A festa da Fajã da Caldeira de Santo Cristo
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA 175

Correspondência Euro-Brasileira©

 
Faja de Santo Cristo, S.Jorge. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

Faja de Santo Cristo, S.Jorge. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

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Faja de Santo Cristo, S.Jorge. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

Faja de Santo Cristo, S.Jorge. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

Fotos A.A.Bispo 2018©Arquivo A.B.E.

 


N° 175/12 (2018:5)




Ecce homo
sentidos da imagem, das tradições e dimensões músico-culturais
da veneração do
Senhor Santo Cristo dos Milagres nos Açores
- a sua presença em São Paulo na primeira metade do século XX
relembrada festa da
Fajã da Caldeira de Santo Cristo, ilha de São Jorge -


Pelos 85 anos do Dr. Armindo Borges, vice-presidente do ISMPS
Observação participante da A.B.E. da festa de Santo Cristo de 2018 na Fajã de Santo Cristo, ilha de São Jorge

 

Um dos principais tópicos do programa de estudos euro-brasileiros levados a efeito em várias ilhas dos Açores, em agosto/setembro de 2018 foi o da presenciação da festa de Santo Cristo na ermida do Fajã da Caldeira de Santo Cristo na ilha de São Jorge, uma das mais recônditas localidades do arquipélago.

Faja de Santo Cristo, S.Jorge. Foto A.A.Bispo 2018. Copyright

Com essa participação, deu-se continuidade aos estudos dessa veneração desenvolvidos em vários contextos e sob diferentes aspectos, complementando, na observação participante de uma de suas mais significativas expressões festivas, os estudos iniciados no respectivo santuário em Ponta Delgada. (Veja)

A atenção a essa expressão religioso-cultural açoriana foi motivada pela passagem dos 85 anos do Dr. Armindo Borges, vice-presidente do ISMPS e conselheiro da ABE que, a convite das autoridades eclesiásticas, dirigiu-se aos Açores pela passagem do milênio à época e por motivo da festa para reflexões sobre as condições de seu retorno e suas atividades no arquipélago.

Ao lado do culto ao Espírito Santo, o do Santo Cristo constitui a mais representativa característica da cultura religiosa dos Açores, assim como importante fator da identidade de comunidades de ascendência açoriana em várias partes do mundo, também no Brasil.

O significado desse culto sob a perspectiva dos estudos culturais revela-se sobretudo no fato de dizer respeito de forma manifesta a questões ide imagens, uma vez que é estreitamente relacionado com uma determinada representação, aquela da imagem venerada que se encontra com as mesmas características nas diferentes regiões do arquipélago e de outros países.

Expressão, atributos, traje e outros pormenoress da imagem revelam contextos epocais da história religiosa, assim como da cultura e das artes, trazendo à mente a relevância desse fenômeno religioso sob a perspectiva de estudos do significado de imagens em processos culturais.

Venerada pelos imigrantes e seus descendentes em comunidades de açorianos e seus descendentes também no continente americano, essa imagem contribui de modo decisivo para a manutenção da memória e de elos afetivos com as ilhas de origem. Ela traz à memória solenidades do passado, intensificando sentimentos de saudades que marcam a vida na imigração.

A sua veneração não possui apenas conotações nostálgicas, mas contribui à manutenção de elos e à participação na vida daqueles que permaneceram nas ilhas. Muitos são os imigrantes que não só contribuem materialmente ao culto e às suas solenidades nas ilhas, possibilitando em grande parte o aparato com que são celebradas, como também nelas participam, escolhendo o período de suas realizações para visitas à terra natal.

A presença dessa imagem em casas, igrejas e espaços comunitários em diferentes regiões do mundo é, para o observador, um sinal da presença açoriana nos determinados contextos, ainda que esta não seja conhecida, conscientemente registrada ou reconhecida atraves de outras evidências.

A imagem em tradição de ilhéus no Brasil - lembrando Vila Santa Maria, São Paulo

Essa imagem do Santo Cristo também é encontrada em contextos remontantes à imigração açoriana no Brasil. A sua veneração é acentuada em igrejas de diferentes Estados, dando denominação a paróquias e mesmo a cidades.

