O piano no Brasil e no Madagáscar
ed. A.A.Bispo

Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Mauricio. Fotos A.A.Bispo 2015 e 2009 ©Arquivo A.B.E.

 

154/13 (2015:2)





O piano no Brasil e no Madagáscar
Um
Débain para Ravalona I (1778-1861) no processo colonialista francês no Índico

História da música na esfera luso e brasileira em relações globais 2014 e 2015

pelos 30 anos de fundação e de reconhecimento de utilidade pública na Alemanha do I.S.M.P.S. e.V.

 
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Fonte fundamental para estudos histórico-culturais de relações entre o Brasil e o Madagáscar é o relato de viagem a essa ilha da viajante austríaca Ida Pfeiffer. Sendo as notas dessa viagem organizadas após a sua morte em 1858 no Rio de Janeiro pelo seu filho, o pianista Oscar Pfeiffer (Veja), residente então na capital do Império, a consideração da obra de Ida Pfeiffer surge como significativa em ano cujas atenções são privilegiadamente voltadas ao Rio de Janeiro por motivo dos seus 450 anos. (Veja)


A preparação de seu relato decorreu em anos de intensa vida musical no Rio, marcados pela visita de virtuoses e cantores de renome internacional, pela difusão da prática doméstica da música através da atuação de professores de piano e canto, entre êles alguns estrangeiros de língua alemã como Oscar Pfeiffer e Adolf Maersch (Veja), assim como por anelos e iniciativas voltadas à criação de uma Academia de Música e Ópera Nacional. (Veja)


Como as obras com referências patrióticas, nacionais e de canto em português criadas nesses meados do século evidenciam, foram anos que surgem como de especial significado para estudos de processos culturais, marcados que foram por complexas interações e interferências, por desejos de consideração de tradições e valores culturais do país, em particular indígenas, ao mesmo tempo de progresso, de colocar o Brasil em sintonia com desenvolvimentos internacionais, também no mundo de língua alemã (Veja), projetando-o como nação de imagem própria no Exterior.


Aparentemente paradoxal no quadro que assim se oferece é que composições com referências patrióticas e nacionais, assim como iniciativas de Academia de Música e Ópera Nacional surjam não só com nomes de brasileiros, mas com aqueles de músicos e empreendedores artísticos estrangeiros atuantes no Brasil.


Torna-se assim questionável considerar complexas relações como tradição/inovação de forma simplificada como expressões do nacional/internacional de brasileiros e estrangeiros. As intenções de valorização de características próprias do país por parte de europeus indicam que já traziam de sua formação uma preocupação por expressões e situações culturais que se transformavam com os desenvolvimentos, por um interesse pelo passado mais remoto e por valores transmitidos pelo povo. Esses anelos não eram só nacionais, mas correspondiam a um intenso interesse por culturas extra-européias, pelo seu passado e suas tradições.


Tratava-se, assim, antes de um direcionamento mental e afetivo a universos culturais que pareciam desaparecer em século que iniciara em meio aos desenvolvimentos desencadeados pela Revolução Francesa e pelas guerras napoleônicas, e que fora determinado por fim pelo espírito restaurador do Congresso de Viena.


Esse direcionamento mental e afetivo de décadas restaurativas - e que no âmbito alemão dominou os anos entre 1815 e 1848 - surge assim sob enfoques político-sociais sobretudo como característico de uma burguesia de espírito conservador, cuja vida era pautada pelo cultivo de idílios domésticos, aos quais contribuia de forma determinante a prática da música, sobretudo também a do piano e do canto por jovens e senhoras, tornando-se o aprendizado do instrumento importante elemento na educação feminina.


Ida Pfeiffer como vulto excepcional de mulher da época do „Biedermeier“


Mauricio 2009. Foto A.A.Bispo. Copyright
Também Ida Pfeiffer, que é reconhecida como representante do „Biedermeier“ em publicações (Habinger, G., Eine Wiener Biedermeierdame erobert die Welt. Die Lebensgeschichte der Ida Pfeiffer (1797-1858), Viena: Promedia,1997)), obteve na sua infância formação pianística, ainda que a contragosto.


