escrituras, no caso dos Evangelhos em especial à imersão de Jesus na água quando do seu batismo.
Entre outras imagens, a água surgem em particular evidência em representações referentes a Pedro e, assim à igreja. A barca com os apóstolos e o salvamento daquele que caiu nas águas por Cristo são tratados em imagem que salienta a movimentação das águas e exprime a dramaticidade da queda.
Singular representação e que exige considerações mais diferenciadas da linguagem visual é aquela da crucificação de Pedro, uma vez que a cruz do apóstolo surge fixada em terra firme, enquanto aqueles que presenciam o ato se encontram sobre água.
Entre os seus muitos sentidos, a arca surge assimm como tipo ou prefiguração da Igreja como nave, revelando o papel dessa imagem para a própria arquitetura da igreja e a sua função educativa voltada à percepção de seus sentidos na intendida vivência do seu espaço no processo cristianizador.
Relembrando o significado da barcas nas tradições brasileiras
As imagens da arca na catedral de Monreale e as ilustrações das ações que acompanharam a sua construção e viagem dão profundidade documental aos estudos referentes a representações de naus e barcas em tradições brasileiras. Estas vem sendo alvo há muito alvo de estudos por parte de folcloristas e educadores, tendo recebido atenção mais aprofundada quanto a seus sentidos nas últimas décadas no âmbito dos trabalhos euro-brasileiros. Retomaram-se, assim, em Monreale, reflexões sobre a imagem da nave que marcaram a abertura do congresso de encerramento do triênio de estudos pelos 500 anos do Brasil em sessão realizada no Rio Grande do Sul em 2002. (Veja)
De ciclo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo
Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „O mar e a nave em tradição cristã no seu significado para estudos culturais do Mediterrâneo
Um monumento da linguagem visual: a narrativa bíblica nos mosaicos de Monreale“. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 174/8(2018:4).http://revista.brasil-europa.eu/174/Mosaicos_de_Monreale.html
Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha
Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
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