Embora insuficientemente estudado, esse culto, nas suas características atuais, deve ser considerado não tanto em relação com as fases primordiais da vinda de açorianos ao Brasil como sobretudo com aquelas correspondentes à época na qual a veneração da imagem alcançou a sua maior intensidade no arquipélago, ou seja, a partir de meados do século XVIII.

A pesquisa pôde constatar sobretudo o seu significado entre açorianos que emigraram ao Brasil pela passagem do século XIX ao XX e nas primeiras décadas deste. Um exemplo lembrado nos trabalhos nos Açores foi o da veneração da imagem em quadro trazido do arquipélago na Vila Santa Maria, em São Paulo, nas décadas de 1920, 1930 e 1940.

O quadro em casa de família portuguesa desse bairro então com características rurais, mostrava a imagem do Santo Cristo incrustrada em conjunto profusamente elaborado com escamas de peixe outros materiais tradicionais. Esse quadro correspondia a um tipo de representações sob vidro e emolduradas que pode ser observado em antigas coleções açorianas, como aquelas conservadas em museus e ainda hoje encontradas em casas particulares e estabelecimentos comerciais dos Açores.

Essa imagem venerada nesse bairro de São Paulo foi trazida por ilhéus que se estabeleceram junta à então granja de Santa Maria. Ela foi entregue como sinal de agradecimento a uma senhora proveniente da Beira, de tradição familiar marcada pela veneração do Coração de Jesus e que se dedicava a benzeduras. Nas reflexões encetadas nos Açores, considerou-se que também se conhece da história regional o significado de senhoras que, profundamente religiosas, se destacaram como benzedoras.

Também no caso da Vila Santa Maria, a casa com a imagem do Santo Cristo tornou-se por décadas centro de assistência material e imaterial do bairro e suas circum-vizinhanças. As práticas locais integraram essa forma de veneração no conjunto de imagens trazidas de outras regiões portuguesas, mantendo assim a presença dos Açores no contexto mais amplo da imigração portuguesa em geral.

Apesar de sua identificação católica e seus elos com a paróquia, as práticas, marcadas pelo culto de santos a partir do modêlo supremo representado pela imagem, tomou cada vez mais fundamentação espiritualista e mesmo doutrinária espírita. Já esse fato revela mais uma vez a necessidade de estudos mais aprofundados da imagem e de seus fundamentos.

A Fajã de Santo Cristo - Cultura/Natureza e o conceito de fajã


Isolada e de difícil alcance, situada em região de natureza protegida, que abriga espécimes vegetais endêmicas e grande diversidade de aves aquáticas na sua lagoa, a Fajã de Santo Cristo adquire particular relevância para estudos voltados a relações Cultura/Natureza.

A localidade tornou-se conhecida internacionalmente por essas qualidades, reconhecidas pela Convention on Wetlands of International Importance.


Situada na freguesia da Ribeira Seca, Concelho da Calheta, a Fajã da Caldeira de Santo Cristo é, por essas qualidades e pelo seu isolamento, uma das mais significativas fajãs da ilha de São Jorge e mesmo dos Açores em geral.

Para alcançá-la, deve-se percorrer o longo caminho costeiro que sai da Fajã dos Cubres, ou através da Caldeira de Cima por trilha através da serra que, partindo do Topo, corta terrenos de pastoreio e zonas de mata natural. 

O caminho atravessa áreas particulares, exigindo a abertura de cancelas, em parte contornados por hortências  que se propagam de modo natural, em parte dificultados por trechos acidentados e íngrimes, assim como pelo gado.
O termo fajã designa as superfícies baixas, planas, formada por terrenos de aluvião e de erosão em local em que córregos ou ribeirões desembocam no mar, o que permite o cultivo em áreas em geral resultantes do endurecimento de lava e, com ela, o assentamento
humano e o surgimento de povoações.

Fajã é assim um conceito que merece maior atenção tanto sob o aspecto dos estudos de moradias e povoamentos - e assim de arquitetura e do urbanismo - como em geral dos estudos culturais.