A inicial repulsa ao aprendizado do piano - então elemento quase que indispensável da educação feminina em famílias bem situadas ou em ascensão - residiu no fato de Ida Pfeiffer preferir trajes, brinquedos e atividades antes masculinas, cedendo apenas já na juventude às exigências ditadas pelas convenções relativamente a formas de comportamento e de atividades. Ao contrário do piano, conotado antes femininamente, teria preferido o violino, considerado antes como instrumento masculino.


Mesmo assim, alcançou nível considerável no domínio do piano, a ponto de poder atuar como professora do instrumento para ajudar a sustentar a sua família após retornar de Lemberg a Viena.  (Veja)


Já o fato do seu filho Oscar tornar-se renomado pianista testemunha o significado do ensino e da prática musical na sua própria família.


Considerações mais diferenciadas não podem porém deixar de considerar as tensões internas na estreiteza de universos de vida dessa época da Restauração. O retiro à intimidade do lar foi acompanhado de forma paradoxal por anelos de superação desse mundo restrito, de fuga ou superação de seus limites, de procura da liberdade da natureza e de anseios de percorrer o mundo e de aventuras, o que a própria história de vida de Ida Pfeiffer testemunha.


Não só questões pessoais - a sua tendência abafada pelas convenções a modos de comportamento e atividades conotadas como masculinas, esportivas e soldáticas - mas também as próprias tensões internas da ordem européia restaurada no Congresso de Viena parecem explicar a decisão de Ida Pfeiffer de, já em fase avançada da vida, abandonar a sua vida doméstica para entregar-se a uma vida de viagens e aventuras, movida por infatigável desejo de conhecer outras regiões e situações. Pelo menos desde então não mais se dedicou ao piano.


Esses anseios de abertura e ampliação em décadas de Restauração, em parte em retomada de valores remontantes ao Iluminismo, tiveram a sua expressão, no mundo alemão, sobretudo no marco representado pela Revolução de Março de 1848. Dois anos antes, em 1846, Ida Pfeiffer iniciara a sua viagem ao redor do mundo aberta com estadia no Rio de Janeiro.


A organização das notas de viagem de Ida Pfeiffer no Rio de Janeiro deu-se dez anos após a fracassada Revolução de 1848, ou seja decorreu em época já com outros desígnios daquela de sua formação e mesmo de suas viagens ao Brasil, ao Madagáscar e a outros países.


As menções de suas experiências e atividades, também relativas à sua apresentação ao piano na Côrte do Madagáscar já surgiam sob o signo de época passada, de anterior geração. Anelos de superação desse mundo restrito da época da Restauração já se haviam feito há muito sentir no Rio, como testemunha a presença do pianista alemão Adolf Maersch que ali procurou novo ambiente de vida após a frustrada revolução de 1848. (Veja)


Marcados de forma assim complexa por modos de vida do Biedermeier, mas portadores de ímpetos esclarecedores e de abertura, tais estrangeiros vinham de encontro em parte a anseios de nacionais. Se estes estavam por um lado imbuídos de nostalgia e de procura de conservação de valores culturais que sentiam em perigo pelos desenvolvimentos do século, procuravam, por outro, a abertura, o conhecimento de novos desenvolvimentos técnicos e tendências da vida cultural e artística dos grandes centros.


Essa complexidade nos desenvolvimentos culturais do século XIX e que exige grande atenção diferenciadora deve ser considerada também no estudo de processos culturais em outras partes do mundo extra-europeu.


Como já considerado em ciclos de estudos desenvolvidos em diferentes contextos, como no Havai (Veja) ou na Polinésia (Veja), a primeira metade do século XIX foi marcada em diferentes esferas do mundo extra-europeu por contrárias tendências de abertura ao Exterior e reconscientização de valores culturais próprios sentidos como ameaçados.


Foi uma época de contraditórias atitudes perante os missionários que surgiam como principais agentes de transformações, mas, ao mesmo tempo de esforços de progresso interno e demonstração de desenvolvimento, do estar à altura dos grandes centros da civilização, o que exigiam a participação de potências mundiais e a recepção de novas conquistas da técnica.