O fato de localizarem-se à foz de ribeiras evidencia o significado da água doce para a vida e o cultivo agrícola daqueles que moram à beira-mar e que são sobretudo pescadores.

Essa situação traz à luz o significado que deve ser reconhecido à água - doce e salgada - na vida dessas populações, nas suas expressões e práticas. Esse significado evidencia-se na Caldeira de Santo Cristo, cuja lagoa é procurada também para fins de lazer.

A festa na revitalização da fajã: interações de rêdes comunitárias e associativas

Abandonada durante anos e contando hoje com poucos habitantes, a localidade adquire vida durante a festa do Senhor Santo Cristo - imagem que dá o nome à igreja local e ao fajã.

Essa festa é´realizada no primeiro domingo de setembro, data para a qual retornam antigos moradores e seus familiares, vindo também peregrinos de toda a ilha de São Jorge.

A festa é ocasião de reunião de uma comunidade formada por pessoas que na sua grande maioria não habitam o local e as suas proximidades, uma configuração comunitária independente de um comum local de moradia.

As dimensões sociais e de lazer do reencontro por ocasião da festa se revelam nas atividades no pátio contíguo igreja onde, em barracas levantadas para a ocasião, oferecem-se bebidas e comida.

As práticas de veneração da imagem exposta na igreja após a procissão revelam a intensidade com a qual os fiéis são imbuídos de sentimentos de esperança quanto à concretização de seus pedidos e desejos, ou de gratidão por graças que receberam.

Para a festa de 2018, o adro e os caminhos pelos terrenos ao redor da igreja foram ornamentados com arcos enfeitados de flores e fitas elaborados pelos devotos, sendo o chão a ser percorrido pela procissão coberto em parte com pétalas de flores, na sua maioria de hortênsias que tanto marcam o paisagismo açoriano.

O papel da música de banda na perambulação processional - a banda de Velas (1900)

Esses caminhos, abertos entre a vegetação que cobre os terrenos em parte alagadiços, foram percorridos pelos fiéis que, após a missa, saíram da igreja em procissão acompanhada por banda de música. Esta, provinda da cidade de Velas, apresentou-se ao término da perambulação à porta da igreja, e, a seguir, em quintal de uma das moradias locais.

Tanto a apresentação no adro pela entrada do andor, como o encontro particular que se seguiu revelaram a importância da participação dos músicos para os devotos na festa e a da festa para estes, o que dá margens a reflexões sobre a interação de rêdes comunitárias religiosas e corporativas.

Os instrumentistas, entre êles muitos jovens, contribuem a que novas gerações participem da festa, possibilitando a sua conservação e, assim, a do próprio fajã e de uma identidade cultural com ela relacionada.

O significado da participação musical na festa traz à consciência aquele da prática de banda de música nos Açores, intensa nas diferentes ilhas. Ao lado dos „impérios“ do Espírito Santo junto às igrejas, frequentemente são as sedes das filarmônicas ou liras os edificios, muitas delas amplas e representativas edificações, as construções que mais marcam os núcleos urbanos açorianos e que mantém a memória e as tradições locais.

Já a longa distância e os percalços que devem ser vencidos pelos músicos com os seus instrumentos para chegarem ao local revelam o significado da festa para a própria banda. Os instrumentistas e seus convidados, tendo vencido a estrada que desce em serpentina as montanhas, precisam deixar os seus veículos na Fajã dos Cubres, percorrendo a partir dali quilômetros de difícil trilha costeira até o local da festa.

Velas, a capital da ilha, possui antiga tradição da prática de banda,sendo significativo que uma de suas principais praças, à frente da Casa do Conselho, encontre-se um coreto recentemente renovado e que constitui um significativo bem do patrimônio local.

A banda de música local mantém viva uma tradição que remonta à época da sua fundação pela passagem do século XIX ao XX.

Origem da imagem: século XVI - época da reforma interna da Igreja e de missões

Segundo a tradição frequentemente lembrada nos Açores, a imagem foi oferecida ao Papa Paulo III (1534-1549) aos religiosos que tinham ido a Roma para solicitar uma bula que permitisse construir um primeiro convento na ilha de São Miguel, na Caloura ou no Vale de Cabaços. Menciona-se também ser provável que essa oferta tenha já sido feita pelo anterior Papa Clemente VII (1523-1534).

Em ambos os casos, a proveniência da imagem como oferta pontifícia revela o contexto histórico-eclesiástico em que se insere.

Sendo Clemente VII Joanita, foi membro de uma organização marcada pela tradição hospitalar de assistência a cristãos e pela sua defesa contra o Islão. (Veja) Sob Paulo III a atenção foi voltada à processos e problemas da cristianização de regiões extra-européias. Foi o o Papa que aprovou a Companhia de Jesus, em 1540, e que, em 1542, favoreceu a Inquisição com o estabelecimento do Tribunal do Santo Oficio. O seu nome liga-se também ao índice dos livros proibidos então preparado.

A oferta da imagem aos religiosos que procuravam autorização para o convento deu-se assim em fase do movimento de reforma interna da Igreja e que levaria ao Concilio de Trento, uma época marcada pela preocupação de depurgar ou sanar a vida religiosa e eclesiástica, ou seja, de missão interna e de empenho de propagação em regiões extra-européias.

As atribulações que a Igreja passava - entre outros com os ataques dos turcos e com a Reforma protestante - surgiam como indícios da justiça divina, de castigos para com pecados, exigindo assim, para o saneamento do corpo, contrição, conversão e penitência. O estudo de sentidos da imagem, porém, revela outras dimensões quanto aos sentidos da imagem e suas expressões, revelando a necessidade de considerações mais diferenciadas.

Ecce homo - necessidade de leituras mais diferenciadas de uma imagem

A imagem do Santo Cristo fundamenta-se na cena descrita no Evangelho de S. João (19,5), onde se narra que Jesus, atado, com as marcas de feridas e de sangue da flagelação, trazendo a coroa de espinhos, foi apresentado por Pôncio Pilatos à multidão que exigiu a sua crucificação.

O fato da autoridade romana eximir-se da decisão sobre a morte de um inocente - tendo Pilatos „lavado as mãos -, e a exigência do povo, torna compreensível que esta narração tenha tido implicações políticas, sociais e éticas no decorrer dos séculos, seja de crítica ao poder instituído, seja de ressentimentos anti-judaicos.

O significado do Ecce homo à épocas dos esforços reformadores internos da Igreja em Portugal é conhecido através de uma importante obra da História da Arte: a da representação na qual Jesus, com o manto e a coroa, é apresentado com os olhos velados. O quadro, conservado no Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa, criado provavelmente ao redor de 1570, é suposto pertencer à tradição do renomado pintor Nuno Gonçalves. Segundo outros, a obra seria uma cópia ou basear-se-ia em outra pintura, remontante provavelmente ao século XV.

Esta hipótese surge como plausível, uma vez que inseriu-se em processo de décadas de reconscientização de fundamentos com o refortalecimento de conhecimentos baseados nas Escrituras. Foi uma época marcada por esforços de instrução e intensificação da devoção do povo por meio de meios aptos a despertar a comoção através de representações realistas, o que se manifestou sobretudo no acento dado à Paixão.

O motivo do Ecce homo desempenha importante papel na arte flamenga, salientando-se neste sentido obra de Jan Provoost (1465-1529). Nascido em Mons e falecido em Bruges, este principal pintor de Flandres, amigo de Albrecht Dürer (1471-1528), foi um artista que se distinguiu pela atenção dada ao tema.

A imagem venerada nos Açores difere porém da importante pintura a óleo em madeira conservada em Lisboa pelo fato do representado não apresentar os olhos velados. Outras distinções, porém, mais profundas quanto a sentidos, devem ser feitas na análise do culto e suas expressões.

Aproximações quanto à posição da festa no calendário e seus fundamentos

É significativo que as solenidades e festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres referenciem-se segundo o domingo Rogate do calendário litúrgico. Apesar das diferentes datas da realização das festas nas diferentes localidades - em parte por razões pragmáticas - o conteúdo teológico de pregações e interpretações revela relações com sentidos do período entre a Páscoa e a festa da Ascenção e Pentecostes. Essa referenciação - e não com a época da Paixão no calendário - pode explicar certas características pascoais da festa com as suas expressões de alegria e ornamentações festivas, florais e mesmo primaverís.