No caso do Madagáscar, a época da visita de Ida Pfeiffer foi aquela por excelência da reação cultural sob a rainha Ravalona I ou Ramavo e Ranavalo (1778-1861), no trono desde 1828. Se sob o seu marido Radama I a influência européia, sobretudo britânica, levara a profundas transformações, em particular devido às atividades da Sociedade Missionária de Londres, a sua política foi restritiva relativamente à ação estrangeira e à missionação.


Ainda que repressiva e marcada por reafirmação, a sua política foi a de auto-imposição do Madagáscar em unificação através do predomínio dos Merina sobre outros grupos populacionais como um país desenvolvido, utilizando-se para isso de meios drásticos de trabalho forçado para a abertura de estradas, para a consecução de outras obras públicas e criação de um exército eficiente, o que não podia deixar de considerar desenvolvimentos internacionais.


O relato de Ida Pfeiffer testemunha não só a influência de Joseph-François Lambert (1824-1873),  o empreendedor francês que possibilitou a sua ida, como também o fato da rainha seguir com atenção desenvolvimentos europeus, em particular franceses. Assim, Ravalona I orientava-se segundo gravuras e ilustrações européias, delas tirando impulsos para os costumes e eventos da Corte. (Veja


Explica-se, assim, que esse empreendedor francês, que em política marcada por duplicidade tinha interesse em aumentar a sua já grande influência junto à soberana, tenha tido a idéia de oferecer-lhe um piano, o primeiro do país.


Um piano representativo da técnica mais avançada para Ravalona I: A.-F. Debain


Os extraordinários gastos e as dificuldades de transporte desse instrumento ao Madagáscar indicam o significado emprestado a esse presente. O piano escolhido era representativo de avançadas conquistas técnicas na construção de instrumentos na França.


Tratava-se de um piano da firma de Alexandre-François Debain (1809-1877) de Paris, um construtor de instrumentos que adquirira renome internacional pelas suas invenções inovativas. Atuando na Inglaterra de 1830 a 1834, país por excelência de desenvolvimentos técnicos e industriais, Debain desenvolvera essa sua capacidade inventiva, criando máquinas e complexos instrumentos automáticos, dedicando-se também à construção de órgãos.


Em Paris, passou à fabricação de pianos e pianos mecânicos, conseguindo impor-se em 1836, após um período de crise.

Com as suas invenções e o seu sucesso, Debain tornou-se reconhecido como homem de negócios e empregador. Em 1849, a produção da Debain & Cie foi reconhecida com uma medalha de prata na Exposição Universal de Paris, onde também participou, com concertos, o pianista Oscar Pfeiffer. (Veja)


Instrumentos híbridos e relações com a restauração religiosa do século XIX


Em 1842, patenteou um harmonium, de modo que Debain passou a ser considerado como inventor desse instrumento. Este foi desde então produzido em grande número, fato explicável devido à procura do instrumento em época de restauração religiosa e da expansão missionária no mundo extra-europeu. Significativamente, Debain criou o instrumento movido a manivela que denominou Antiphonel e que pareceia adequado para o acompanhamento do Canto Gregoriano. Os seus desenvolvimentos técnico-instrumentais correspondiam, assim, às exigências do movimento de recatolização na França, em particular também à restauração do Canto Gregoriano.


Em meados da década de 50, o salão de exposição de instrumentos de Debain era um dos maiores da capital francesa. A capacidade inventiva de Debain manifestou-se em instrumentos híbridos como o harmonicorde, no qual o harmonium é acoplado a um piano monocórdio, assim como no desenvolvimento da concertina.


O harmonicorde alcançou considerável popularidade na prática musical de salão ao redor de 1855, como o indicam obras de Lefébre-Wely e Alfred Lebeau, algumas delas dedicadas a musicistas da aristocracia (1835-1906)  (por ex. Clémence: polka mazurka; Souvenir du Château de Pin Op. 16, Les deux genres). Esse instrumento híbrido, assim como a composição de A. Lebeau „L‘appel des pâtres: pastorale pour piano et orgue Op. 34, indica os elos entre a música religiosa e a de salão em meados do século.