Os fundamentos históricos do quinto domingo após a Páscoa podem explicar essas características do culto. Correspondendo à expressão „Vocem iucunditatis annuntiate, et audiatur“ (Jes 48,20), a anunciação cheia de júbilo para que todos ouçam marca o sentido da veneração e suas expressões, que não surge como passional, mas como de júbilo e de intenções propagadoras ou missionárias. Compreende-se, neste sentido, que a imagem tenha sido de importância à época da reforma interna da Igreja no século XVI e que foi também aquela do fomento das atividades missionárias.

Há porém um outro contexto que merece ser levado em conta na consideração das expressões festivas relacionadas com essa imagem - o do domingo Rorate como o de pedidos e implorações.

Supõe-se que esse sentido peditório remonte àquele de antigas práticas de perambulações de orantes pelos campos pedinco boas colheitas. Esses elos com a vida agrícola torna justificável também o deslocamento da prática a outras épocas do ano em dependência das circunstâncias locais relacionadas com as diferentes colheitas.

Essa tradição perambulatória mantém-se também na prática tradicional observada na Fajã de Santo Cristo quando, após a missa, os fiéis percorreram caminhos pelos terreno cobertos de vegetação que contornam a igreja.

Assim considerando, pode-se supor uma relação dessa antiga prática relacionada com o ano agrícola de perambulação pelos campos com a origem do culto fomentado pela Madre Teresa da Anunciada em Ponta Delgada no século XVII. Um estudo mais aprofundado dessas relações contribuiria à compreensão do fenômeno que representa a intensidade da veneração dessa imagem então alcançada, uma vez que a vida das ilhas dos Açores como „pomar do Atlântico“ era em grande parte determinada pela agricultura e pelos seus frutos.

Vocem iucunditatis annuntiate, et auditur - o pedido de bons frutos - canto e expectativa

As reflexões encetadas na Fajã de Santo Cristo trouxeram à consciência a necessidade de considerações mais diferenciadas da imagem no contexto dos seus significados e suas expressões nos Açores e nas comunidades de origem açoriana no mundo.

O observador que é confrontado com a imagem com os seus atributos e expressões de flagelo nos Açores poderia partir da suposição de um acento passional na cultura religiosa, na mentalidade e na configuração psíquica coletiva, um acento de tristeza, aflição e agonia que poderia determinar e marcar errôneamente interpretações e conclusões. Essa leitura superficial da imagem tornaria incompreensível as expressões festivas de alegria e mesmo de júbilo a serviço da propagação missionária da tradição.

Também para os estudos musicológicos no sentido músico-culturológico, a consideração mais aprofundada de sentidos da imagem e de sua festa revela-se como necesssária para a compreensão do papel da música nas suas expressões, tanto no passado como no presente com as suas bandas de música.

O domingo Rorate, com o qual se relaciona, segue-se àquele que é de significado primordial para a música sacra e para as concepções musicais e músico-antropológicas em geral, aquele do „Cantate Domino canticum novum“ (Ps 98,1).

A referenciação segundo esse período que antecede a festa de Pentecostes é de fundamental importância para se reconhecer que a veneração da imagem do Santo Cristo e suas expresssões se insere de forma coerente no universo religioso-cultural açoriano que é sobretudo marcado e caracterizado pela adoração do Espírito Santo.


De ciclo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. „Ecce homo: sentidos da imagem, das tradições e dimensões músico-culturais
da veneração do Senhor Santo Cristo dos Milagres nos Açores- a sua presença em São Paulo na primeira metade do século XX relembrada festa da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, ilha de São Jorge“
. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 175/12 (2018:5).http://revista.brasil-europa.eu/175/Santo_Cristo_nos_Acores.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2017 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
reconhecido de utilidade pública na República Federal da Alemanha

Editor: Professor Dr. A.A. Bispo, Universität zu Köln
Direção gerencial: Dr. H. Hülskath, Akademisches Lehrkrankenhaus Bergisch-Gladbach
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