O instrumento enviado ao Madagáscar possuia assim também implicações religiosas, correspondendo ao catolicismo dos franceses na sua competição com o protestantismo dos missionários ingleses.


O piano na conquista de influência francesa na Côrte malgache


O presente à rainha representava assim o que havia de tecnicamente mais avançado da fabricação de instrumentos de teclado. É possível também que a qualidade do móvel e sua ornamentação tivessem desempenhado um papel na escolha, uma vez que os instrumentos Debain se caracterizavam pela sua aparência luxuosa.


Já em Paris, Joseph-François Lambert tinha tido notícia da intenção de Ida Pfeiffer de ir a Madagáscar. Na África do Sul, dispôs-se a possibilitar esse projeto, o que a viajante aceitou apesar das advertências por parte de autoridades inglesas. Tudo indica que a disposição do empreendedor em auxiliar Ida Pfeiffer tenha-se relacionado com o fato de ter conhecimento que dominara o instrumento e atuara como professora de piano na sua juventude. Assim, uma menção do seu relato indica que Ida Pfeiffer já tinha em Maurício conhecimento de que o francês havia presenteado a rainha do Madagáscar com um piano na sua primeira ida a Antananarive, mas que esta não o havia ainda escutado por faltar na Côrte alguém que o soubesse tocar.


Tratava-se de um piano que representava o espírito inventivo de Debain, pois, como Ida Pfeiffer menciona, não era tocado apenas com os dedos, mas executado também como um órgão a manivela ou realejo. Seria, segundo essa descrição, possivelmente um instrumento no qual as cordas não era percutidas com martelos, mas postas a vibrar, pelo que tudo indica um harmonicorde.


„Déjà Maurice M. Lambert m‘avait parlé de ce clavecin et m‘avait dit que la reine n‘en avait pas encore entendu jouer, et que ce serait sans doute pour elle une grande surprise.“ „(....) M. Lambert lui avait, la première fois qu‘il était venu à Tananariva, fait cadeau d‘un piano de Debain, de Paris. Cétait un de ces pianos qu‘on ne touche pas seulement avec les doigts, mais dont on peut jouer comme on joue d‘un orgue à manivelle, au moyen d‘une sorte de clef.“


Estudos de piano em Maurício como preparação à ida a Madagáscar



Como Ida Pfeiffer salienta no seu texto, ela tinha sido boa pianista na sua juventude, tinha porém abandonado a música há 30 anos. Esquecera todas as peças que dominara e, com sessenta anos, os seus dedos já não possuiam habilidade no teclado. Tocava pior do que qualquer criança que tivesse tido apenas alguns meses de apredizado Jamais teria imaginado ser um dia convidada à Corte de uma rainha para dar um concerto. Levando porém uma vida de viagens ao redor do mundo e de aventuras, encontrando-se frequentemente em situações das mais estranhas, tinha que estar para tudo preparada.


„Dans ma jeunesse, j‘avais été assez forte sur le piano, mais il y avait longtemps de cela. Depuis plus de trente ans j‘avais tout à fait abandonné la musique, et j‘avais tout oublié. Qui eût jamais pensé que je serais appelée un jour à a cour d‘une reine pour donner un concert, et à l‘age de soixante ans, quand je pianotais plus mal que ne font chez nous les enfants qui ont eu à peine quelques mois de leçons! Mais, quand on mène à travers le monde une vie aventureuse, on se trouve souvent dans les positions les plus étranges, et on doit etre préparé à tout.“


Ainda que não mencionado expressamente no seu relato, Ida Pfeiffer apenas podia ter-se preparado para a apresentação em Madagáscar durante a sua estadia em Maurício, uma vez que não havia outros instrumentos na grande ilha.


No seu relato, salienta como se esforçou com escalas e exercícios técnicos. Aprendeu de cór algumas valsas e melodias de danças fáceis e agradáveis, preparando-se para a apresentacão na Corte do Madagastar. Esse convite havia dado-lhe grande prazer, pois esperava, nessa ocasião, ser introduzida no interior do palácio e ter a „inapreciável felicidade“ de ver de perto a rainha, o que salienta com certa ironia. Essa menção indica assim que a apresentação do piano foi um fator de primeira importância para ser recebida na Côrte.


Je forçai à grand‘peine mes vieux doigts raides à faire des gammes et des exercices; j‘appris quelques valses et quelques airs de danse faciles et agréables, et, ainsi préparée, j‘osai affronter le jugement des sévères Aristarques de Madagáscar. Du reste, cette invitation me fit grand plaisir, car j‘espérais, à cette ocassion, être introduite dans l‘intérieur des appartements du palais et avoir le bonheur inappréciable de pouvoir enfin contempler de près Sa Majesté.


No seu relato sobre a execução, se depreende nunca ter visto o instrumento presenteado. Procurou, de início, com um pequeno prelúdio, tomar contato com as qualidades do instrumento. Assustou-se, porém, em encontrá-lo totalmente desafinado, percebendo também que muitas teclas não respondiam, não produzindo som, ainda que fortemente tocadas. A pianista tinha que levantá-las, pressioná-las, nelas bater, ou seja, empregar todos os meios imagináveis para tocar o instrumento.


No seu estilo irônico-jocoso, Ida Pfeiffer registrou que era num tal instrumento que devia dar um concerto na Corte. Nele realizou as evoluções mais audaciosas, batendo da melhor forma as teclas rebeldes. Tocou - sem vinculações e sem sequência - a primeira parte de uma valsa, a segunda parte de uma marcha, enfim, tudo o que lhe ocorreu. 


Teve a satisfação de ver a sua execução apreciada, obtendo gestos de aprovação e de agradecimento da rainha. O príncipe assegurou-lhe que todas as peças, e sobretudo as valsas, haviam sido bem recebidas e que a rainha dar-lhe-ia a honra de tocar para ela particularmente. Esse intento, porém, não chegou a ser realizado devido à conjuração descoberta pela rainha e na qual Ida Pfeiffer se encontrava envolvida.


A rainha enviou-lhe como prova do seu favor, um certo número de galinhas gordas e um grande cesto com ovos.


„Je me mis alors au piano, et je jouai un petit prélude pour apprendre à connaitre les mérites de mon instrument (pág. 200); mais qu‘éprouvai-je en le trouvant tellement mal accordé qu‘il n‘y avait pas une note de juste, et quand je m‘aperçus que plusieurs touches opposaient à la pression la plus forte le silence le plus obstiné! Il me fallut les lever, les presser, taper dessus, bref, employer tous les moyens imaginables pour les faire marcher. Et c‘est sur un tel instrument que je devais donner un concert! Mais le véritable génie de l‘artiste se met au-dessus de tout, et, électrisée par la pensée de montrer mon talent devant un public d‘amateurs si éclairés, je me mis à faire les roulades les plus raboteuses sur le clavier, à taper de mon mieux sur les touches rebelles, et à jouer sans suite et sans liaison la première partie d‘une valse, la seconde partie d‘une marche, bref, tout ce qui me venait à l‘esprit. J‘eus aussi em échange la douce satisfaction de voir mon talent généralement apprécié et d‘obtenir l‘approbation particulière et les remerciements de Sa Majesté. Le prince Rakoto alla jusqu‘à me donner la flatteuse assurance que tous mes morceaux, et surtout mes valses, avaient beaucoup peu à la reine, et qu‘elle m‘accorderait prochainement l‘honneur de jouer chez elle dans son palais. Si la malheureuse conjuration n‘était pas venue se jeter à la traverse, j‘aurais peut-être eu le bonheur de devenir la pianiste en titre de Sa Majesté la reine de Madagáscar!


Le même jour, Sa Majesté m‘envoya, en témoignage de sa très haute faveur, une certaine quantité de volailles grasses et un grand panier plein d‘oeufs.“ (pág. 201)




De ciclo de estudos da A.B.E.
sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo




Todos os direitos reservados

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.(Ed.). „O piano no Brasil e no Madagáscar. Um Débain para Ravalona I (1778-1861) no processo colonialista francês no Índico“.
Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 154/13 (2015:02).http://revista.brasil-europa.eu/154/Piano_no_Brasil_e_Madagascar.html


Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2015 by ISMPS e.V.
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501


Academia Brasil-Europa
Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)
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